O PREÇO DA VIDA
Criada e Escrita por Luccas Sanza
Capítulo 04
CENA 01. OPÉRA DE PARIS. SALÃO PRINCIPAL. NOITE.
Plano geral: lustres de cristal refletem luz dourada sobre os convidados. O letreiro digital anuncia: PARIS – 1 HORA ANTES DA MORTE DE GUZMÁN.
O mestre de cerimônias sobe ao palco:
MAÎTRE DE CÉRÉMONIE — Mesdames et messieurs, bienvenue à la remise du Prix d’Excellence de la Clinique Blonder! Aujourd’hui, nous honorons un homme whose vision et leadership ont transformé notre institution. Veuillez accueillir le président de la Filian de la Clinique Blonder… Guzmán Leblanc!
A plateia explode em aplausos. Guzmán, 62 anos, caminha com firmeza até o microfone, troféu reluzente nas mãos, sorriso confiante, mas os olhos carregam a intensidade de um homem obcecado.
GUZMÁN — Merci… merci beaucoup. Receber este prêmio é um grand honneur. La Clinique Blonder… minha vida inteira, minha visão, minha amizade de longue date com Odila… tudo se refletiu nesse trabalho. Transformei desafios em conquistas, obstáculos em oportunidades, et graças à minha dedicação… conseguimos alcançar excelência.
Ele faz uma pausa, olhando para os convidados. Câmera alterna entre closes dele e reações da plateia: aplausos contidos, sorrisos, olhares admirados.
GUZMÁN — Muitos disseram que eu não conseguiria, que jovem demais, et parfois cruel demais… mas la vérité, a verdade, é que liderança exige coragem, determinação… e parfois… obsessão. Sim, porque para proteger o que é valioso, é preciso ir além do comum.
A câmera foca no olhar dele, que se volta brevemente para uma das filas da plateia. Um pequeno brilho de possessividade surge quando ele olha na direção de Maggie, que permanece imóvel, respirando fundo.
GUZMÁN — Hoje, la Clinique Blonder est reconnue internacionalement. Cada conquista, chaque innovation… reflete o trabalho árduo de minha equipe… e, devo admitir, minha própria visão incansável. Eu guiei, inspirei, corrigi… e, às vezes, amei com intensidade o que deveria apenas proteger.
O público aplaude. Guzmán ergue o troféu, luz refletindo nos olhos calculistas. Ele sorri, se inclina levemente, como quem guarda um segredo sombrio.
GUZMÁN — Receber este prêmio também é lembrar que decisões difíceis fazem parte da vida. Quem vê de fora só enxerga o glamour… mas eu sei o que significa lutar, controlar, e às vezes… desejar intensamente aquilo que não poderia ser meu.
Ele olha para Maggie, câmera fechando no rosto dela: olhos firmes, respiração contida, a tensão crescendo a cada palavra.
GUZMÁN — Et maintenant… je veux inviter quelqu’un qui connaît notre histoire de près… quelqu’un qui a partagé momentos difficiles à mes côtés, et qui a grandi sous ma protection… Maggie Leblanc.
Close em Maggie, passos firmes subindo ao palco. Cada passo ecoa, respiração pesada. Luzes focam nela, silenciando a plateia.
Maggie para diante do microfone, observa Guzmán. O silêncio é quase sufocante. Ela respira fundo, a câmera alterna entre os olhos dela e o rosto confiante de Guzmán, que sorri levemente, sem perceber que a noite será seu fim
MAGGIE — Merci… merci à tous… Je me sens honorée d’être ici ce soir. Guzmán… depuis que je suis petite, eu vi sua dedicação. Você transformou a Clinique Blonder em referência, um farol de excelência em meio à escuridão. Cada decisão, cada desafio que enfrentou… refletiu coragem, visão, e… uma paixão por proteger aquilo que considerava valioso.
Ela sorri brevemente, a plateia aplaude cordialmente. A voz dela é firme, mas ainda carregada de emoção.
MAGGIE — Guzmán… je sais que vous avez toujours voulu le meilleur para todos aqui. Eu vi seu esforço, seu trabalho incansável. Sua visão nos guiou, inspirou a equipe, e… devo admitir… também me inspirou a ser forte, mesmo quando tudo parecia impossível.
Ela faz uma pausa, a câmera fecha nos olhos de Guzmán, que agora observa com curiosidade e orgulho.
MAGGIE — Você sempre foi… encantador, perspicaz, et… à sua maneira… um homem impressionante. Hoje, diante de todos, eu reconheço sua habilidade, sua força e sua determinação.
O sorriso de Guzmán se amplia, ainda confiante, sem perceber a tensão crescente.
MAGGIE — Mais… mais eu não posso mais mentir. Je dois dire… a verdade precisa ser conhecida. Guzmán… você nunca me amou como eu deveria ser amada. Você me observou crescer… desde que eu tinha quinze anos… e seu desejo por mim não era proteção… era possessão. Um desejo doentio, e… eu fui sua moeda de troca.
O silêncio toma a sala. O brilho do troféu já não reflete mais admiração, mas choque.
MAGGIE — Odila, minha própria mãe, me obrigou a me casar com você. Pour elle, eu era apenas uma alavanca, um contrato, algo que pudesse fortalecer sua influência, seu poder. Meu casamento… não foi escolha, não foi amor… foi uma fachada, uma prisão dourada.
