O PREÇO DA VIDA
criada e escrita por: Luccas Sanza
Capítulo 09
CENA 01. RIO DE JANEIRO. PLANOS GERAIS. EXT. DIA.
O Rio de Janeiro pulsa em vibração.
Carros e ônibus lotados cruzam a Presidente Vargas, enquanto o som das buzinas se mistura ao burburinho da manhã.
A Sapucaí, vazia e dourada pelo sol, anuncia apenas mais um dia caótico começando.
A praia de Copacabana desperta cheia de vida — crianças correm pela areia, vendedores gritam seus pregões, o mar reflete o brilho quente do verão.
Os Arcos da Lapa resplandecem imponentes sob a luz do sol, enquanto o bonde amarelo atravessa preguiçoso entre as sombras dos prédios antigos. Corte seco. Uma delegacia no centro da cidade.
Corte para:
CENA 02. DELEGACIA. CELA. INT. DIA.
Sirenes ecoam ao fundo enquanto a câmera explora lentamente o corredor insalubre. Cortamos para uma cela iluminada pela brecha do sol.
Em um corte rápido, vemos Estevão sentado no canto da cela — triste, pensativo.
A câmera foca em seu rosto e se aproxima devagar.
FLASHBACK (Capítulo 02)
O carro atinge o homem. O para-brisa estilhaça.
Sangue escorre. O carro derrapa, descontrolado.
Estevão para. Respiração ofegante, mãos trêmulas, o pulso pulsando.
ESTEVÃO — O que eu fiz? O que eu fiz?!
Corte rápido: Estevão sai do carro.
O homem está no chão, agonizando, sangue espalhado pelo asfalto.
HOMEM — (fraco, quase sussurrando) Socorro... alguém... ajuda...
Close nas mãos de Estevão sobre a cabeça, tremendo. Ele dá um passo atrás, paralisado.
A câmera o segue enquanto ele corre de volta para o carro, respiração pesada.
FIM DO FLASHBACK
A câmera permanece no rosto dele, em planos fechados, enquanto um ruído distante — alguém chamando — começa a ecoar. O som aumenta, até revelar a voz de uma policial.
POLICIAL (OFF) — Estevão... seu pai tá aí querendo te ver!
ESTEVÃO — Meu pai...?
POLICIAL — É agora. Levanta!
A policial destranca a cela. Estevão se levanta. Ela o algema e o conduz. Cortamos para a sala de visitas.
CONTINUÓ. SALA DE VISITAS. INT. DIA.
Estevão entra na sala. Rog está de costas. A tensão é palpável no ar.
Lento, Rog se vira — o olhar cheio de fúria encontra o de Estevão, envergonhado, trêmulo.
ESTEVÃO — Pa... pai... o que o senhor está fazendo a-aqui?
Rog se aproxima devagar, imponente, até ficarem cara a cara. O silêncio pesa.
De repente, com um movimento rápido e violento, Rog desfere um soco no rosto de Estevão. O impacto ecoa pela sala.
Estevão cai no chão, o sangue escorre pelo canto da boca. O som das algemas batendo no piso metálico quebra o silêncio.
ROG — (FURIOSO) Como você pôde esconder de mim... que matou alguém, moleque?!
Close em Estevão. Ele chora, humilhado, o olhar perdido, sem força para responder.
A câmera permanece nele, plano fechado, o som ambiente abafado — apenas o eco da respiração e o sangue pingando no chão.
Corte para:
ESTAMOS APRESENTANDO
VOLTAMOS A APRESENTAR
O ar é denso. A luz entra pelas grades, recortando as sombras no chão.
Rog está de costas, rígido. Estevão entra, hesitante, as algemas tilintando. A policial fecha a porta atrás deles.
Um silêncio. A respiração dos dois é o único som.
ESTEVÃO — Pa... pai? O senhor aqui?
Rog se vira devagar. O olhar é puro desprezo. Estevão engole seco.
ROG — (FRIO) Então é isso que sobrou do meu filho. Um assassino.
ESTEVÃO — Não fala assim… eu não quis — foi um acidente!
