O PREÇO DA VIDA
Criada e Escrita por: Luccas Sanza
Capítulo 05
CENA 01. HOSPITAL PARTICULAR. CONSULTÓRIO. INT. DIA.
ODILA — (GÉLIDA, CHORANDO)
Doutor… isso pode ser um engano, né?Vocês podem ter confundido as pessoas, não podem? Por favor… me diz que foi um engano. Por favor!
MÉDICO — (SERENO, FIRME) Eu gostaria que fosse, Odila… Mas revisamos seus exames três vezes. Não há nenhuma dúvida. Cada resultado, cada dado… é cem por cento seu.
Silêncio. O tempo parece prender a respiração junto com ela.
ODILA — (EM COLAPSO CONTIDO) Isso não é possível… Não pode estar acontecendo comigo…
Ela se levanta bruscamente, cambaleando. O som dos saltos ecoa no chão frio, quebrando o silêncio.
ODILA — (PAUSA. UM SOPRO DE DESESPERO) Por quê?…
A voz falha. O rosto desaba, e de repente — ela explode:
ODILA — (GRITA, EM PRANTO) POR QUÊ?! QUE MERDA!
O grito rasga o ar. O eco toma conta da sala, reverberando pelas paredes brancas.
Ela respira ofegante, o peito subindo e descendo com força. A câmera se aproxima devagar, em close — o batom borrado, as lágrimas salgadas caindo sobre a pele pálida.
O médico observa em silêncio, respeitando o colapso. Odila encara o nada, como se tentasse encontrar uma fresta de realidade.
ODILA — (VOZ QUASE APAGADA) Eu dei tudo de mim pra vencer… E agora o que sobra? Um corpo que me trai?
Ela olha para o chão — e uma lágrima cai sobre os exames abertos na mesa.
A câmera foca na gota, se espalhando sobre o papel — o nome Odila Blond borrando levemente, como se o destino se desfizesse ali.
Corte para:
CONTINUÓ — HOSPITAL PARTICULAR. CORREDOR. INT. DIA.
A porta se abre devagar. Odila surge — o rosto banhado em lágrimas, o olhar perdido, sem foco.
A câmera acompanha em slow motion. Os saltos ecoam no piso branco — toc... toc... toc... — até que o som começa a se desfazer, engolido pelo silêncio.
Plano fechado no rosto: o rímel escorrido, a boca entreaberta, o peito subindo e descendo num ritmo descompassado. Ela para. Por um instante, parece não saber onde está. As mãos tremem, buscando algo no ar. Odila encosta-se à parede fria.
A textura lisa contrasta com a pele quente e trêmula. A câmera gira lentamente ao redor dela — o mundo perde o som, o corredor se alonga, como se o tempo tivesse se partido.
Plano detalhe: — As pontas dos dedos deslizando pela parede. — Uma lágrima isolada caindo do queixo e estourando no chão. — O peito arfando. — Um suspiro profundo, quase sufocado.
A luz branca da clínica reflete nas lágrimas como fragmentos de vidro. Odila fecha os olhos, respira fundo, tentando conter o corpo que insiste em desabar. Ela permanece ali — imóvel, vulnerável, sustentando-se na parede como quem se apoia na própria ruína.
Plano fechado. Close extremo no rosto — uma lágrima escorre lenta, atravessando a pele até desaparecer no canto dos lábios.
Corte para:
CENA 02. HOSPITAL PÚBLICO “UPA”. QUARTO. INT. DIA.
Luz do dia entra pelo quarto, riscando o chão com listras douradas. Edna está deitada, respirando com dificuldade. Fabinho segura a mão dela, tentando passar força.
EDNA — (VOZ FRACA) Você veio mesmo… mesmo sabendo que podia estar em outro lugar… Mas veio. Isso já diz muito, Fabinho… mostra que ainda existe gente que se importa.
FABINHO — Dona Edna… eu não podia deixar de vir… o Júlio sempre fala da senhora… e eu… eu não ia conseguir não estar aqui.
EDNA — (RESPIRA FUNDO) Júlio… meu menino… ele vive se metendo em confusão… e eu… eu não consigo protegê-lo de tudo… Mas você… você pode. Pode ficar perto dele… quando ele vacilar…
Bip do Monitor: acelerando.