Guzmán se mantém imóvel, os olhos arregalados, a expressão começando a transparecer raiva e incredulidade.
MAGGIE — Durante nossa lua de mel… fui violada. Eu não estava só sendo controlada… eu estava sendo destruída, e tudo isso, silenciosamente, sob o seu olhar e o dela. Cada sorriso seu, cada gesto público… mascarava a verdadeira monstruosidade que escondia em casa.
Ela respira fundo, o silêncio da plateia é absoluto. Cada palavra ecoa no salão de cristal.
MAGGIE — Hoje, eu não estou aqui apenas para falar do seu “mérito” ou das conquistas da clínica. Je suis ici pour dire la vérité. Eu sobrevivi, aprendi a lutar, e não permitirei que mais ninguém seja enganado pelo seu charme… pelo seu poder… ou pela sua mentira.
Ela ergue o olhar, encarando Guzmán diretamente. A tensão é palpável, cada câmera captando o momento exato em que a máscara dele começa a cair.
MAGGIE — Cada abuso, cada manipulação, cada gesto de posse… terminou hoje. Você pode ter sido poderoso na clínica, mas não pode mais esconder seu verdadeiro eu. Je refuse d’être sua vítima… et jamais mais alguém será.
A plateia começa a sussurrar, alguns recuando. Guzmán treme, o troféu escorregando de suas mãos. Maggie dá um passo adiante, segura o microfone com firmeza, voz firme e penetrante.
MAGGIE — E é por isso que… Guzmán Leblanc… eu vou terminar com tudo que você construiu de ilusão. Hoje, não é apenas a verdade que fala… é justiça. Et la justice, monsieur… não pode ser comprada, não pode ser escondida, não pode ser silenciada.
O salão se enche de murmúrios. Guzmán encara Maggie, agora reconhecendo que perdeu o controle da situação. A câmera fecha no rosto de Maggie, determinado, forte, vitorioso em seu próprio modo, e em seguida alterna para o choque, incredulidade e raiva de Guzmán.
O lustre de cristal brilha sobre os convidados, mas o clima mudou. A glória e o glamour da ópera agora contrastam com a verdade devastadora que Maggie acabou de expor.
A plateia está em silêncio absoluto. Maggie encara Guzmán, respirando fundo, segurando o microfone com força.
GUZMÁN — Non… non… c’est… mentira! Mentira! Vous mentez, Maggie! Você está inventando tudo! Eu… eu nunca… jamais… faria isso!
Ele dá um passo à frente, os olhos faiscando raiva, a respiração curta. A câmera foca nos punhos dele, cerrados, e na mão de Maggie, tremendo, mas firme no microfone.
GUZMÁN — Vous osez… me acusar assim, devant tout le monde? Você está destruindo minha vida, minha reputação! Eu sou presidente da Filian Blonder! Je… je suis quelqu’un de respecté!
Maggie mantém o olhar firme, a voz cortante:
MAGGIE — Guzmán… c’est la vérité. Você não pode mais esconder isso. Eu não vou mais ser sua moeda de troca, não vou mais ser controlada.
Guzmán, completamente fora de si, avança abruptamente e dá um soco no rosto de Maggie. O impacto ecoa no salão. O sangue escorre pelo rosto dela, o microfone cai com um baque metálico.
Maggie cambaleia, tropeça e cai no chão, segurando o rosto ensanguentado. A plateia murmura em choque, alguns levantam, outros recuam, assustados.
GUZMÁN — Vous mentez! Você não pode falar assim de mim! Eu… jamais faria isso! Vous ne pouvez pas…
Maggie, ainda no chão, sente a dor, mas sua determinação é maior. Ela se levanta rapidamente, cambaleando, e começa a correr pelo palco. A câmera a acompanha em plano lateral, captando a velocidade, o sangue escorrendo e o pânico no salão.
GUZMÁN — Arrête! Arrête-toi! Vadia!
Ele a persegue, passos pesados ecoando no palco, a respiração ofegante misturada com os sussurros da plateia. Cada passo dele transmite perigo iminente. Maggie corre entre colunas e candelabros, a luz da ópera refletindo no sangue e na fúria de Guzmán. O microfone permanece caído, como símbolo do poder e da verdade sendo quebrados.
Olhos arregalados, coração disparado, sangue misturado ao suor. Ela sabe que precisa escapar, mas a presença de Guzmán é opressiva, como uma sombra que avança a cada passo.
FADE OUT.
INSERT - CAPÍTULO 03
A trilha instrumental chega ao auge. Guzmán corre atrás de Maggie pelos corredores escuros, respiração ofegante, arma em punho. Um disparo corta o ar — a bala passa raspando. Maggie continua correndo, movida pelo puro instinto.
Ele alcança o topo da escada e dispara novamente. A luz treme.
Plano subjetivo: o olhar de Maggie. Num impulso desesperado, ela o empurra. Guzmán despenca, o grito se perde no ar. A mesa de vidro se estilhaça sob seu corpo. O som do impacto ecoa. Sangue, cacos e poeira se misturam no chão.
Maggie observa, paralisada. As lágrimas caem, o choque a domina. Lentamente, desce os degraus, ajoelha-se. O silêncio pesa.
