O PREÇO DA VIDA - CAPÍTULO 02 (21/10/2025)

 


O PREÇO DA VIDA 


criada e escrita por: Luccas Sanza 


Capítulo 02


CENA 01. RESTAURANTE LE VELMONT. ENTRADA. INT. NOITE.


ODILA — Anda, garoto… quem é você?


JÚLIO — Eu… eu sou o Júlio, amigo do Fabinho. Ele pediu para eu procurar a senhora.


Júlio se aproxima, ficando frente a frente com Odila.


ODILA — Agora o Fabinho manda recado por office-boy.


JÚLIO — Na verdade, não foi o Fabinho. Eu que queria falar com a senhora, dona Odila.


ODILA — Meu bem, se veio pedir dinheiro emprestado, sinto muito… não sou agiota. Boa noite.


Ela caminha com elegância até a porta. Júlio, tomado por impulso, segura seu braço e a puxa para um beijo.


Odila reage com um tapa seco. Júlio cambaleia para trás, surpreso, tentando recuperar o equilíbrio. Ela o encara, firme e altiva, misturando raiva e espanto.


JÚLIO — Eu… eu não queria… eu só…


Odila ergue o queixo, imponente, e cruza os braços.


ODILA — “Só”? Não me faça rir. Se tem coragem, fale direito. Se não, some da minha frente.


O silêncio pesa. Júlio engole em seco.


JÚLIO — Eu… eu me deixei levar. Não vai se repetir.


Odila dá um passo para trás, mantendo a postura impecável, e fixa os olhos nele, fria.


ODILA — Espero que não. Agora vá embora antes que eu perca a paciência.


Júlio hesita, buscando coragem.


JÚLIO — Se você quiser… eu faria qualquer coisa… só me leve para jantar. Um restaurante decente. Por favor.


Odila ergue uma sobrancelha, surpresa, e um sorriso irônico surge.


ODILA — Você se acha engraçado? Acha que pode me comprar com um jantar?


JÚLIO — Não é compra… só… só quero uma chance.


Odila dá um passo à frente, a tensão cortando o ar.


ODILA — Moleque atrevido… você não faz ideia do que está pedindo.


Ela o observa, calculando se cede ou ensina uma lição. Júlio permanece vulnerável, olhos fixos nela, misto de esperança e medo.


Após alguns segundos, Odila relaxa ligeiramente e dá um passo para trás.


ODILA — Muito bem, garoto. Se quer uma chance, prove que sabe se comportar. Me siga.


Júlio sente o coração disparar e acena, nervoso.


Eles caminham lado a lado até o restaurante. A entrada elegante os envolve em sofisticação e expectativa. O maître os recebe e os conduz a uma mesa reservada.


Odila se senta primeiro, mantendo postura impecável, os olhos fixos nele.


ODILA — Então… me conte. Quem é você, além do amigo do Fabinho?


JÚLIO — Eu… tento levar a vida sem muitos problemas. Trabalho, estudo e tento ajudar quem posso.


Odila sorri levemente, inclinando a cabeça.


ODILA — Interessante… mas não basta palavras. Quero ver atitude.


Júlio se inclina levemente, tentando corresponder à presença dominante dela.


JÚLIO — Então… diga o que devo fazer para provar que mereço essa chance.


Odila solta uma risada curta, carregada de autoridade.


ODILA — Por enquanto… apenas sobreviva ao jantar. Observe, aprenda, e quem sabe depois eu te dou outra oportunidade.


O jantar se transforma em um duelo de olhares, provocações e curiosidade mútua.


ABERTURA 


O clima esquenta com conversas sobre vida, ambições e provocações sutis. Júlio se solta, tentando impressionar.


ODILA — Você é ousado, Júlio. Me diga… quanto você cobraria pra passar uma noite com você?


JÚLIO — Quatro mil.


Odila solta uma risada curta, provocativa, inclinando-se levemente.


ODILA — Quatro mil… você realmente acha que você vale isso?


JÚLIO — Não é questão de valor… só quero estar perto da senhora.


Ela cruza as pernas e apoia o queixo na mão.


ODILA — Interessante… você é atrevido, mas tem consciência. Gosto disso.