EDNA — Fabinho… me promete… cuida do Júlio… mesmo que eu não consiga…
O bip dispara estridente. Fabinho grita.
INSERT — LUGAR BRANCO / DIMENSÃO ENTRE VIDA E MORTE
Plano aberto. Edna flutua em um espaço branco, silencioso, chão refletindo como água.
EDNA — (CONFUSA) Onde… eu estou?
VOZ MASCULINA — (PROFUNDA, CALMA) Você está no limiar, Edna… entre o que se despede e o que ainda precisa existir.
EDNA — Eu… meu coração… parou… eu morri?
VOZ MASCULINA — Não. Morreu apenas o medo que te prendia. Mas sua missão ainda não terminou. Há alguém que precisa de você… alguém que só você pode proteger.
EDNA — (SUSSURRA) Quem?
VOZ MASCULINA — Seu filho… o Júlio. Ele corre perigo… e nem imagina. Cada passo que ele dá fora de sua vista, cada decisão que ele toma… ele precisa de você.
Plano detalhe. lágrimas descem pelo rosto dela.
VOZ MASCULINA — Você sente que partiu, que tudo acabou… mas a vida não se despede assim. A vida… pede sua coragem, Edna. Ela pede que você volte.
EDNA — Mas… como? Eu… eu não sei se consigo…
VOZ MASCULINA — Você consegue. Porque amor de mãe… amor verdadeiro… é a única força capaz de atravessar o limite entre a morte e a vida. Você vai voltar… e quando voltar, será para proteger o que ainda precisa ser protegido.
PLANO MÉDIO: luz envolvendo Edna, suave, pulsando como batimentos.
VOZ MASCULINA — Salve o seu filho, Edna… faça-o voltar quando ele se perder. Segure-o quando ele vacilar. Diga o que ele precisa ouvir, mesmo antes que ele saiba. Faça ele acreditar que há sempre alguém cuidando dele… e esse alguém é você.
EDNA — (DETERMINADA, VOZ FIRME) Eu volto… eu não posso deixá-lo sozinho…
VOZ MASCULINA — Então vá… e lembre-se: cada batida do seu coração que volta à vida, é mais uma chance que você tem de salvar o que importa. Não falhe, Edna… e nunca duvide do que o amor pode fazer.
Luz envolve Edna completamente. Fade out do espaço branco. O desfibrilador toca seu peito.
MÉDICO — 1… 2… 3… choque!
MONITOR: linha reta, silêncio tenso.
MÉDICO — Outra vez!
FABINHO — (DESESPERADO) Não… não agora!
MÉDICO — 1… 2… 3… choque!
MONITOR: BIP… BIP… BIP…
ENFERMEIRA — Pulso!
MÉDICO — Ritmo estabilizado!
Close em Fabinho, ele segura a mão de Edna, chorando, gritando de emoção.
FABINHO — Obrigado… obrigado por ela estar aqui… por ela ter voltado!
Close em Edna. leve sorriso, batimentos regulares.
EDNA — (SUSSURRANDO PARA SI MESMA) Eu volto… e vou proteger meu filho… custe o que custar…
Plano Detalhe. desfibrilador pronto, Fabinho segurando a mão de Edna com força, lágrimas escorrendo.
VOZ MASCULINA (OFF) — Não tenha medo, Edna… cada segundo que passa aqui ainda é seu… cada batida perdida pode voltar… basta você querer voltar.
EDNA — (SUSSURRA, FRAQUEJANDO) Eu… eu quero… mas… dói… tudo dói…
VOZ MASCULINA — Dói porque você ainda sente… ainda ama… e é exatamente isso que vai trazer você de volta. Segure essa dor… transforme em força… transforme em vida.
Plano médio. médicos aplicam choque, luzes piscando, alarme disparando.
FABINHO — (GRITANDO) Dona Edna! Eu tô aqui! Luta! Por favor… não me deixa agora!
VOZ MASCULINA — Ouça-o… ele precisa de você… ele acredita em você mesmo sem saber. Você volta por ele… e por si mesma. Cada batida que você recuperar, é mais tempo pra proteger quem ama.
SLOW MOTION: close nas mãos dela apertando a de Fabinho, mesmo que fraca.