Corte para:
ABERTURA
CENA 02. PENSÃO DE CLARA. FACHADA. INT. DIA.
A Cidade Maravilhosa desperta. Arranha-céus tocam o azul, refletindo o primeiro sol do dia. Ônibus lotados cruzam a Avenida Brasil como flechas de aço. Nos trilhos, o trem serpenteia — vidas apressadas, sonhos comprimidos entre portas que se fecham. O caos pulsa, o calor vibra, o Rio respira. É só mais um dia… na cidade onde tudo pode começar — ou acabar.
Cortamos para a fachada da pensão de Clara. Um carro preto e luxuoso encosta lentamente. O ronco do motor ecoa entre os prédios antigos.
A porta se abre — Júlio desce, elegante, olhar sério, carregando um ar de mistério. No portão, Camila e Mel, sua amiga, interrompem a conversa e viram-se ao mesmo tempo. Os olhos delas se cruzam — curiosidade, surpresa, e um quê de desconfiança. O contraste é gritante: o luxo do carro diante da fachada simples da pensão.
O vento quente da tarde levanta o pó da calçada — o silêncio pesa.
MEL — Camila, mulher… esse aí não é o amigo do teu primo, viada? Pelo amor de Deus, olha o carro que ele saiu! Esse homem deve ter é muito dinheiro!
CAMILLA — É pobre igual a todo mundo desse fim de mundo. Aposto que tá comendo alguma dondoca que tá bancando ele.
MEL — Menina, para com isso! Tu nem sabe se ele tá fazendo isso mesmo... Mas, se tiver, essa dondoca tá sendo muito bem alimentada, viu? Porque olha... que homem gostoso da porra!
CAMILLA — Gostoso e dotado, viu? Eu já vi demais dele, menina… estava bêbada, mas lembro de cada detalhe… e posso te garantir que dá pra fazer coisas que você nem imagina.
MEL — Você já viu ele pelado?
Júlio se aproxima devagar, interrompendo a conversa com sua presença. O som dos passos dele muda o ar — as duas se calam no mesmo instante.
JÚLIO — Bom dia, meninas. (VIRA-SE PARA CAMILA, COM UM LEVE SORRISO) Desculpa... qual é mesmo o seu nome, moça?
CAMILLA — Camilla.
JÚLIO — Camilla... prazer. Eu sou o Júlio.
CAMILLA — (OLHANDO PRA BAIXO, COM UM LEVE SORRISO) Ah, eu já te conheço muito bem, Júlio. (PASSA O DEDO LENTAMENTE PELO PEITO DELE) Até demais.
Júlio se afasta levemente, um pouco sem jeito. Mel encara Camila, em choque, sem acreditar no que acabou de ouvir.
JÚLIO — Camilla, com licença... sua mãe, dona Clara, está aí? Preciso acertar com ela a diária da pensão. Você sabe se ela tá por aqui?
CAMILLA — Minha mãe foi visitar uma parente em Nova Iguaçu. Pode deixar o dinheiro comigo.
Julio abre a carteira e tira cinquenta reais. Camilla pega o dinheiro e guarda no bolso, com um leve sorriso.
JÚLIO — Bom… se vocês me derem licença, vou tomar um banho.
Camilla observa Júlio entrando na pensão. Seus olhares se cruzam, e ele sorri, discreto, quase imperceptível, mas carregado de significado.
Camilla e Mel se encaram por um instante, e o riso delas explode quase ao mesmo tempo, leve e contagiante, preenchendo o ambiente.
MEL — Mulher, agora me conta a real… você viu ele pelado ou não? Não me enrola, hein!
CAMILLA — Ai, fala baixo, garota! Vai que ele escuta alguma coisa e a gente se queima toda!
MEL — Ah, então você vai ficar aí de mistério ou vai me contar essa fofoca inteira agora? Não me deixa na curiosidade, Camilla!
A câmera começa a se afastar devagar, enquanto o foco suavemente se desfoca. Camilla e Mel vão ficando pequenas no quadro, suas risadas e sussurros se tornando ecos leves, quase perdidos na penumbra do ambiente, criando uma sensação íntima e ao mesmo tempo distante.
Corte Para:
CENA 03. CLÍNICA BLONDER. CORREDOR/SALA DE REUNIÃO. INT. DIA.
Um carro preto de luxo encosta suavemente na entrada principal. O motorista salta e abre a porta traseira. Odila Blond desce com elegância cirúrgica — salto firme, olhar frio. Um segurança estende a mão; ela aceita o gesto como quem concede um privilégio.
Do outro lado da rua, enormes banners dominam a fachada: “QUEM ESCOLHE O PADRÃO DE BELEZA É VOCÊ.” Ela encara a frase por um instante. Um leve sorriso se desenha, quase irônico.
Odila atravessa o saguão envidraçado da clínica. O som dos saltos ecoa pelo mármore branco.
Médicos, enfermeiras e esteticistas param o que estão fazendo — alguns batem palmas, outros apenas observam em silêncio, entre respeito e temor.
Ela mantém o olhar fixo à frente. Nenhum desvio. Nenhuma hesitação. O elevador espelhado se abre.
Odila entra. As portas se fecham com suavidade.
O reflexo mostra o rosto dela — impecável, mas sem vida. O painel acende: Cobertura — 28º andar. Um ding ecoa. O elevador se abre com um leve ding.
