GATO & SAPATO - CAPÍTULO 15
criada e escrita por SINCERIDADE
CENA 01: CASA DE JANETE/INT./DIA
NOÊMIA: Era a dona Violeta… mas não era ela!
Alyra franze a testa, intrigada.
ALYRA (se inclinando, curiosa): Como assim “não era ela”? Não tô te entendendo, Noêmia.
NOÊMIA: Era igualzinha a crocodila, mas os olhos, dona Alyra… os olhos eram de outro mundo. Não era ser humano, não! É um clone! Tem um clone medonho da crocodila circulando por aí!
Alyra se levanta, ainda processando o que acabou de ouvir.
ALYRA: Como assim, clone? Você tem certeza do que tá falando, Noêmia?
NOÊMIA (fazendo o sinal da cruz, assustada): Absoluta, patroinha! Eu vi com esses olhos que a terra há de comer… Tava paradinha lá no sótão, me encarando, parecia que ia me engolir viva! Deus é mais, não gosto nem de lembrar.
ALYRA (tensa, tentando raciocinar): Mas isso é impossível, Noêmia. Clone? Olha o que você tá falando…
NOÊMIA (teimosa): Pois a senhora pode achar o que quiser, mas eu não tô doida, não! Era a cara da Violeta, dona Alyra! Eu juro! Eu até achei que fosse a cobra tentando me assustar, mas a senhora me disse que ela teve na lanchonete, né… então ela não é.
ALYRA (respira fundo, se sentando): Mas isso não tem lógica, Noêmia. Clones não existem… enfim, nem sei o que pensar agora… e se for sei lá, alguma alucinação sua?
NOÊMIA: Oxente, dona Alyra, tá me chamando de drogada, é?
ALYRA: Não, Noêmia, não quis dizer isso, é que…
NOÊMIA (magoada): Engraçado que, eu sempre faço de tudo pela senhora e quando venho me abrir, a senhora simplesmente não acredita em mim… eu vou embora que eu ganho mais.
ALYRA: Noêmia, espera, eu não quis-
NOÊMIA (interrompe, firme, mas com voz embargada): Quis sim! Pois eu posso ser muita coisa, mas drogada eu num sou, não. Tudo bem que de vez em quando eu dou uns tragos, mas… (pausa, com lágrimas nos olhos) A senhora ainda vai ver… quando esse assunto vier à tona, vai se lembrar do que eu disse. Tchau.
Noêmia se vira, decidida a sair do interior da casa. Alyra, nervosa, corre atrás.
ALYRA: Noêmia! Espera aí! Ei!
A mocinha alcança Noêmia e pega em seu braço.
ALYRA (apreensiva, segurando o braço de Noêmia): Noêmia… não faz assim. Não foi minha intenção te magoar.
NOÊMIA (se solta, fazendo drama): Magoou sim! (Pausa) Eu sempre tive do seu lado, dona Alyra, sempre! Até quando a senhora tava insuportável, eu fiquei lá, firme e forte do teu lado… e agora a senhora me olha na cara e diz que eu tô alucinando?
ALYRA (culpada): Desculpa, Noêmia, não foi isso que eu quis dizer. Eu só fiquei assustada. É muita coisa acontecendo de uma vez só.
NOÊMIA: Eu só quero abrir teus zóio.
Alyra fica em silêncio, sem saber o que responder.
NOÊMIA (virando as costas, firme): Eu vou cuidar da minha vida… e a senhora que cuide da sua.
Noêmia dá dois passos, mas Alyra corre e segura sua mão.
ALYRA (com a voz embargada): Não fala assim, Noêmia… poxa, você é a única pessoa que eu posso confiar de verdade. Eu errei, eu sei… mas não fala que vai me deixar, não. Por favor (pausa) Eu preciso de você do meu lado… eu já perdi quase tudo o que tinha, e não quero perder você também. Mé desculpa, vai.
Noêmia respira fundo, encara Alyra e então se amolece, abrindo um sorrisinho de canto.
INSTRUMENTAL: O FUROR DE LUCRÉCIA - ALEXANDRE DE FARIA
NOÊMIA: Tá… Tá certo, patroinha. Eu fico. Mas não vá me chamar de drogada outra vez, senão eu juro que largo tudo e vou vender cachorro quente na praça, viu?
ALYRA (rindo): Boba. (Pausa) Mas, ó, eu quero você de olhos bem abertos a partir de agora, hein. Qualquer coisa estranha, qualquer movimento suspeito… você me fala na hora. Entendeu bem? Se esse clone aí realmente existir, nós vamos descobrir.