EDNA — (ENTRE SUSSURROS) Eu… eu volto… vou proteger… vou cuidar…
VOZ MASCULINA — Exatamente… cada respiração, cada batida, cada célula do seu corpo… concentre-se em voltar. Não se entregue à escuridão. A escuridão aqui não é o fim… é só o teste…
Corte, monitor. linha reta, silêncio absoluto, tensão máxima.
VOZ MASCULINA — Abra os olhos, Edna… abra os olhos para a vida que ainda precisa de você. Não se prenda ao que passou… ao que poderia ter sido… tudo ainda está aqui… esperando por você.
MÉDICO — 1… 2… 3… choque!
Plano detalhe. close no rosto de Edna, olhos piscando, suor escorrendo.
VOZ MASCULINA — Sinta a vida retornando… sinta o pulso do mundo chamando por você… escute o que Fabinho, o Júlio, todos que você ama estão implorando sem palavras… volte…
MONITOR: bip… bip… bip… volta lentamente ao ritmo.
ENFERMEIRA — Temos pulso!
MÉDICO — Ritmo estabilizado!
Plano fechado em Fabinho, ele cai de joelhos, segura a mão dela, soluçando de alívio.
FABINHO — Obrigado… obrigada… por voltar… por lutar…
Close em Edna. respira fundo, olhos abertos, olhando para Fabinho. Um sorriso leve, mas cheio de vida.
EDNA — (SUSSURRANDO) Eu… voltei… e vou proteger meu filho… custe o que custar…
VOZ MASCULINA (OFF, DISTANTE AGORA) — Isso… você voltou… lembre-se… a vida sempre dá outra chance… use-a bem.
Plano aberto. luz da manhã. ilumina o quarto, batimentos estáveis, Fabinho ao lado dela. Silêncio carregado de emoção.
Corte para:
ABERTURA
CENA 03. PENSÃO DE CLARA. SALA. INT. TARDE.
Júlio está sentado na janela, fumando um cigarro. A câmera, em mão, balança levemente, seguindo Camilla que se aproxima devagar, silenciosa, sem que ele perceba.
Quando ela chega bem perto, Camilla dá um leve grito ou bate no ombro dele de repente. Júlio se assusta, quase derruba o cigarro, os olhos se arregalam. Ele se vira rápido, surpreso, e ela solta um sorriso travesso.
JÚLIO — (ASSUSTADO, RINDO NERVOSO) Caramba, garota! Quase você me mata do coração!
CAMILLA — (IRÔNICA, SORRINDO) Da devendo, é? Mas relaxa… eu vi você aí, fumando seu cigarrinho.
Tem um aí pra me dar, ou vai guardar só pra você?
JÚLIO — E tu é de maior, garota? Pra fumar cigarro?
CAMILLA — Dezenove… e por que essa curiosidade, hein?
JÚLIO — Garota, você não é nova demais pra… tá fumando, não?
CAMILLA — Nova demais pra fumar? Meu querido, com 15 anos eu nem era mais virgem… fumar não é nada demais.
JÚLIO — Quinze anos você já estava transando? Caramba… com quinze eu ainda brincava de carrinho! Essa geração de vocês é bem adiantada, hein?
Camilla se aproxima devagar, fechando a distância entre eles. Ela desliza a mão pelo peito de Júlio, por cima da roupa, explorando cada músculo com um toque provocativo.
CAMILLA — Nossa, Júlio… você é bem fortinho, hein? Que peitoral, e esses braços…
JÚLIO — (SORRINDO, PROVOCATIVO) Tu é bem safadinha, né garota? Gosta mesmo de brincar com fogo, né?
CAMILLA — (ENCOSTANDO MAIS PERTO, VOZ BAIXA e ROUCA) Sabia… desde que te vi pelado naquele banheiro, não consigo tirar você da cabeça. Todo molhado… fico cheia de tesão só de lembrar.
JÚLIO — (ARQUEANDO A SOBRANCELHA, SURPRESO) Sério mesmo? Não sabia que você ficava pensando nessas coisas…
A câmera handheld acompanha cada passo de Camilla enquanto ela se aproxima de Júlio. A luz da janela ilumina o rosto dela, revelando o brilho malicioso nos olhos. Ela para a poucos centímetros dele, inclinando o corpo, respirando fundo.