ODILA — Vamos ver se sobrevive ao resto do jantar. Mostre que acompanha meu ritmo, Júlio.


Ele sorri nervosamente, mas decidido.


JÚLIO — Pode deixar… não vou decepcionar.


Odila recosta-se, satisfeita com a postura dele.


ODILA — Até agora você falou bem. Mas será que consegue manter a postura?


JÚLIO — Estou tentando… com você por perto, não é fácil.


Odila solta uma risada curta, divertida, inclinando-se ligeiramente.


ODILA — Aqui, quem dita as regras sou eu.


JÚLIO — E eu… estou aprendendo. Mas gosto do desafio.


O silêncio se instala. Os olhares se cruzam intensos. Júlio respira fundo e se aproxima.


Eles se beijam, carregados de tensão e emoção. Odila mantém o controle, e Júlio sente a intensidade do momento.


Corte para:


CENA 02. PRAÇA SAENZ PEÑA. FORRÓ. EXT. NOITE.

Sonoplastia: Se for amor — João Gomes.


Bandeirinhas amarradas nos fios balançam ao vento. Pessoas dançam agarradas, enquanto o cheiro das comidas de barraca se espalha. Focamos em um quiosque: Camilla e Mel, sua amiga trans, estão sentadas, copos descartáveis de cerveja nas mãos, conversando no balcão.


MEL — Hóspede novo, mona? Passada! Faz tempo que não vejo um bofe se hospedar na pensão da tia Clara.


CAMILLA — E tem mais, mulher. Fui fuçar na internet e achei o perfil dele.


Camilla puxa o celular do bolso e mostra na tela: Júlio Silva, 543 seguidores, 200 curtidas. Uma foto dele aparece.


MEL — Nossa… com um homem desses eu casaria! Que macho gostoso, viu? Era meu sonho.


CAMILLA — Tira o olho, que é meu!


MEL — Eu até tiro, mas aquele boy ali atrás não desgruda de você!


CAMILLA — Mentira…


MEL — Tá vindo aqui! Não olha pra trás.


Um homem se aproxima de Mel e Camilla. Seus olhos se fixam em Camilla.


HOMEM — Boa noite, meninas. (SE VOLTA PARA CAMILLA) Moça, quer dançar comigo?


CAMILLA — Ah… quero.


Camilla se levanta. Ele estende a mão, ela aceita. Eles se afastam do balcão, os corpos se aproximam, os olhares se cruzam. A câmera circula 360° em torno do casal, captando a energia da música, as luzes coloridas e a multidão ao redor.


Corte para:


CENA 03. PLANOS GERAIS. RIO DE JANEIRO. EXT. NOITE.


A sonoplastia da cena anterior continua.


Planos aéreos do Rio à noite: a Lapa pulsa com luzes e música de bares. O relógio da Central marca 21h35. A lua cheia se reflete na Baía de Guanabara, lançando um brilho prateado sobre as águas. A câmera avança, deslizando entre prédios e ladeiras, até revelar a imponente Mansão Blond, iluminada e cercada de mistério.


Corte para:


CENA 04. MANSÃO BLOND. QUARTO DE ROG. INT. NOITE.


Rog e Eva, nus, se entrelaçam sob lençóis brancos. Eva apoia a cabeça no peito dele. Rog desliza os dedos pelos cabelos dela, devagar. A luz suave entra pela janela, iluminando suas silhuetas e criando sombras delicadas sobre a cama.


ROG — (OLHANDO PRO TETO) A chegada dela mexeu com todo mundo. Minha irmã… parece que veio pra mandar, humilhar.


EVA — (VIRA-SE, FITA ROG COM UM SORRISO FRIO) E se ela parasse de mandar? De atrapalhar? De respirar?


ROG — (FRANZE A TESTA) O que você tá dizendo, Eva?


EVA — (SEM RODEIOS, VOZ BAIXA) Tô dizendo o que a gente estava falando na raiva... que às vezes a melhor solução é a que ninguém espera. Sumir com o problema. Acabar com ela. De verdade.


O silêncio corta. Rog vira o corpo, encara ela, os olhos arregalados.