NOÊMIA (batendo no peito, orgulhosa): Pode deixar comigo, patroinha, ninguém me escapa. Muito menos esse treco estranho aí!
ALYRA (curiosa): Mas e aí… já pescou alguma novidade além dessa?
NOÊMIA (fazendo suspense): Novidade? Ôxe, eu tenho é várias! Mas a maior de todas… segura o coração, dona Alyra… Acredita que a crocodilinha tá de casamento marcado com o Rafael?
ALYRA (em choque): O quê?!
Nesse instante, a trilha aumenta, cobrindo as falas. A câmera se afasta lentamente, mostrando Noêmia gesticulando de forma exagerada, mexendo as mãos, imitando as falas e caras de Rúbia, enquanto fofoca. Alyra aparece imóvel, em puro estado de choque.
SONOPLASTIA: O GOLPE TÁ AÍ (REMIX) - CÉU, MALKA
Time-lapse mostra São Paulo anoitecendo e amanhecendo ao som da música citada
CENA 02: BELLA GLAMOUR/INT./MANHÃ
Em sua sala, Violeta roda sem parar na cadeira giratória, navegando pelas redes sociais. De repente, seus olhos se arregalam.
VIOLETA (incrédula): Mas o quê…
A câmera foca em seu celular, que está reproduzindo o vídeo dela sendo desmascarada na lanchonete, postado por Amélia em uma conta fake. Violeta entra em desespero e começa a ler os comentários, sem acreditar no que vê.
VIOLETA (lendo): “O mundo tá perdido!”, “Que mulher baixa, nunca mais compro os produtos da Bella Glamour.”, “Gente?? Cadê o CAPS essas horas?”, “A maior inimiga dela é ela mesma 🤡”, “O lixo do ser humano em forma de gente 🤢”, “Alguém avisa”, “A Fazenda tá perdendo uma participante dessas”, “Divassoura”, “Senta lá, Cláudia!”
VIOLETA (confusa): Meu Deus… mas quem é Cláudia?! (volta a ler, nervosa): “É de cair o c* da bunda.”, “Mds, o soro dela acabou.”
Furiosa, Violeta arremessa o celular contra a parede e solta um grito alto. Nesse instante, Rúbia entra apavorada e se depara com a cena.
RÚBIA: Você enlouqueceu?! Que mania é essa agora de sair arremessando tudo contra a parede?
VIOLETA: Ah, então você não viu ainda?
RÚBIA (se senta): Já. Já vi sim, e tenho todo o conhecimento do que tá acontecendo.
Rúbia encara a mãe seriamente.
RÚBIA: Olha só o que você fez, mãe… Olha só o monte de problema que a senhora trouxe pra gente e pra empresa. Eu vim até aqui justamente pra te dizer que já tem fornecedor querendo encerrar contrato. E quem sai perdendo nessa? A gente.
VIOLETA (tenta rir, disfarçando sua preocupação): Besteira! Isso aí é fogo de palha, daqui a pouco essa gente esquece. Brasileiro tem memória curta… daqui a pouco estão preocupados com o novo Big Lacre Brasil e preço da gasolina.
RÚBIA: Será mesmo? Você tá sendo cancelada nas redes sociais, mãe. Tem noção disso?
Violeta não responde, apenas permanece olhando fixamente para um ponto vazio.
VIOLETA (séria, gélida): Isso tudo é culpa dela. Tudo culpa da Alyra! (se levanta abruptamente, furiosa) Esse videozinho aí deve ter sido obra daquela cobra.
RÚBIA (explode, exausta):.CHEGA! JÁ DEU! Onde é que vocês vão parar com essa guerrinha de educação infantil, hein?! (pausa, respira fundo, baixa o tom) Eu também não suporto a Alyra, mas vamos combinar? A senhora deu todos os motivos pra ser atacada desse jeito!
VIOLETA (encara, ofendida): Como é que é?
RÚBIA (direta, firme): Fraudar documento, contratar falso engenheiro pra demolir a lanchonete, implantar rato no meio da inauguração... quer que eu continue? A senhora mesma cavou esse buraco, mãe. Levou a sério demais um pequeno ranço pela sua enteada. Aliás, que ódio todo esse pela a Alyra, hã? Porque desde que me entendo por gente você já falava mal dela, mesmo sem conhecê-la pessoalmente.
VIOLETA: Vai se bandear pro lado daquela lá?