CAMILLA — Eu penso muito mais do que isso, Júlio… não é só fantasia, sabe?
CAMILLA — CHEGA MAIS PERTO DO OUVIDO DELE, VOZ BAIXA E ROUCA, QUASE UM SUSSURRO) Eu fico imaginando… você me comendo firme, me botando do jeito que eu gosto… me fazendo gozar, como ninguém nunca fez!
Júlio sente o calor dela e percebe a intensidade do olhar que não desvia. Camilla se inclina mais, aproximando o rosto do dele, e morde levemente os lábios dele, provocando um arrepio.
CAMILLA — (AFASTA O ROSTO LIGEIRAMENTE, MANTENDO O CONTATO VISUAL, SORRINDO COM MALÍCIA) Gostoso…
A câmera handheld acompanha cada movimento de Camilla, lenta e calculada. Ela desliza a mão pelo peito de Júlio, sentindo a firmeza dos músculos, descendo pela barriga até a cintura, deixando um rastro de tensão no ar.
Seus dedos encontram a caixa de cigarro no bolso da frente do short dele. Com um sorriso malicioso, ela a pega com delicadeza, provocando um leve arrepio em Júlio enquanto aproxima o isqueiro.
Camilla acende o cigarro e leva aos lábios, inalando a fumaça com um gesto sensual, os olhos fixos em Júlio, carregados de malícia e provocação. A luz da janela ilumina o contorno de seu rosto e do corpo, enquanto a câmera alterna closes nos movimentos das mãos, nos lábios e no olhar intenso.
O ambiente parece carregado de eletricidade; cada gesto de Camilla, cada suspiro e cada olhada no corpo de Júlio aumenta a tensão, deixando o momento carregado de desejo.
A câmera handheld segue Camilla enquanto ela se vira e sobe lentamente para o quarto. Cada passo é medido, o balanço dos quadris capturado em closes sutis.
Júlio permanece na sala, encostado, os olhos fixos nela. Um sorriso torto se forma no canto da boca, divertido e satisfeito com a provocação que acabou de receber.
A câmera alterna entre o rosto de Júlio e os passos de Camilla subindo, captando a tensão no ar e a antecipação que permanece, carregada de desejo e energia entre os dois.
O plano se abre sobre o céu azul do Rio de Janeiro. Arranha-céus rasgam a paisagem urbana, refletindo o sol que bate sobre a cidade.
A câmera faz um travelling lento, revelando a Igreja da Penha imponente no alto do morro, sua silhueta marcando a cidade com majestade.
A transição corta para a orla: a Praia de Copacabana, com suas ondas quebrando suavemente, guarda-sóis coloridos e a multidão aproveitando o calor do dia.
O mar brilha sob a luz do sol, enquanto a câmera sobrevoa o calçadão, captando o movimento pulsante da cidade, a mistura de turistas, cariocas e a energia inconfundível do Rio.
CENA 04. MANSÃO BLOND. SALÃO. INT. TARDE.
Eva está sentada no sofá, inquieta. As mãos tremem sobre o joelho, o olhar perdido, respirando fundo para conter a ansiedade. A porta se abre com um estalo. Maggie surge, ofegante, com uma mala em uma mão e uma mochila pendurada no ombro. Ela se esforça para sustentar Estevão, completamente bêbado, que mal consegue ficar de pé.
A câmera acompanha o trio em plano sequência — o peso da mala arrastando no chão, o tropeço de Estevão, o olhar tenso de Eva se erguendo.
Um silêncio pesado preenche o ar antes que qualquer palavra seja dita.
EVA — (EM CHOQUE) Maggie, que cê tá fazendo aqui?
E o Estevão, ela tá bêbado? E esse cheiro horrível. Da pra dizer o quê tá acontecendo nessa casa!
MAGGIE — Uma história longa, não dá tempo pra contar olha aliás eu não te devo satisfação da minha vida e quando ao Estevão eu encontrei ele bêbado caído no centro do Rio.
Estevão, ainda bêbado, cambaleia pela sala. Tropeça, quase cai, e se apoia no braço esquerdo de Eva. Ela o encara, olhos fixos e assustados, o silêncio cortando o ar entre os dois.