ROG — (GARGALHA NERVOSO, MEIO EM CHOQUE) Cê tá falando sério? Eva, é minha irmã. Isso é... é crime. A gente não pode. Não pode, ponto.


EVA — (APROXIMA-SE DEVAGAR, QUASE UM ROÇAR) Eu tô falando sério. E sei que você sente a mesma raiva que eu. Só que eu não fico só na imaginação. Eu não tenho paciência pra quem pisa na gente.


ROG — (RECUANDO UM POUCO) Paciência? Eva, não é jogo. Não é uma fantasia pra a gente brincar. Isso é vida de gente. Você não pode falar desse jeito e…


EVA — (CORTA, RÍSPIDA) Eu não tô pedindo um plano agora, Rog. Nem tô dando ideia de como. Eu tô dizendo que, se alguém resolvesse fazer isso, eu não choraria. Eu digo e ponto. Queria ver a cara dela quando... quando nada sobrasse pra ela.


Rog seca a boca com a mão, treme por dentro.


ROG — (VOZ BAIXA, AMARGA) E você quer que eu aceite isso? Que eu finja que tá tudo bem? Não consigo. Não sou capaz de trair assim. Mesmo que ela mereça.


EVA — (SORRI, SÉRIA) Não peço que você traia. Só digo o que penso. E você pensa também, só que guarda. Olha pra mim: se um dia isso acontecesse, você teria vontade de se livrar do peso ou de se enterrar com ele?


ROG — (OLHOS CHEIOS) Eu não quero nem pensar nisso. Não quero que a gente seja responsável por uma vida. Não quero essa culpa.


EVA — (JÁ CALMA, QUASE MATERNAL) Então segura a língua. Fala de raiva, de desejo, de morte — é bom pra aliviar. Mas não faz. Não precisa virar ato. Só deixa eu falar meus delírios. Você segura o resto.


Eles ficam um tempo em silêncio. A câmera fecha nos rostos: ela com a satisfação de quem disse o proibido; ele com a culpa de quem ouviu e quase concordou. O quarto volta a ser apenas um quarto, mas algo mudou no ar — a semente do perigo foi plantada, ainda que só nas palavras.


ROG — (SUSSURRA) Promete que é só palavra?


EVA — (SORRI, QUASE CRUEL) Prometo que por agora fica só no vocabulário. Mas prometo nada pro sempre. A raiva fica escondida, Rog. A gente só aprende a fingir melhor.


A cena termina com eles se abraçando, mas a câmera permanece mais um segundo no rosto de Eva — um sorriso pequeno, fechado, que não chega a revelar se era só fantasia ou ameaça.


Corte para:


ESTAMOS APRESENTANDO 

VOLTAMOS A APRESENTAR 



CENA 05. HOSPITAL “UPA”. QUARTO. INT. NOITE.


Instrumental melancólico toca ao fundo.


Luz fraca ilumina o rosto cansado de Edna.

Fabinho senta ao lado, segura a colher e leva a comida à boca dela com cuidado. Ela abre os lábios, engole devagar.


Ele ajusta o prato, observa em silêncio.

O quarto está quieto. Apenas o som da colher contra o prato e a respiração de ambos preenche o espaço.


EDNA — Para, Fabinho… não quero que você me dê comida na boca, tá?


FABINHO — Mas a senhora precisa comer, tá fraca. Só mais um pouquinho, vai.


Ele aproxima a colher, e Edna abre os lábios devagar. Ela não afasta completamente o rosto, só um leve recuo.


EDNA — (BAIXINHO) Tá abusando, hein…


FABINHO — (SORRI) Só cuidando da senhora… nada demais.


Ele deposita a comida devagar, e ela engole, a respiração lenta. Fabinho observa o movimento quase sem jeito, ajusta o prato discretamente, sem falar nada.


Há um instante de silêncio. O som do prato e da respiração preenche a cozinha.


Edna ergue os olhos por um segundo, encontra o olhar dele, e rapidamente desvia. Fabinho percebe, mas não comenta; apenas sorri levemente, quase imperceptível.


EDNA — (SUSSURRA, QUASE PARA SI MESMA) Estranho… esse cuidado seu.