Odila surge sozinha. O corredor está deserto, iluminado por uma luz fria que realça o brilho metálico do chão. Ela caminha com passos firmes — o som dos saltos ecoa pelo vazio, como se a clínica respirasse com ela.
Ao virar o corredor, o balcão da secretaria surge à frente. A secretária está sentada, imóvel, o olhar perdido na tela do computador.
Odila se aproxima. A mulher força um sorriso, tenso, profissional demais.
A secretária hesita, desvia o olhar, digita algo sem sentido só pra disfarçar. Um segundo de silêncio pesado.
ODILA — (SECA) Rosângela... pode me falar onde todo mundo se meteu?
Odila apoia as mãos no balcão — o som das unhas contra o vidro corta o ar. Close nos olhos dela: frios, desconfiados.
ROSÂNGELA — É... é que eu não...
ODILA — (BATE FORTE NA MESA, FURIOSA) FALA LOGO, ROSÂNGELA!
O som do impacto ecoa pelo andar vazio, rompendo o silêncio como um trovão. O corpo de Rosângela treme — os dedos param sobre o teclado, os olhos marejam. A tensão é densa, palpável.
Close em Odila — o rosto contraído, a respiração curta, os olhos queimando de fúria. O relógio na parede marca o tempo em segundos lentos.
ROSÂNGELA — Eles estão na sala de reunião. Mas o doutor Rog pediu pra…
Odila não espera. Vira-se e sai, deixando a frase no ar. Rosângela suspira, recostando-se na mesa, os dedos tamborilando impacientemente.
Plano fechado nos saltos de Odila, batendo firme no chão. Plano detalhe do rosto dela, maxilar tenso, olhos em chamas. A luz fria reflete no cabelo e no olhar, transformando fúria em presença quase tangível.
Plano médio: Odila empurra a porta e entra. Dentro, todos os funcionários congelam.
Planos fechados nos rostos em choque: olhos arregalados, respirações contidas, mãos paradas sobre papéis e mesas.
Plano fechado em Rog, sentado na cadeira do presidente. Calmo, imóvel, emanando uma presença silenciosa e desafiadora. O lugar que deveria ser dela agora é dele. Plano fechado em Odila, parada na porta.
Punhos cerrados. Corpo rígido. Respiração controlada. Olhos fixos em Rog, queimando de raiva e surpresa contida. Odila e Rog se encaram. Fogo e gelo. Raiva e calma. Um duelo silencioso, carregado de intensidade.
Os olhares se cruzam, o choque é palpável. Ninguém ousa se mover. O ar entre eles parece vibrar com tensão. Plano geral. A sala inteira suspensa.
Odila na porta. Rog na cadeira do presidente.
O silêncio pesa mais que qualquer palavra.
Cada gesto, cada respiração, fala por eles.
ESTAMOS APRESENTANDO
VOLTAMOS A APRESENTAR
ODILA — (DEBOCHADA, COM UM SORRISO FRÍO) Irmão querido… que pataquada é essa aqui na minha empresa?
ROG — (ENCARANDO-A, VOZ FRIA, LEVEMENTE SARCÁSTICA) Minha empresa, Odila… Até o conselho decidir o contrário, eu continuo sendo o presidente. (PAUSA, SORRISO SUTIL DE DESDÉM) E ninguém aqui vai me dizer o contrário.
ODILA — (GARGALHA, OLHAR FRIO, LEVANTANDO LEVEMENTE O QUEIXO) Por isso você marcou essa reunião, Rog… (PAUSA, SORRISO SARCÁSTICO) Faça-me o favor! Vocês realmente acham que vão escolher entre o safado, corrupto… (PAUSA, ENFATIZANDO) …e eu? Eu que, diferente de você, sei administrar esta empresa com perfeição.
ROG — (ENCARANDO ODILA, VOZ FRIA, LEVEMENTE SARCÁSTICA) Por isso marquei esta reunião…
Vamos fazer uma votação “justa”. (PAUSA, SORRISO CÍNICO) Mas que ninguém se engane… quem decide aqui sou eu. (ELE INCLINA LEVEMENTE A CABEÇA, COMO QUEM DESAFIA) E se alguém ousar tentar mudar isso… vai se arrepender.
ODILA — (LEVANTA UMA SOBRANCELHA, GARGALHA FRIA) Ah, Rog… “justa”, é? (PAUSA, OLHAR CORTANTE) Que adorável… você sempre teve um talento especial para disfarçar a própria corrupção com palavras bonitas. (ELE CAMINHA PELA SALA, ELA FICA IMÓVEL, DOMINANTE) Mas deixa eu te dizer uma coisa: não vou me curvar à sua arrogância, e nem a esse teatrinho ridículo.
ROG — (FRIO, LEVANTANDO O QUEIXO) Ah, Odila… sempre tão convencida. Mas hoje não é sobre você… é sobre quem manda de verdade aqui.
ODILA — (SORRISO SARCASTICO, CRUZANDO OS BRAÇOS) Ah é, Rog? Então vamos ver… (PAUSA DRAMÁTICA, OLHAR CORTANTE) Comecem a votação! Quero assistir a essa farsa se desenrolar.
(ELEVANTA LEVEMENTE A CABEÇA, DEBOCHANDO) Que todos escolham… e que todos vejam quem realmente sabe mandar nesta empresa.