RÚBIA: Eu não tô me bandeando pro lado de ninguém, apenas quero saber a verdade. Tudo bem que a Alyra é arrogante, mimada, se acha um Deus na terra, mas acho que isso não é motivo pra odiar uma pessoa, sem ela ter feito nada. Não gosto dela também, confesso, mas meio que me deixei levar pelo seu ódio e quis ter um lado. Mas sinceramente, a Alyra nunca me fez nada…
VIOLETA (com expressão de decepção, ódio contido): Eu sabia… eu sabia que você iria se voltar contra mim também, Rúbia. Você tá se mostrando cada vez mais uma pessoa sonsa, sem personalidade.
RÚBIA: Ah, sem personalidade? Ser verdadeira agora é ser sem personalidade? Você não me respondeu, mãe. Não me respondeu a pergunta que te fiz sobre a Alyra. Porque tanto ódio dela? Responde que eu quero saber!
Ainda calada, Violeta se senta na cadeira e respira fundo, sem olhar nos olhos de Rúbia, prestes a desabafar.
VIOLETA (se senta novamente): Alyra sempre teve tudo… estudou em escola cara, teve as melhores roupas, comeu do bom e do melhor, nunca precisou se preocupar com a vidinha mansa que levava. Enquanto isso, eu tinha que me contentar com a merreca que recebia do Olavo mensalmente… O meu ódio por ela cresceu mais ainda quando vi que ela se parecia com Adelaide, a mãe dela, que faleceu pouco tempo depois da Alyra nascer… Os olhos, o jeito de falar, tudo me lembra ela.. tudo. AH!
RÚBIA (curiosa, séria): E qual foi a causa da morte dessa tal Adelaide?
INSTRUMENTAL: SUSPFREUD - MU CARVALHO
VIOLETA (pensa por alguns segundos antes de falar e se levanta): Não me venha com perguntas difíceis, Rúbia. (Pausa) Eu não quero mais falar disso! Acabou! Chega de falar dessa família!
RÚBIA: Que estresse é esse? Eu só te fiz uma pergunta.
VIOLETA (perde a paciência): Eu já disse que não quero mais falar sobre! Olha aqui, se não for pra tratar sobre os problemas da Bella Glamour, que por sinal, estão maiores que esse prédio, é melhor você sair dessa sala!
RÚBIA (baixa, se levantando): Tudo bem.
Ela se vira de costas para a mãe, mas se lembra de algo que esqueceu de dizer, e se vira novamente.
RÚBIA: Só toma mais cuidado com as suas atitudes.
As duas se encaram por alguns segundos e Rúbia se retira, deixando Violeta pensativa e um pouco ofegante. Ela passa as mãos sobre a testa, como sinal de exaustão e raiva contida.
SONOPLASTIA: SUPERMASSIVE BLACK HOLE - MUSE
Assim que a música é colocada no ar, imagens aéreas de São Paulo surgem. O sol ilumina a Avenida Paulista com intensidade, e num time-lipse, ele se põe, dando espaço para mais uma noite que começa.
CENA 03: AP. DE RAFAEL/INT./NOITE
Rafael, sem camisa e apenas de cueca, está deitado em sua cama de casal, ao lado de Verinha, que veste uma camisola preta, curta, de cetim. Os dois riem alto, rolando pela cama, se divertindo de algo que Verinha acabou de contar.
RAFAEL (rindo, sarcástico): Mas que ideia espeldorosa! Ratos na lanchonete… Violeta se superou dessa vez, hein?
VERINHA: A ideia foi todinha do meu primo. Olha, eu A-M-E-I a cara de enterro que a Alyra fez quando viu que a reinauguração daquela espelunca tava fracassando. (pausa) Foi um escarcéu! Gente caindo, gritando, desmaiando… Pena que quase fomos pegos e tivemos que sair correndo. E foi aí que deixamos a Violeta pra trás e… enfim, deu no que deu.
RAFAEL: Ela brigou com você?
VERINHA: Claro. Me xingou, me esculhambou e disse que eu estava demitida da Bella Glamour… Quero mais é que ela vá pro raio que o parta!
RAFAEL (desmanchando a expressão): Como?
VERINHA: Pois é, aquela malucona simplesmente me demitiu porque eu e meu primo deixamos ela lá, pra ser desmascarada na frente de todo mundo. Mas foi sem querer, eu juro. Por mais que eu não suporte aquela mulher, eu-
RAFAEL (interrompendo): Não, pera aí, cê tá me falando que foi demitida da Bella Glamour? (ele se lavanta, começando a se alterar) Meu Deus, mas como você é burra!
VERINHA: Oi?
RAFAEL: Verinha, você não podia ter brigado com a Violeta. Ela já tava ganhando sua confiança, sua anta! Mais um passo e, PIMBA! Você se tornaria melhor amiga da megera.
VERINHA: Ué, benhê, o principal eu já consegui, que era ajudar a Violeta a acabar com a Alyra.