FABINHO — (BAIXINHO) Estranho bom… ou só cuidado mesmo.


Eles continuam ali, em silêncio, a proximidade leve, quase sem ser notada. Um toque de calor no ar, sutil, que ninguém além deles perceberia. Cada colher, cada ajuste do prato, cada olhar rápido se torna parte de um momento quase íntimo, mas discreto, delicado.


Cortamos para o Rio de Janeiro — O relógio da Central do Brasil marca 00h30. O tempo passou.

A cidade parece suspensa. Ruas desertas, vento cortando o asfalto molhado. Alguns bares ainda abertos, luzes amareladas refletindo nas poças. Um silêncio incômodo paira sobre a madrugada carioca.


Um carro rasga a Avenida Atlântica deserta, faróis cortando a névoa da madrugada. A velocidade é alta, o som do motor ecoa entre os prédios e o mar adormecido.


Corte para:


CENA 06. AVENIDA ATLÂNTICA. CARRO. INT. NOITE.


Dentro do carro, Estevão dirige em alta velocidade. A garrafa de uísque, quase cheia, balança entre os dedos. Ele dá um gole longo, o líquido desce queimando. Uma gota escorre pelo canto da boca.


No rádio, “Que país é este?” estoura no volume máximo. As luzes da rua passam rápido pelos vidros. O olhar dele é fixo, tenso, com raiva contida.


O motor ruge. Ele aperta mais o volante, o som da música misturado à respiração pesada.

Por um instante, parece que vai perder o controle.


A estrada vazia sob a luz amarelada dos postes.

De repente, um homem com uma bicicleta cheia de latinhas surge na frente do carro.


Close nos olhos de Estevão. Ele freia bruscamente. Som alto de pneus derrapando.


Instrumental: Densidade Soturna - Sacha Amback 


o carro atinge o homem. O para-brisa estilhaça.

Sangue escorre. O carro derrapa descontrolado.

Estevão para, respiração ofegante, mãos trêmulas, pulso pulsando.


ESTEVÃO — O que eu fiz? O que eu fiz?!


Corte rápido: Estevão sai do carro.

O homem está no chão, agonizando, sangue espalhado pelo asfalto.


HOMEM — (fraco, quase sussurrando) Socorro… alguém… ajuda…


Close nas mãos de Estevão na cabeça, tremendo.

Ele dá um passo atrás, paralisado. A câmera segue enquanto ele corre de volta pro carro, respiração pesada.


a roda da bicicleta gira lentamente, batendo no asfalto. Estevão liga o carro.O motor rugindo corta o silêncio. Ele foge na noite, deixando o homem e a bicicleta para trás.


A estrada silenciosa. Som distante do motor desaparecendo. A bicicleta caída, girando lentamente, como testemunha do acidente.


Corte para:


CENA 07. PENSÃO DE CLARA. BANHEIRO. INT. NOITE.


A água quente escorre pelo corpo nu de Júlio. O vapor envolve o ambiente, a luz refletindo na pele molhada.


No corredor, Camilla surge cantando, copo descartável de cerveja na mão:


CAMILLA — (BÊBADA, CANTANDO ALTO) Morena Tropicana, eu quero seu sabor… aiai… ioio! 


Ela cambaleia, tropeçando nos próprios pés, rindo de si mesma.


Júlio está escovando os dentes, distraído pelo vapor. De repente, a porta de sanfona se abre com um estrondo. Camilla cai sobre ela, derrubando o copo que se amassa no chão e espalha cerveja.


Júlio arregala os olhos, vermelho de vergonha.


CAMILLA — Ai… moço… me ajuda a levantar!


Ela segura a toalha de Júlio, que escorrega. Ele rapidamente a pega, cobrindo-se.


JÚLIO (COM VOZ NERVOSA E IRRITADA) C-Cuidado! Sério…


Camilla solta um riso descontrolado.


CAMILLA — Gente… eu achei o paraíso…


Júlio se afasta, segurando a toalha contra o corpo, respirando pesado, olhos faiscando de raiva e vergonha.


JÚLIO (ENTRE DENTES) Você podia pelo menos… tomar cuidado!