ROG — (CORTA, GRITANDO) Acidente?! Você matou um homem, Estevão! E ainda tentou esconder isso de mim! Você não tem ideia da vergonha que eu passei quando soube pela imprensa!
Estevão se aproxima, emocionado.
ESTEVÃO — Vergonha?! O senhor se preocupa mais com o nome da família do que comigo! Eu sou seu filho!
ROG — (IRÔNICO) Meu filho? Você deixou de ser isso quando destruiu tudo o que restava da sua mãe!
O golpe emocional é certeiro. Estevão sente o chão sumir sob os pés.
ESTEVÃO — (VOZ EMBARGADA) O senhor ainda joga isso na minha cara... até hoje? Ela morreu, pai! A culpa não foi minha!
ROG — (GRITA) Foi, sim! Ela se acabou tentando te salvar desse caminho que você escolheu! E no fim, olha pra você! Preso! Um fracasso, igual ao que sempre temi que virasse!
ESTEVÃO — (SE DESCONTROLA) O senhor nunca tentou me entender! Desde moleque eu só ouvia grito, cobrança, humilhação! Eu errei, mas pelo menos eu sinto alguma coisa! O senhor não sente nada! Nem amor, nem culpa, nem perda!
Rog se aproxima devagar, o olhar gelado.
ROG — Sabe o que eu sinto, Estevão? Nojo. Nojo de ver o que você se tornou.
ESTEVÃO — (GRITA, LÁGRIMAS CAINDO)
E eu sinto raiva! Raiva de ter um pai que só aparece pra me pisar! O senhor é um merda, Rog! Um merda de pai!
O silêncio pesa. A tensão corta o ar.
A câmera fecha no rosto de Rog — o maxilar trincado, a respiração pesada.
Um passo.Dois. A distância entre eles some.
Plano detalhe. A mão de Rog se ergue. Corte rápido. um estalo seco preenche a sala.
O tapa é forte. A câmera mostra apenas o rosto de Estevão virando com o impacto.
O som ecoa. Ele cai de costas, algemado, o ar fugindo dos pulmões.
Plano fechado. Lágrimas misturadas ao sangue no canto da boca.
ROG — (FORA DE SI, GRITANDO) Você me destruiu! Me fez passar vergonha! Você é a vergonha da minha vida, moleque!
ESTEVÃO — (VOZ TRÊMULA, NO CHÃO) E o senhor… é um covarde…
Rog para. O ódio dá lugar ao vazio.
A câmera gira em torno dele — o rosto tomado por culpa, silêncio e desespero.
Plano detalhe. a mão de Rog tremendo.
Ele encara a própria mão, como se só agora entendesse o que fez.
ROG — (SUSSURRANDO) ...meu Deus... o que eu fiz...
A policial observa da porta, imóvel.
Rog passa por ela, sem olhar, sai do ambiente.
Plano fechado. Estevão no chão, a luz das grades recortando seu rosto. A respiração trêmula, o olhar perdido. Silêncio absoluto.
Corte para:
CENA 03. PENSÃO DE CLARA. SALA. INT. DIA.
O sol entra pelo corredor iluminando o chão.
Júlio segura o celular com força, respirando devagar, tentando disfarçar a ansiedade.
ODILA (V.O.) — Não precisa, meu amor… eu já chamei um carro pra te buscar! Hoje eu quero você só pra mim. Gostoso!
JÚLIO — Tá… tá bom, eu espero o carro. Chega, tá linda! Beijo, tchau!
Ele guarda o celular.
Edna sai de trás do corredor, observando.
Ela dá um tapinha nas costas dele, firme.
EDNA — Tava falando com quem aí, meu filho?
JÚLIO — Tava arranjando um free-lance pra eu fazer.
EDNA — (TOSSE SECA) Onde é esse free-lance, Júlio?
JÚLIO — (MENTINDO) Ah… ah… mãe… ele fica… fica em Deodoro, perto da estação de Deodoro.
EDNA — Ata, tá bom saber.
O carro preto espera na rua. Júlio entra pelo banco de trás, ajustando a mochila, nervoso.
PLANO FECHADO — Edna observa o carro se afastar.