ESTEVÃO — (FORA DE SI, A VOZ EMBARGADA) Eu… eu matei ele… apareceu do nada, bem na minha frente… eu tentei frear, juro que tentei… mas não deu tempo. (CHORA, A RESPIRAÇÃO PESADA) Eu tava bêbado… não vi nada… só ouvi o barulho… depois o corpo no chão… e o sangue…
Close no rosto dele — olhos marejados, vermelhos, perdidos.
A câmera treme levemente, captando a confusão, o arrependimento e o horror que tomam conta de Estevão.
EVA — (NERVOSA, EM CHOQUE, ANDANDO DE UM LADO PRO OUTRO) Meu Deus do céu, Estevão… o que que você fez?! Você tem noção do tamanho disso?
(ELA PASSA AS MÃOS NO ROSTO, RESPIRA FUNDO, SEM CONSEGUIR PENSAR DIREITO) — Se o Rog descobre… se ele descobre, você tá morto, cê tá me ouvindo? Ele te mata sem pensar duas vezes!
ESTEVÃO — (TRÊMULO, DESESPERADO) Eu sei… eu sei, Eva… eu não queria… eu juro por Deus que não queria!
EVA — (VOZ TENSA, OLHANDO PRA ELE FIXAMENTE)Cala a boca! Agora não é hora de jurar nada, é hora de pensar! (APROXIMA-SE DELE, FIRME, SUSSURRANDO COM RAIVA CONTIDA) você vai ficar quieto. Ninguém pode saber disso, entendeu? Nem uma palavra. Se o Rog sentir cheiro dessa história, ele acaba contigo.
A câmera fecha em Eva — o olhar gelado, o coração disparado. Ela respira fundo, tenta se recompor, mas a tensão no ar é quase física.
Close no rosto de Estevão, perdido, com lágrimas escorrendo, enquanto o som de um relógio distante marca o tempo — lento, sufocante.
MAGGIE — (NERVOSA, CARREGANDO A MALA) Eu vou pro quarto da minha mãe. Vocês dois precisam se entender… do jeito de vocês.
Maggie caminha até a escada, a mala pesada em uma mão, a mochila no ombro. Seus passos ecoam pelo corredor silencioso.
Close nos pés dela subindo degrau por degrau, o ritmo pesado, quase ritualístico.
Eva e Estevão permanecem na sala, imóveis, respirando pesadamente. O silêncio aumenta, carregado de tensão.
Plano geral. Maggie some pelo patamar superior, deixando Eva e Estevão sozinhos, a atmosfera quase elétrica, o peso do que aconteceu pairando sobre eles.
EVA — (RESPIRANDO FUNDO, ENFURECIDA) Você não entende, Estevão? Isso não é um jogo! Você matou alguém e… e ainda chega bêbado aqui, como se nada tivesse acontecido!
ESTEVÃO — (TRÊMULO, TENTANDO SE EXPLICAR) Eu… eu não queria, Eva… Eu juro que não queria! Foi um acidente! Eu…
EVA — (CORTANDO-O, PASSANDO AS MÃOS PELO ROSTO, IRRITADA) Acidente?! Acidente?! Você sabe o que isso significa?! Você tem ideia do que Rog vai fazer se descobrir? Do que ele vai fazer com você?!
Ele recua, cambaleando levemente, a culpa e o medo estampados no rosto. Ela se aproxima dele, firme, olhos fixos nos dele.
EVA — (SUSSURRANDO, RAIVA CONTIDA) Agora você fica quieto. Nem uma palavra. Ninguém pode saber, nem uma! Se alguém sentir cheiro dessa história… você está acabado, Estevão. Entendeu?
Ele assente, lágrimas escorrendo pelo rosto, o corpo quase encolhido pelo peso da culpa.
A câmera alterna closes: Eva determinada, Estevão perdido. O silêncio entre eles cresce, pesado, carregado de eletricidade e medo.
ESTEVÃO — (SUSSURRANDO, PRATICAMENTE MURMURANDO) Eu… eu fico quieto… prometo…
EVA — (OLHANDO FIXAMENTE, FIRMEMENTE) Promete. Sem mais nada.