A sala está em silêncio absoluto. A luz atravessa as persianas, formando listras sobre a mesa de vidro. Rog está sentado, corpo tenso, punhos cerrados. Odila permanece de pé, calma, dominante, sorriso frio, observando cada movimento.
ODILA — (DEBOCHANDO, OLHAR FRIO) Então, vamos começar. Pensem bem antes de levantar a mão. Isto não é um jogo… é a escolha de quem vai liderar esta empresa.
Os votos começam a ser registrados. O som dos envelopes sendo passados ecoa pela sala. Rog observa cada gesto com olhos ardendo de fúria.
ROG — (SUSSURRANDO, TREMANDO) Isso não pode estar acontecendo… ninguém pode estar votando contra mim…
Odila caminha lentamente entre os assentos, cada passo calculado. Sorriso frio, olhar afiado, como uma predadora.
ODILA — (SARCÁSTICA) Vejo hesitação… medo. Interessante. Logo verão quem realmente sabe mandar. A secretária respira fundo e anuncia o resultado:
SECRETÁRIA — (VOZ TREPIDANTE) A maioria votou em… Odila Blond.
Rog sente o chão desaparecer. Ele explode em raiva, gritando e gesticulando descontroladamente.
ROG — (GRITANDO, SURTANDO) o quê?! Isso não é possível! Vocês… vocês são todos uns merdinhas! Eu dei tudo! Tudo por esta empresa e vocês… vendem para ela?! Essa… essa… serpente!
Ele pega papéis e objetos da mesa, atira tudo com força. Um vaso de cristal tomba e se estilhaça no chão. Odila desvia com calma, observando cada reação.
ROG — (RESPIRANDO PESADO, VOZ ENTRE CORTADA POR RAIVA) Isso é uma conspiração! Uma farsa! Vocês não têm ideia do que estão fazendo…! Isso… isso é traição! Vocês vão se arrepender! Todos vocês!
ROG — (APONTANDO PARA O CONSELHO, VOZ RUGINDO) Acham que podem simplesmente me derrubar?! Acham que podem brincar com tudo que construí?! Eu… eu faço essa empresa girar e vocês… vocês não passam de insetos! Merdinhas! Todos!
Odila cruza os braços, sorriso de deboche absoluto, deixando Rog continuar seu surto.
ROG — (GEMENDO, DESCONTROLADO) Eu dei sangue! Eu dei suor! Vocês não entendem… nada! Essa… essa… essa víbora não vai ficar impune… Eu juro… vou recuperar tudo… e vocês… vão se arrepender de cada voto!
Ele se joga sobre a mesa, papéis espalhando-se pelo chão, e respira com dificuldade, olhos vermelhos de raiva e humilhação. Odila se aproxima lentamente, passos calmos, impondo domínio.
ODILA — (DEBOCHANDO, SORRISO FRIO) — Acabou o showzinho, Rog?
Ela se vira para o conselheiro que votou contra ela.
ODILA — (FRIA, IMPLACÁVEL) — E você… achou que podia me trair? Está demitido.
Odila então se aproxima de Rog, olhando-o nos olhos.
ODILA — (SARCÁSTICA) — Quanto a você… Médico-Chefe. Aproveite o último dia como presidente.
Rog permanece sentado, tremendo, humilhado, respirando com dificuldade. Odila sai da sala com passos precisos, deixando o silêncio pesado e a tensão quase sufocante.
Rog segura o celular trêmulo, ainda respirando com dificuldade. Ele está humilhado, estilhaços do vaso no chão ao redor. Eva atende do outro lado, firme, mas com raiva contida.
EVA — Alô? Rog… é você?
ROG — (DESCONTROLADO, VOZ EMBARGADA) Eva… ela conseguiu… Odila… tomou tudo! A empresa… meu cargo… tudo! Eu… eu não sei mais o que fazer…
EVA — (FIRME, COLOCANDO CALMA NA RAIVA) Calma, Rog… respira! Conta direito, o que aconteceu?
ROG — (SUSPIRANDO, QUASE CHORANDO) Ela… ela manipulou todo mundo! A votação… eles votaram nela! Ela… ela ganhou! Eu… eu não consigo… não consigo acreditar…
EVA — (IRRITADA, VOZ TREPIDANTE) Ela acabou com tudo… destruiu os nossos planos, Rog! Tudo que a gente tentou fazer, jogado fora em minutos!
ROG — (CHORANDO, VOZ QUEBRADA) Eu dei tudo por essa empresa, Eva! Tudo! E eles… eles votaram nela… como puderam me fazer isso?
EVA — (CALMA, COLOQUIAL, MAS FRIA) Eu vi, Rog… e eu sei como você tá se sentindo. Mas calma… não adianta surtar. A gente ainda pode pensar, ainda dá pra se reorganizar. Não dá pra agir feito idiota.
ROG — (DESABANDO, SOLUÇANDO) Eu não sei o que fazer, Eva… eu tô perdido… humilhado… ela me destruiu!
EVA — (OLHANDO NO ESPELHO, PENSANDO, VOZ FIRME) Escuta… respira fundo. Isso não acabou. Ainda temos recursos, ainda podemos virar o jogo. Só precisamos agir com cabeça, Rog… nada de sair atirando pra todo lado.