O sorriso desaparece, o olhar dela endurece. Atrás dela, o som de uma moto acelerando.
Ela sobe na garupa, determinada.
EDNA — Moço, segue aquele carro preto! Agora!
MOTOTAXISTA — Mas senhora…
EDNA — Não discute! Vai!
A moto dispara. O carro segue pela Rua Conde de Bonfim, atravessando a Tijuca, rumo à Lagoa Rodrigo de Freitas.
o carro passa por ruas movimentadas, carros, pedestres e o sol refletindo nas fachadas, criando tensão visual.
ESTAMOS APRESENTANDO
VOLTAMOS A APRESENTAR
CENA 04. LAGOA RODRIGO DE FREITAS. EXT. DIA.
O carro preto contorna a Lagoa, o sol refletindo na água, iluminando os prédios e as árvores ao redor. Júlio no banco de trás, inquieto, mexe no celular e olha pela janela.
De repente, uma figura surge correndo na frente do carro. Plano detalhe. o motorista freia bruscamente. O carro derrapa levemente.
O impacto é mínimo, mas suficiente para Maggie tropeçar e bater levemente em um caminhão estacionado. Ela cai, respira fundo, confusa e brava. Júlio arregala os olhos, pálido.
JÚLIO — (GRITANDO, DESESPERADO) Ei! Você tá bem? Por favor, me diz que tá bem! Eu não tava olhando direito, eu juro, eu não podia prever que alguém ia aparecer na rua assim… Por favor, levanta, fala comigo, eu tô falando sério, você não se machucou, né?
Maggie se ergue rapidamente, respirando fundo, encarando Júlio com raiva e desconfiança.
MAGGIE — (GRITANDO, FURIOSA) Você tá falando sério? Você quase me matou! Você tinha ideia do que podia acontecer? Do perigo que você me colocou? Você entra nesse carro como se estivesse andando no quintal de casa e não olha pra frente, não presta atenção em nada, e ainda tem a coragem de me falar agora que “não podia prever”? Sério, você acha que isso é brincadeira?
JÚLIO — (TENTANDO SE CONTROLAR, GESTICULANDO) Olha, eu entendo que você tá brava, e com razão! Eu sei que errei, sei que poderia ter acontecido algo sério… Mas eu juro que não tinha como ver você! Eu tava distraído, eu tava pensando em outra coisa, eu tava mexendo no celular, e eu só queria chegar aqui sem problemas… e agora você tá aí, no chão, me olhando com raiva… E eu não quero que você pense que eu fiz isso de propósito!
MAGGIE — (AINDA DESCONFIADA, CRUZANDO OS BRAÇOS) Desculpas… Desculpas não resolvem nada. Você não me conhece, e mesmo assim quase me atropelou! E se eu não tivesse conseguido sair do caminho a tempo? Você nem pensou nisso! Nem um segundo!
JÚLIO — (MAIS CALMO, OLHANDO DIRETO PARA ELA) Eu sei, eu sei… e é por isso que eu tô aqui tentando me explicar! Eu não quero que você me odeie antes mesmo de me conhecer! Eu não quero começar com o pé errado! Eu só… eu só quero que você entenda que não foi intenção, que eu não vim aqui pra machucar ninguém… muito menos você!
Plano fechado. os olhos de Maggie, ainda desconfiados, começam a revelar um pouco de interesse, curiosidade e confusão.
MAGGIE — (MAIS BAIXA, QUASE SUSSURRANDO) Você é… completamente louco. Sério. Mas eu ainda tô viva, então… acho que você pode ter alguma chance de se explicar melhor. Mas se fizer besteira de novo, não vai ter desculpa que salve.
JÚLIO — (ALIVIADO, SUSPIRA) Obrigado… obrigado por me ouvir. Eu prometo que não vai acontecer de novo.
Plano Geral. Edna e o mototaxista chegam à altura do carro. Ela observa tudo à distância, olhos fixos em Júlio no banco de trás.
O vento bagunça o cabelo dela, o olhar fixo e calculista.
EDNA — (TENSA) Eu tô de olho em você, Júlio. Cada passo, cada movimento… hoje eu vou saber exatamente o que você tá aprontando.