Camilla, de pé, ainda cambaleante, segura o estômago de tanto rir, olhos brilhando de diversão e travessura.


O vapor da água mistura-se à luz suave, criando uma atmosfera quente, sensual e cômica. Júlio sai batendo a porta atrás de si, respirando fundo, tentando se recompor, enquanto Camilla continua rindo, ainda cantarolando baixinho.


Corte para:


CENA 08. MANSÃO BLOND. SALÃO. INT. NOITE.


A luz do luar atravessa as cortinas pesadas, espalhando sombras pelo chão da sala. Eva está recostada no sofá, fumando um cigarro e mexendo no celular, o fumo subindo em espirais lentas. Cada toque na tela reflete um brilho momentâneo em seus olhos cansados.


O silêncio da noite é interrompido por passos firmes no corredor. Eva ergue a cabeça, franzindo a testa. A porta se abre e Odila entra, com postura imponente. Seu olhar percorre a sala, avaliando cada detalhe, e o leve ranger da porta parece anunciar sua autoridade. Eva solta uma baforada de fumaça, observando Odila com atenção, sentindo a presença da mulher preencher todo o espaço ao redor.


ODILA — (DEBOCHANDO) Eva acordada uma hora dessas, cuidado para não criar olheiras nesse seu rostinho.


EVA — Eu tô esperando Estevão chegar, mas até agora nada!


ODILA — (CURIOSA, QUASE CASUAL) Ele atrasou de novo, né? Sempre foi assim, sempre meio perdido…


EVA — Pois é… mas dessa vez eu achei que ele fosse mais responsável.


ODILA — (DE LEVE, COM UM SORRISO) Responsável? Esse menino sempre foi inconsequente. Parece que você esqueceu disso.


EVA — Não é que eu esqueci… eu só acredito que as pessoas mudam.


ODILA — (ARQUEANDO A SOBRANCELHA) Mudam? Será? Você acha mesmo que ele se importa com alguma coisa além de si mesmo?


EVA — Ele faz o que pode… todo mundo tem suas dificuldades.


ODILA — (APROXIMANDO-SE, TOM MAIS FIRME) Difícil é não ver que ele sempre ficou sozinho. O pai só pensa na empresa, a mãe morreu, a prima tá em Paris… e você ainda se preocupa?


EVA — Pois é… alguém tem que se importar, não é?


ODILA — (SORRISO FINO, PROVOCANDO) E você, Eva, acha que se importar é suficiente? Sempre a heroína…


EVA — Não tô tentando ser heroína. Só quero que ele tenha atenção, carinho…


ODILA — (DANDO UM PASSO MAIS PERTO, TOM ÁCIDO) Carinho? Ou só a atenção que ele não recebe do jeito errado, hein?


EVA — (OLHANDO DIRETO PARA ODILA, RESPIRANDO FUNDO) Ele faz isso porque ninguém dá atenção pra ele. O pai só liga pra empresa. A mãe morreu, a prima tá em Paris e a tia vive de hotel em hotel todo dia transando com um novinho diferente!


ODILA — (FRIA, SARCÁSTICA, QUASE RINDO) Ah… então é por isso que você se preocupa tanto? Não sei por que essa preocupação toda com o Estevão. Ele sempre foi assim, um inconsequente que nunca ligou pra nada. Parece até que você não sabe disso.


EVA — (COM RAIVA CONTIDA) E você quer que eu faça o quê? Que eu feche os olhos pra tudo isso?


ODILA — (CRUZANDO OS BRAÇOS, DEBOCHANDO) Eu não sei por que você tá tão preocupada… você nunca gostou dele quando ele era criança, não era? Então de repente esse carinho todo?


EVA — As pessoas mudam, né? My love… eu mudei, todos mudamos. Já você…


ODILA — (ARQUEANDO A SOBRANCELHA, TOM ÁCIDO) Eu o oque?


EVA — (GRITANDO) CONTINUA A MESMA MULHERZINHA DESPREZÍVEL, QUE ACHA QUE MANDA EM TUDO. UMA MULHERZINHA DESPREZÍVEL QUE SEMPRE VAI TER QUE PAGAR PRA TER UM HOMEM TE SATISFAZENDO NA CAMA! UMA PESSOA SEM DIGNIDADE!