Rog respira fundo, tentando se acalmar. Eva mantém o olhar no espelho, punhos cerrados, já pensando nos próximos passos.
Corte para:
CONTINUÓ - MANSÃO BLOND. QUARTO DE ROG. INT. DIA
Eva se afasta da parede, caminha lentamente até o espelho. O reflexo mostra seu rosto duro, olhos brilhando de raiva contida. Ela segura o celular na mão esquerda, enquanto a outra mão se fecha em punho. A respiração é pesada, quase ritmada como batidas de suspense.
EVA — (COLOQUIAL, VOZ TREPIDANTE, FALANDO PARA O REFLEXO) Velha desgraçada… ninfomaníaca… ela acabou com tudo! Acabou com nossos planos, com o que a gente construiu com tanto esforço…
Ela bate levemente na pia, respiração acelerada, olhar fixo no espelho, os olhos mostrando ódio e determinação.
EVA — (SUSSURRANDO, VOZ FRIA, INTENSA) Ela acha que pode brincar de manda-chuva, de dominar todo mundo com sorriso e sarcasmo… mas não sabe do que eu sou capaz. Não sabe o que está prestes a enfrentar.
Ela se aproxima ainda mais do espelho, olhando cada detalhe do próprio rosto, punhos cerrados, lábios apertados.
EVA — (COLOQUIAL, SUSPENSE, PROMESSA) Odila Blond… você vai pagar. Pode até ter ganhado hoje, mas a sua hora vai chegar. Eu vou virar o jogo… e você vai sentir… vai sentir cada segundo do que é perder tudo que achava que tinha na mão.
Ela solta um riso curto, sarcástico, quase insano, mas controlado. O celular ainda na mão, ela toca a tela, fechando os olhos por um instante, respirando fundo, calculando cada próximo passo.
EVA — (SUSSURRANDO, VOZ INTENSA) Isso não acabou… nada… vai ser divertido ver você se desesperar, velha desgraçada. Pode apostar… a vingança vai ser lenta, fria… perfeita.
Ela se afasta do espelho, encara o reflexo uma última vez, punhos ainda cerrados, respiração ritmada, olhos fixos, decidida. Suspense total paira na sala, enquanto a câmera lentamente se afasta, deixando o silêncio pesado e a sensação de perigo iminente.
Eva segura o celular firme, olhos fixos no espelho. Cada respiração é profunda, controlada, carregada de intenção. A ligação conecta. A tensão é quase palpável.
ADRIANO — (SARCÁSTICO, VOZ BAIXA) Alô… Eva… quanto tempo! Veneno… você nunca muda, hein? Sempre aparecendo na hora certa pra me deixar intrigado.
EVA — (SARCÁSTICA, COLOQUIAL, CONTROLADA) Oi, Adriano… quanto tempo, hein? Que saudades… mas você sabe, as coisas aqui nunca ficam paradas. Sempre algum caos pra agitar meu dia.
Ela sorri levemente, calculista, cada palavra medida. Adriano ri baixo, malicioso, percebendo que Eva ainda mantém o controle da situação.
ADRIANO — (PROVOCANDO, COLOQUIAL) Pois é… e fiquei sabendo que você se casou com um ricaço. Tá nadando na grana agora, hein? Deve estar curtindo a vida… mas me diz, essa vida de princesa não te impede de sentir saudade do caos, né?
EVA — (FRIA, FIRME, VILANESCA) Sim, Adriano, mas isso não vem ao caso agora. Eu não tô ligando pra jogar conversa fora… eu preciso da sua ajuda. E não qualquer ajuda. Preciso de alguém que saiba mexer as peças certas, sem fazer barulho, sem deixar rastros. Alguém que entenda que algumas vitórias só acontecem quando a vítima nem percebe que está sendo manipulada.
ADRIANO — (INTERESSADO, CALCULISTA) Que tipo de ajuda você tá pedindo, minha princesa? Pode falar, pode pedir o que quiser. Eu sei que você não liga pra mim à toa.
EVA — (SUSSURRANDO, CONTROLADA, VILANESCA) Você ainda tem aqueles… remedinhos que funcionam rápido, discretos? Aqueles “tiro e queda” que resolvem sem ninguém perceber? Não tô falando de sangue espalhado ou barulho, Adriano. Tô falando de fazer ela sentir que o chão sumiu sob os pés, que tudo que ela construiu tá ameaçado… sem que ninguém possa ligar os pontos.
Um silêncio pesado do outro lado. Adriano percebe a seriedade, o frio na voz dela, e o tom de comando que Eva impõe mesmo à distância.
ADRIANO — (INTERESSADO, CURIOSO, COLOQUIAL) Entendi… e qual seria a forma de pagamento pra isso? Não me diga que você vai me ligar pra pedir favores sem me garantir que vale o esforço, hein?
EVA — (SARCÁSTICA, FRIA, FIRME) Dez mil dólares, em espécie. Sem perguntas, sem enrolação. Você faz direito, sem falhas… e leva sua parte. Não quero complicações, Adriano. Quero que isso seja perfeito, limpo, silencioso, invisível.
Adriano solta uma risada baixa, apreciando a frieza e o controle de Eva.