Um tique do relógio distante. O tempo parece se arrastar.
Plano geral: os dois no centro da sala, imóveis, respirando pesadamente. O clima é quase palpável, a tensão sufocante, o passado recente — e o futuro incerto — pairando entre eles.
Corte para:
CENA 05. PLANOS GERAIS. RIO DE JANEIRO. EXT. DIA/NOITE.
Sonoplastia - Nosso primeiro beijo - Gloria Grove
O sol desce por trás das casas coloridas do morro. Crianças brincam, motos passam, buzinas ecoam. O céu muda do laranja ao rosa.
Cortamos para praia de Ipanema. Ondas quebram suavemente. Surfistas ainda aproveitam a luz dourada refletida no mar. Pessoas caminham, vendedores circulam. O céu vai tingindo tons de roxo.
Na Central Do Brasil, ônibus e trens lotados, passageiros apressados. Luzes da estação acendem. Close em mãos segurando barras do ônibus, olhares cansados mas atentos.
O sol desaparece atrás do Pão de Açúcar. Luzes da cidade se acendem. Arcos da Lapa iluminados, música distante começa a tomar conta da noite.
Corte para:
CENA 06. MANSÃO BLOND. SALA DE JANTAR. INT. NOITE.
Todos estão sentados à mesa, jantando em silêncio. A ausência de Odila pesa no ar, um espaço vazio que parece ecoar. O relógio na parede marca 21h48.
A mesa é extensa, quase infinita, repleta de pratos e taças que captam a luz suave do lustre. Cada gesto, cada olhar, parece amplificado pelo silêncio, transformando o jantar em um instante carregado de expectativa e tensão.
Odila chega imponente, cada passo pesado, tentando manter a postura impecável. A câmera se aproxima lentamente de seu rosto; cada linha de tensão, cada respiração contida é captada. Seus olhos encontram Maggie — e, de repente, o tempo parece congelar.
A câmera corta para Maggie. Nos olhos de Odila, ódio e dor se misturam, como se seu coração fosse perfurado por lembranças impossíveis de apagar.
Dentro da cabeça de Odila, apenas os ecos do passado retornam, cortantes e dolorosos:
MAGGIE (V.O.) — Para! Para! Me larga! Socorro… alguém me ajuda! Não… eu não aguento…
GUZMÁN (V.O.) — Grita! Ninguém vai ouvir… Isso é só o começo, Cherrie…
Cada grito, cada palavra, reverbera como um trovão dentro dela. Maggie se levanta, firme, avançando, ficando frente a frente com Odila. O olhar de Maggie é puro ódio, acusador, e Odila, mesmo tentando sustentar a fachada, mostra que o controle é apenas superficial. A câmera fecha nos olhos dela, captando a mistura de raiva, dor e impotência que a consome. Cada respiração é sufocante; cada segundo, uma eternidade de lembranças e dor que ela não consegue ignorar.
ODILA — (GÉLIDA) Mas... o que você tá fazendo aqui, minha filha?
O silêncio pesa. Maggie dá um passo à frente. O olhar dela é fixo, duro. O peito sobe e desce com a respiração acelerada.
Sem dizer uma palavra, Maggie acerta um tapa violento no rosto de Odila. O som do golpe ecoa pela sala.
Instrumental: Boi tenso - Iuri Cunha
Odila fica imóvel. A bochecha dela fica vermelha, marcada. Os olhos, arregalados, vacilam por um instante — é a primeira vez que alguém a atinge daquela forma.
Todos à mesa ficam em choque. Ninguém se move. O som do relógio preenche o vazio. Maggie encara a mãe, com a voz trêmula e o olhar cheio de lágrimas contidas:
MAGGIE — (ENTRE ÓDIO E DOR) Você não tem mais o direito de me chamar assim!
Odila continua imóvel, a mão ainda no rosto. O orgulho tenta mascarar o abalo, mas os olhos dela tremem — por dentro, algo se quebra.
Corte para:
CENA 07. RUA AMBRÓSIO PAIXÃO. TIJUCA. EXT. NOITE.
A rua está silenciosa, apenas o som distante de cães e o vento entre árvores secas. Lâmpadas piscam de forma irregular, lançando sombras longas sobre o chão irregular.