O carro começa a se mover novamente. Júlio olha para Maggie, tentando se aproximar e explicar.
JÚLIO — (FALANDO COM FIRMEZA, GESTICULANDO) Olha, eu sei que você não me conhece, mas eu não vim aqui pra causar problemas… Eu só precisava de alguém que entendesse a situação e pudesse me ajudar. Eu sei que você pode estar pensando que eu sou irresponsável, que eu não devia me meter nesse tipo de confusão, mas eu não tive escolha! Eu não podia ficar parado e ver tudo desmoronar sem tentar fazer alguma coisa!
MAGGIE — (OLHAR SÉRIO, CRUZANDO OS BRAÇOS) Você fala como se eu fosse sua amiga de infância, mas eu nem sei seu nome direito… E ainda assim você acha que eu vou confiar em você assim, do nada?
JÚLIO — Eu sei… parece loucura, e eu provavelmente tô pedindo demais… Mas se você me ouvir, se você me der só alguns minutos, eu posso explicar tudo. Pode ser que você não goste, pode ser que você não acredite… mas pelo menos você vai saber a verdade, tudo que eu tô tentando resolver.
A moto de Edna acompanha o carro, ficando mais próxima, o som do vento e do trânsito domina a cena.
MAGGIE — (SUSPIROS, OLHANDO PARA JÚLIO) Tá… tudo bem, mas eu vou ouvir cada palavra sua, e se eu perceber que você tá escondendo alguma coisa, se tá mentindo, você vai se arrepender.
JÚLIO — (ALIVIADO) Eu prometo… nada de mentiras. Eu só quero que você me entenda.
Plano Detalhe. Os reflexos do sol na água da Lagoa iluminam os rostos de Júlio e Maggie.
O clima é tenso, mas uma ponte de entendimento começa a surgir.
o carro segue contornando a Lagoa, a moto de Edna ainda próxima, como uma sombra vigilante, enquanto o trânsito, o sol e a água formam um quadro cinematográfico perfeito.
Corte para:
CENA 05. PENSÃO DE CLARA. CORREDOR/ESCADA. INT. DIA.
Plano geral. a sala iluminada pelo sol da manhã.
Camilla está sozinho, apoiado na parede, respirando com dificuldade, a mão na barriga, visivelmente tonto.
CAMILLA — (VOZ TRÊMULA) M-mãe… ajuda… Ele respira fundo e dá o primeiro passo em direção à escada, cambaleando. Tenta segurar o corrimão, mas as mãos tremem e escorregam.
CAMILLA — (GRITANDO) Mãe! Socorro! O corpo de Camilla balança para frente. Ele pisa no segundo degrau e tropeça, a cabeça se inclina levemente para trás, os braços se estendem tentando se equilibrar.
A ponta do joelho bate no degrau, fazendo um som seco, e ele solta um gemido baixo. O corpo rola levemente para o lado, os braços ainda buscando algo para se apoiar.
Suas costas batem contra o degrau seguinte, ecoando pela escada. O corrimão passa raspando pelos dedos, mas ele não consegue segurar. Ele desliza rapidamente, os pés tocando cada degrau com um som abafado.
No último movimento, Camilla atinge o chão. O impacto faz o corpo tremer levemente e ele fica imóvel por alguns segundos, respirando com dificuldade.
Plano detalhe. Close nas mãos ainda tocando o chão, dedos levemente contraídos, tremendo. O suor escorre pelo rosto, e o cabelo bagunçado mostra o esforço e dor da queda.
Plano Geral. Camilla está deitada ao pé da escada, a luz do sol entrando pela janela iluminando parcialmente o rosto pálido. O silêncio absoluto domina o ambiente, apenas a respiração fraca de Camilla ecoando.
CORTE RÁPIDO — FIM DO CAPÍTULO
A novela encerra seu nono capítulo ao som da sonoplastia: Delícia/Luxúria - Sophia Chablau (Tema original de abertura)
EM DEZEMBRO, UM DOS MAIORES SUCESSOS DA LACRETV CONTINUA
criada e escrita por: Sinceridade
"GATO E SAPATO"


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