ADRIANO — (PROVOCANDO, SARCÁSTICO) Dez mil dólares… você realmente não perdeu o jeito, minha princesa. Tá certo, tá certo. Mas me garante… que vai valer cada centavo. Que não vou perder tempo com uma brincadeira que não dá resultado.
EVA — (CONFIANTE, CONTROLADA, OLHANDO NO ESPELHO) Vai valer, Adriano. Quero que tudo saia perfeito… ninguém pode desconfiar de nada, ninguém pode ligar os pontos. Quero que ela sinta que está perdendo controle, que o poder escorregou das mãos dela, e que isso seja só o começo. E você sabe que eu nunca aceito falhas.
O silêncio do outro lado aumenta a tensão. Eva segura o celular junto ao peito, punhos ainda cerrados, respirando fundo, olhos fixos no espelho. Cada músculo do corpo está tenso, cada pensamento calculado. A câmera foca em seu reflexo, frio, vilanesco, pronto para iniciar o plano.
Eva segura firme o celular, olhos fixos no espelho. A ligação chega ao fim, mas antes de desligar, fala com voz fria e controlada.
EVA — (SARCÁSTICA, COLOQUIAL) Tá, Adriano… pode ficar tranquilo. Eu vou cuidar de tudo do jeito certo. Obrigada por isso.
ADRIANO — (BAIXO, RISADA SARCÁSTICA) Como sempre, minha princesa… confio que vai ser divertido.
EVA — (SUSSURRANDO, FIRME) Vai ser mais que divertido… vai ser perfeito.
Ela aperta o botão, corta a ligação. O clique ecoa no banheiro silencioso. Coloca o celular na pia, respira fundo, encara o próprio reflexo, olhos frios e calculistas.
EVA — (OLHANDO LONGE, SUSSURRANDO) Odila… Odila… o seu castelo vai cair.
Ela repete, agora com voz mais firme, como uma sentença.
EVA — (DETERMINADA, FRIA) Vai desmoronar cada pedra. E quando tudo ruir, vai sobrar só o silêncio — e eu vou estar aqui, observando.
Um sorriso breve e cortante atravessa seus lábios. Ela ajeita o cabelo, vira-se para a porta e sai devagar — cada passo calculado, carregado de vilania.
Corte para:
CENA 04. RIO DE JANEIRO. PLANOS GERAIS. INT. DIA.
Sonoplastia: Voyage Voyage - Desireless
Planos abertos da cidade: o sol refletindo nas águas da Baía de Guanabara, o tráfego intenso e os ônibus lotados serpenteando pelas ruas. Pessoas caminham apressadas pelas calçadas, vendedores ambulantes anunciam suas mercadorias, e turistas registram cada canto da cidade.
Planos médios e fechados mostram Copacabana: a orla movimentada, guarda-sóis coloridos, ondas quebrando suavemente. A câmera se eleva, revelando o Cristo Redentor imponente, braços abertos sobre a cidade, observando silenciosamente o cotidiano que corre lá embaixo.
O tráfego pesado da ponte Rio-Niterói, ônibus lotados e carros passando constantemente. A lente captura a magnitude da ponte, o céu refletindo na água abaixo. Planos alternam entre detalhes — passageiros cansados nos ônibus, vendedores oferecendo produtos nas janelas, motoristas concentrados — e planos abertos mostrando a grandiosidade da cidade e sua conexão com Niterói.
Corte para:
CENA 05. CENTRAL DO BRASIL. RUA. INT. DIA.
Uma rua de pouco movimento, iluminada pela luz clara e dura do sol. As sombras dos postes e das árvores criam padrões irregulares no asfalto. O silêncio é relativo: o barulho distante de carros e o canto ocasional de pássaros quebram a monotonia, mas a rua permanece quase deserta.
Estevão está caído no chão, visivelmente bêbado. O corpo se contorce levemente, respiração irregular, mãos sujas de poeira e pequenas feridas. Os olhos abrem e fecham, vagando entre o nada e tudo, presos numa limitação de consciência e lucidez.
A câmera se aproxima devagar, capturando o olhar vazio e a fragilidade exposta. Cada detalhe reforça decadência e abandono, tornando a cena quase desconfortável de assistir.
Na mesma rua, Maggie aparece, caminhando com passos medidos. Ela observa Estevão com mistura de surpresa, repulsa e curiosidade. O passo dela ecoa suavemente sobre o chão quente, cada som aumentando a tensão silenciosa.
Planos fechados mostram o rosto de Maggie: olhos semicerrados, lábios apertados, respiração contida. O instante se alonga; o tempo parece suspenso. Ela sente a vulnerabilidade do homem à sua frente, mas também uma estranha sensação de controle e superioridade.
Estevão murmura algo ininteligível. Maggie se inclina ligeiramente, como se quisesse ouvir melhor, mas mantém distância. A câmera foca nos olhos de ambos, criando tensão psicológica intensa: medo, julgamento e curiosidade silenciosa.
O vento quente levanta pequenas folhas e papéis espalhados, reforçando a sensação de abandono e fragilidade. A rua deserta se torna palco da mente, dos pensamentos não ditos e da tensão que paira entre os dois.
Estevão está caído no chão, bêbado, sujo, mãos levemente ensanguentadas. O sol reflete no asfalto, sombras duras desenhando a rua quase deserta.