Camilla caminha rápido, abraçando a bolsa contra o corpo. Seus passos ecoam, rápidos e nervosos. Ela olha para os lados, inquieta, engolindo o medo que sobe pela garganta.
O som de moto corta o silêncio. Ela se vira: um vulto escuro surge ao longe, acelerando. Seu coração dispara.
A moto faz um retorno abrupto, aproximando-se dela. O piloto, com capacete refletindo a luz da rua, ergue a arma. O brilho metálico reluz à luz trêmula da lâmpada.
Camilla engole em seco, seus olhos se arregalam, mãos trêmulas seguram a bolsa com força. O mundo parece congelar por um instante, o vento morre, só o som do motor retumbando nos seus ouvidos.
ASSALTANTE — (AMEAÇADOR, APONTANDO A ARMA) Joga a bolsa no chão, agora! Isso é um assalto!
CAMILLA — (TREMENDO, IMPLORANDO) Moço, por favor… não atira! Pelo amor de Deus, não atira!
ASSALTANTE — (AMEAÇADOR) Cala a boca e joga a merda da bolsa no chão!
Camilla vê uma pedra grande no chão. Com um gesto rápido, finge obedecer, abaixando-se como se fosse largar a bolsa. Num movimento ágil, pega a pedra e acerta a cabeça do assaltante. Ele cai, atordoado.
Sem hesitar, Camilla sai correndo pela rua deserta, respirando pesadamente, o coração disparado.
ASSALTANTE - Vagabunda desgraçada! volta aqui!
Ele sobe na moto, acelerando. camilla olha para trás, o pânico se espalhando pelo corpo, o coração batendo descompassado. Seus pés mal tocam o chão enquanto ela corre mais rápido, tentando desesperadamente ganhar distância.
CAMILLA — (DESESPERADA, GRITANDO) socorro! alguém me ajuda! estou sendo assaltada!
O assaltante dispara. O tiro racha a traseira de um carro, estilhaçando o vidro em pequenos fragmentos que refletem a luz trêmula da rua. Camilla pula para o lado, respirando com dificuldade, o olhar buscando alguma saída.
corte para:
júlio, no portão da pensão. Ele ouve os gritos, o corpo congelando em choque, os olhos arregalados. Reconhece a voz de camilla e dispara em corrida pelo caminho.
voltamos para camilla, que se encontra em um beco sem saída. O assaltante aparece logo atrás, a arma firme, o olhar frio.
CAMILLA — (TENTANDO ACALMAR A SITUAÇÃO) calma… vamos conversar. eu faço o que você quiser.
ASSALTANTE — cala a boca, sua piranha! você tá de marola com a minha? agora vai descansar debaixo da tábua!
Camilla recua, encurralada, os olhos procurando desesperadamente qualquer objeto que possa usar para se defender, enquanto o som da moto e da respiração pesada do assaltante domina o beco silencioso.
O assaltante aponta a arma para ele, o dedo pronto para apertar o gatilho.
De repente, Júlio surge e acerta uma barra de ferro nas costas do assaltante. O impacto é brutal: o assaltante cai no chão, derrubando a moto junto. Poeira e faíscas sobem, o metal rangendo contra o asfalto, enquanto ele tenta se recompor, atordoado.
Camilla respira fundo, ainda tremendo, os olhos arregalados, observando a cena do outro lado do beco.
JÚLIO — (AMEAÇADOR) Otário, covarde que pega mulher sozinho. Se você é homem de verdade, faz na mão, seu merda!
O assaltante se levanta e desferi um soco em júlio. O supercílio de júlio começa a sangrar. Sem hesitar, júlio revida com um soco mais forte, atingindo o assaltante no rosto. Ele cambaleia. Júlio acerta outro soco, derrubando o assaltante no chão com o nariz quebrado.
O assaltante pega a arma no chão e a aponta para júlio. Antes que pudesse atirar, camilla acerta sua cabeça com um pedaço de madeira, fazendo-o desmaiar instantaneamente.
No mesmo instante, sirene ao longe se aproxima. A polícia chega, descendo das viaturas com as armas apontadas, iluminando a rua deserta com os faróis.