Odila recua um passo, surpresa por um instante, depois solta uma risada fria e sarcástica, avançando devagar.


ODILA — (IRÔNICA, VENENOSA) Engraçado, né? Você quer me chamar de vagabunda, sem dignidade… mas a sem dignidade aqui é você! (PAUSA DRAMÁTICA) Seu maridinho é um brocha que não dá conta do recado — e você vai lá e abre as pernas pro filho dele.


Eva arregala os olhos, o choque e a raiva explodindo juntas.


EVA — (GRITANDO, INCRÉDULA) Do que você tá falando?!


ODILA — (APROXIMANDO-SE, FRIA, FIRME) Você acha que eu não vi seus olhares se cruzando? Eu até achava que era ilusão, coisa da minha cabeça… até eu ver os dois transando na sauna daqui de casa.


Close em Odila 


FLASHBACK 


2 MESES ANTES 


A sauna está quente, o vapor se espalhando pelo ambiente. A luz baixa reflete nas paredes de madeira, criando sombras que dançam. Eva e Estevão estão nus, próximos, entregues à intimidade. A respiração pesada e o calor do ambiente tornam cada gesto carregado de tensão.

Odila observa pelo brecha da porta. Seus olhos se arregalam, choque e indignação tomando conta; ela leva a mão à boca, incapaz de acreditar no que vê.


EVA — (SUSSURRANDO, SURPRESA) Quem tá aí?


ESTEVÃO — (BAIXINHO, SEM PERDER O RITMO) Não deve ser ninguém. Agora volta de onde a gente parou.


Eles se aproximam novamente, corpo colado, respirações intensas. O beijo é prolongado.


FIM DE FLASHBACK 


Eva encara Odila, respirando fundo, olhos ardendo de indignação.


EVA — (FINGINDO) Eu nunca faria isso! Isso é mentira! Eu amo o Rog mais do que tudo!


Odila sorri de lado, o deboche crescendo.


Odila caminha devagar, com sorriso de deboche, encarando Eva.


ODILA — (PROVOCATIVA) Ah, Eva… tá tentando se fazer de santa, né? Mas por dentro… só vejo uma vadia querendo atenção.


Eva arregala os olhos, o ódio cresce como fogo.


EVA — (GRITANDO, FURIOSA) CALA BOCA, SE NÃO EU ENFIO A MÃO NA SUA CARA!


Odila dá um passo mais próximo, ignorando o aviso, inclinando-se, voz baixa e venenosa:


ODILA — (SUSSURRANDO, CRUEL) Vai lá… tenta me bater. Só mostra o quanto você é fraca.


Eva explode de raiva. Num movimento rápido, agarra Odila pelo pescoço, empurrando-a contra o sofá.


EVA — MORRE DIABA, MORRE!


Rog desce as escadas correndo, a respiração pesada. Ele estende os braços, tentando separar Eva e Odila, que se agarram no meio da sala.


ROG — Ei! Para com isso, agora!


O som do choque das mãos e corpos ecoa pelo ambiente, enquanto o olhar de Rog se alterna entre preocupação e raiva.


ROG — O QUE TÁ ACONTECENDO AQUI? 


Close em Odila e Eva.


Corte para: 


CENA 09. PENSÃO DE CLARA. QUARTO DE JULIO. INT. DIA.


Júlio está deitado na cama, imóvel, os olhos fixos na foto da mãe sobre o criado-mudo. O quarto está silencioso, só o tique-taque do relógio quebrando o silêncio.


JÚLIO — (olhando para a foto) Eu tô fazendo isso por você, mãe… por você.


Close extremo na foto 3×4 de Edna. O retrato permanece imóvel, cada detalhe do rosto congelado no tempo. Seus olhos parecem carregar lembranças, amor e silêncio, refletindo tudo que Júlio sente.


O ambiente some: não há som além da respiração contida de Júlio, quase imperceptível, como se o tempo tivesse parado.


CORTE RÁPIDO – FIM DO CAPÍTULO 


A novela encerra seu segundo capítulo ao som da sonoplastia Delícia/Luxúria - Sophia Chablau (tema de Abertura)


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