Maggie se aproxima devagar, cautelosa. Ela observa Estevão, mistura de choque, preocupação e desconfiança no olhar.
MAGGIE — (EM CHOQUE, IRRITADA) Estevão, me diz uma coisa… o que você tá fazendo aqui? Bêbado, sujo, cheio de ferida… você se meteu em alguma encrenca grande, não foi?
Ele respira fundo, olha para ela, olhos vidrados e mãos trêmulas.
ESTEVÃO — (VOZ BAIXA, TREMENTE) Eu… eu fiz uma merda, Maggie… grande demais…
Maggie hesita, mas o instinto de ajudá-lo fala mais alto.
MAGGIE — (SUSPIRANDO, FIRME) Merda ou não, você não vai conseguir andar sozinho. Segura em mim, anda devagar.
Ela passa o braço dele pelo ombro, apoiando-o. Ele cambaleia, cada passo é esforço, e Maggie mantém firmeza.
ESTEVÃO — (RESPIRANDO PESADO, OLHOS NO CHÃO) Eu… eu atropel… um homem… na Avenida Atlântica…
Maggie para, olhos arregalados, mas mantém o braço firme nele. Um silêncio pesado paira.
MAGGIE — (CHOCADA, SUSSURRANDO) Como assim… você atropelou alguém? Você tá me dizendo que… que matou um homem?
ESTEVÃO — (CULPADO, TREMENTE) Eu… não sei… tudo aconteceu tão rápido. Ele estava na minha frente… não deu tempo…
Maggie respira fundo, tentando processar e mantendo a calma.
MAGGIE — (CALMA, FIRME) Escuta… gritar ou surtar agora não vai ajudar. Vamos sair daqui, conseguir um ônibus, e você vai me contar tudo no caminho, entende?
Ele apenas assente, incapaz de falar mais. Ela o segura firme pelo braço, guiando-o até o ponto de ônibus.
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CENA 06. HOSPITAL PARTICULAR. CONSULTÓRIO. INT. DIA.
Odila segura a pasta de exames nas mãos. Por fora, seu rosto ainda tenta manter a compostura. Mas por dentro, algo se quebra.
Ela olha para o médico, sem conseguir falar. Seus olhos piscam rapidamente, a respiração acelera, mãos trêmulas segurando a pasta como se fosse o último elo de controle que ainda lhe resta.
MÉDICO — (CALMO, PRECISO) Sra. Blond… eu sei que é difícil. A FCSP é uma doença rara, silenciosa, e neste estágio, infelizmente… é terminal.
Odila fecha os olhos por um instante. Uma lágrima escorre, seguida de outra, e então ela deixa escapar um soluço contido. O rosto, que antes exibia orgulho e deboche, agora revela vulnerabilidade pura.
ODILA — (SUSSURRANDO, EM CHOQUE) Não… não pode ser… seis meses… isso não pode estar acontecendo comigo…
Ela cobre o rosto com as mãos, soluçando baixinho, tentando conter o desespero. A câmera se aproxima, focando em suas mãos tremendo e nas lágrimas que escorrem silenciosamente.
MÉDICO — (SENSÍVEL, CONTIDO) Sra. Blond… eu sei que é difícil aceitar… mas é importante processar, para que possamos pensar nos próximos passos…
Odila se afasta levemente da mesa, respirando de forma irregular, soluços ainda visíveis. A sala silenciosa se torna quase sufocante, apenas o som da respiração dela e das lágrimas preenchendo o espaço.
ODILA — (EMOÇÃO PURA, QUASE SUSSURRANDO) Eu… eu sempre fui forte… sempre estive no controle… e agora… isso… isso me tira tudo…
Ela abaixa a cabeça, apoiando-a na mesa, soluçando em silêncio. A câmera alterna entre close no rosto, nas mãos e na pasta de exames, capturando o choque e a dor de forma intensa e psicológica.
Fade out. O silêncio da clínica é pesado, deixando claro que nada será como antes para Odila.
Close extremo na pasta de exames sobre a mesa. Cada detalhe impresso, gráficos e letras microscópicas destacam-se com precisão quase cruel. O brilho refletido do sol sobre o papel parece congelar o tempo.
Odila está sentada à frente, mãos apoiadas na mesa, tremendo levemente. Seu rosto, antes controlado e altivo, agora revela vulnerabilidade — cada gota de suor ou lágrima congelada no instante.
O médico permanece imóvel, postura firme, expressão grave, olhando para Odila sem piscar. O mundo ao redor parece desacelerar até desaparecer. O tic-tac do relógio, os sons da clínica, até a luz suave da sala… tudo se torna irrelevante diante do choque silencioso dela.
O ambiente some: só existe Odila, a pasta de exames e o médico. A respiração dela, contida e quase imperceptível, é o único som que preenche a cena. O olhar de Odila se fixa nos gráficos e resultados, cada número e cada linha cravando a realidade cruel: seis meses de vida.
Ela fecha os olhos por um instante, soluços contidos, mãos apertando a borda da mesa. Ao abrir novamente, o olhar se transforma — do choque à raiva contida, uma centelha de cálculo frio surgindo atrás da dor.
CORTE RÁPIDO — FIM DO CAPÍTULO
A novela encerra seu quarto capítulo ao som da sonoplastia: Delícia/Luxúria - Sophia Chablau (tema original de abertura)

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