Camilla e júlio respiram pesadamente, olhando ao redor, ainda em choque, mas aliviados por terem sobrevivido
ESTAMOS APRESENTANDO
VOLTAMOS A APRESENTAR
CENA 08. PENSÃO DE CLARA. SALA. INT. NOITE.
Camilla está sentada no sofá, celular na mão esquerda. Júlio se senta à sua frente, apoiando o braço sobre o encosto. Ela aperta o botão de chamada de vídeo, conectando-se com sua mãe, Clara.
CLARA (V.O.) — Filha, vai ficar tudo bem aí? Depois desse assalto… meu Deus, cada dia o Rio tá mais perigoso! Vou desligar, vou tentar dormir agora, tá?
Camilla respira fundo, ainda tremendo levemente.
CAMILLA — Mãe… se não fosse o Júlio naquela hora, eu não sei o que teria acontecido comigo. Mas vai dormir, tá? Beijo, se cuida.
CLARA (V.O.) — Tá bom, minha filha. Amanhã eu chego cedo aí, tá? Se cuida… tchau!
Camilla desliga o celular. Ela se inclina para frente, pega álcool e gaze e começa a limpar cuidadosamente o corte no supercílio de Júlio. Ele fecha os olhos, respirando fundo, sentindo o alívio e a dor misturados.
O silêncio da sala é quebrado apenas pelo som da gaze passando pelo corte. Eles trocam olhares, um misto de tensão ainda presente, mas também de conexão e cuidado silencioso.
Corte para:
Camilla e Júlio estão sentados frente a frente no sofá. Ela segura álcool e gaze, cuidadosamente limpando o corte no supercílio dele.
CAMILLA — Amanhã eu tenho que ir à delegacia prestar depoimento… não sei como vou conseguir dormir depois de tudo isso.
JÚLIO — Eu vou com você, se quiser. Não precisa passar por isso sozinha de novo.
Ela respira fundo, aproximando-se mais para limpar melhor o ferimento. A mão dela, ainda com a gaze, toca suavemente o lado do rosto dele, roçando levemente a pele ao redor do corte. Júlio inclina a cabeça, permitindo que ela limpe, os olhos deles se encontram por um instante — profundos, atentos, cheios de tensão silenciosa.
CAMILLA — Eu ainda não consigo acreditar no que aconteceu… aquele assaltante, a arma… eu fiquei com tanto medo…
JÚLIO — Eu sei… mas você reagiu rápido, foi inteligente. Eu só fiquei no caminho certo na hora certa.
Ela passa a gaze com cuidado, os dedos quase tocando o cabelo dele ao ajeitar os fios para limpar o sangue. Júlio se aproxima involuntariamente, o olhar fixo nos lábios dela. A proximidade aumenta lentamente, a respiração se tornando mais rápida.
Sem perceber, Camilla se inclina mais, e Júlio responde instintivamente. Primeiro, um beijo leve e hesitante, lábio contra lábio. Depois, o beijo se intensifica: Júlio acaricia a face dela, deslizando pelos cabelos; Camilla segura o rosto dele, firme, como se não quisesse se soltar.
Seus corpos se inclinam juntos no sofá, respirando pesadamente, olhos fechados. Cada gesto da limpeza — os dedos que tocam a pele, a mão que segura o rosto, a proximidade que aumenta — alimentam a tensão e o desejo contido, reforçando a conexão intensa entre eles.
Close extremo nos lábios deles, quase em câmera lenta: cada respiração, cada toque, o calor dos lábios se misturando. Os cílios de Camilla tremem, uma mecha de cabelo cai sobre o rosto de Júlio, e ele a afasta delicadamente, apenas com a ponta dos dedos. Cada detalhe do beijo — lábio, respiração, pele encostando — parece congelado no tempo.
O ambiente ao redor desaparece: o sofá, a luz da sala, o celular desligado sobre a mesa, tudo se dissolve. Só existem eles, o calor e a respiração compartilhada. Cada batida do coração, cada suspiro ecoa como um som próprio, intenso e absoluto.
CORTE RÁPIDO – FIM DO CAPÍTULO
A novela encerra seu quinto capítulo ao som da sonoplastia: Caju - Liniker (Tema de Júlio e Camilla)

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