RAFAEL: MEU DEUS! Eu pensava que você era desprovida de inteligência, Verinha, mas agora… eu tenho certeza.
VERINHA (se levanta e se lembra de algo): Nossa… ai, eu esqueci completamente do outro plano. Meu Deus, que burra eu fui! E agora, hein?
RAFAEL: Calma. Tá? Agora não adianta mais se lamentar e chorar pelos cantos. A única solução no momento é você se humilhar pra Violeta e tentar reaproximação. (pausa) Agora é o momento da gente aproveitar que a Bella Glamour tá passando por perrengues e agir. Não temos mais tempo a perder de jeito nenhum.
VERINHA: Tá, mas a gente vai fazer o quê?
INSTRUMENTAL: SUSPENSE ETHEREO #1 - MU CARVALHO
RAFAEL: Bom, a Rúbia me disse que depois que o tal vídeo lá vazou, a empresa já perdeu dois fornecedores e também corre o risco de perder patrocínio. Mas claro que isso vai passar em questão de dias, e é isso que eu não quero que aconteça…
VERINHA: Prossiga, mô.
RAFAEL: Você vai se reaproximar da Violeta e vai conseguir seu emprego de volta. E depois que isso acontecer, vai ficar muito mais fácil de você falsificar alguns documentos e me passar informações sigilosas que até então só ocorrem lá dentro da Bella. Eu vou fazer a empresa afundar, chegar até o fundo do poço, e depois, quando já estiver casado com a Rúbia, vai ser muito mais fácil eu me oferecer pra ser o “salvador da pátria”, já que nenhuma delas entende de negócios e a Violeta crê que eu sou milionário, homem de influência e que entende de tudo.
VERINHA: Tá, e aí?
RAFAEL: E é aí que você entra novamente. Com a sua ajuda e do advogado, claro, vai ser muito mais fácil fraudar algum documento que Rúbia assine sem saber que está passando toda a parte dela pro meu nome de forma definitiva. (pausa) Eu vou conseguir chegar lá, Verinha. Rúbia e Violeta que me perdoe, mas eu não tô pra brincadeira.
VERINHA: Tudo bem, Mozão, mas e a parte da Violeta? Se Rúbia passar a parte dela, Violeta continua tendo direito a 50%, não?
RAFAEL (olhando fixamente para um ponto aleatório, frio): A gente vai ter que tirar a Violeta do nosso caminho.
Com o instrumental ainda no ar, a câmera se aproxima do rosto do vilão lentamente, alternando com Verinha, séria.
CENA 04: CASA DE JANETE/INT./NOITE
Amélia Maria se encontra rindo no sofá, enquanto olha os comentários do vídeo de Violeta sendo desmascarada. A porta se abre e Alyra entra, percebendo as gargalhadas da prima.
ALYRA: O que foi? Será que eu posso rir também?
AMÉLIA (rindo): MENINA CORRE AQUI! OLHA ISSO! OLHA. Eu tô morrendo com esses comentários.
Alyra se aproxima, apoia o queixo no ombro de Amélia e passa a ler os comentários junto com ela.
ALYRA (lendo e rindo): “Megera insuportável” “Ela é a própria ratazana de saia”. Meu Deus! Violeta cavou a própria cova mesmo hein? Mas isso vai ser bom pra ela aprender. Já passou da hora da vida dar uma sacudida nela.
AMÉLIA: Eu racho! (pausa) Vem cá, mas e você, hein? Chegou toda feliz, toda sorridente…
ALYRA (sorri, com os olhos brilhando): Eu tava com o Silas… ele me levou pra assistir uma peça de teatro. Foi incrível.
Nesse momento, Janete se aproxima, segurando um envelope lacrado com expressão séria.
JANETE (se aproximando, estendendo o envelope): Alyra, achei isso na frente da porta quando cheguei. Está com o seu nome.
ALYRA (com estranheza): Meu nome?
A mocinha pega o envelope das mãos da tia e, com expressão curiosa, começa a abri-lo. Dentro, encontra uma folha em branco, sobre a qual está colada uma frase formada por recortes de revista.
ALYRA (lendo, assustada): “Eu sei quem matou seu pai. E a próxima pode ser você. Cuidado, princesinha.”
INSTRUMENTAL: AMBIÇÃO INFINITA - RAFAEL LANGONI, NANI PALMEIRA
O instrumental sobe. Janete e Amélia se assustam junto com a mocinha, que treme, e ainda assustada com a folha em mãos, começa a lacrimejar.
CONGELAMENTO EM ALYRA.
Encerramos o capítulo 15 ao som de “Can’t Tame Her - Zara Larsson”.
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