A INTRUSA - CAPÍTULO 19 - 15/09/2025

 

A INTRUSA

CAPÍTULO 19

UMA NOVELA DE TAÍS GRIMALDI


CENA 1. MANSÃO DOS GODOY BUENO. JARDIM. EXT. DIA

 

A sirene da ambulância corta o ar como uma navalha. O som ecoa entre as palmeiras e os coqueiros do jardim tropical — mas o cenário, luxuoso e iluminado, não disfarça o horror.

Vivi, desacordada, é levada às pressas por paramédicos. Seus cabelos esvoaçam como num clipe antigo, a pulseira escorrendo sangue seco, o rosto pálido — como uma flor despetalada num buquê de ouro.

Cecília, desfigurada pela dor, agarra Carlos como se ele fosse a última âncora de uma vida que afunda.

CECÍLIA - (entre soluços) Se minha menina morrer eu morro junto. Que vida é essa sem ela? Que mundo?

Carlos tenta confortá-la, mas os olhos dele também estão em ruínas.

Do lado, Lívia, fria como uma espada, observa o desespero da mãe com um sorriso disfarçado de desprezo.

LÍVIA - (baixa, cruel) Dá show por uma filha só. A outra você deixa sangrar sozinha se preciso.

Cecília congela. Depois de um segundo de silêncio absoluto, como numa pausa de orquestra, ela se separa de Carlos, caminha até Lívia com passos firmes.

CECÍLIA - (olhos em chamas, postura ereta) Tenha modos, Lívia. Isso aqui não é uma passarela de veneno. É um campo de batalha. E a sua irmã pode não sair viva.

CORTE DE CÂMERA:


Deslizamos pelo jardim até encontrar
 Lari Pacotão, trêmula, agarrada ao braço de Armand, o mordomo que parece saído de um filme de Almodóvar.

LARI PACOTÃO -(sufocando o choro) Mana, eu preciso ver a Carolina. Me leva! Bicha, me leva ou eu morro junto!

ARMAND - (confuso, mas gentil — em espanhol) No entendo ¿Por qué tú sientes tanto por ella? ¿Qué hay entre ustedes?

Lari hesita, mas respira fundo, a maquiagem borrada como uma pintura expressionista.

LARI PACOTÃO - (baixa) No momento certo, você vai saber. Mas agora deixa eu lutar por ela. É tudo que me resta.

TRANSIÇÃO:


Dentro do carro,
 Daniel está transtornado. Ele soca o painel com fúria. As lágrimas escorrem por um rosto que tenta manter a virilidade e falha miseravelmente.

DANIEL - (gritando) Eu não posso perder ela! Ela é minha vida!

Valquíria, sentada ao lado, gira lentamente os anéis nos dedos. O batom vermelho permanece intacto.

VALQUÍRIA - (sussurrando, gélida) Ela é mulher do seu irmão. Comporte-se como um cunhado e não como um amante desesperado.

DANIEL - (olhos arregalados) Você é um monstro.

VALQUÍRIA - (sorri) Monstros são previsíveis. Eu sou outra coisa.

O carro parte como um animal ferido.

CORTE DE CÂMERA:


Laura, que todos conhecem como Selma, assiste à cena de longe, imóvel. Mas Lucinha surge como uma sombra e a agarra pelo braço com força.

LUCINHA - (entre dentes) Foi você? Hein, cobra? Você armou isso?

LAURA - (se desvencilhando, olhos em brasa) Querida, se eu quisesse matar alguém, não seria tão amadoramente.

LUCINHA - (ameaçadora) Se a Carolina morrer, você morre também.

LAURA - (sorriso cortante) Mais uma pra manipular. Que tédio.

CORTE DE CÂMERA:


No limite do jardim, vemos
 Madson desmoronando nos braços de Rudolfe, que permanece impassível como uma estátua de mármore francês.

MADSON - (chorando) Por favor, me leva, eu preciso ver ela.

RUDOLFE - (sem emoção, voz baixa, cruel) Non, chérie. Você vai se vestir. O Felipe nos espera no veleiro. O jantar é às oito.

MADSON - (olha, incrédula) Você não tem coração...

RUDOLFE - (fixando os olhos nela, como um espelho vazio) L’amour ne sauve personne.

CORTA PARA.

CENA 2. GUARUJÁ. ANOITECER. EXT. 


SONOPLASTIA — “YOU SHOULD SEE ME IN A CROWN”, BILLIE EILISH

 

O céu do Guarujá sangra em tons de púrpura e laranja. A brisa marítima sopra como um sussurro antigo, carregando promessas de caos e vingança. As luzes das mansões acendem uma a uma, como olhos despertos em um corpo adormecido.
O mar reflete os últimos raios do sol, mas a câmera desliza pela areia com elegância traiçoeira — como uma serpente prateada. Um salto alto atravessa a calçada de pedras portuguesas. Um salto vermelho. O outro dourado. Caminhar com eles é um ato de guerra.

Os olhos da mulher — ocultos por um par de óculos escuros Chanel, mesmo sem sol — percorrem a cidade como quem assina uma sentença de morte com o olhar. Cada passo dela impõe silêncio. Cada batida da trilha sonora ecoa como um tambor cerimonial.

As ruas estão em câmera lenta. Homens viram o rosto. Mulheres franzem o cenho. Crianças param de correr. O mundo respira mais devagar quando ela passa.

Ela cruza uma esquina onde o vapor de uma barraquinha de milho sobe como fumaça de filme noir. O vendedor tenta dizer algo, mas sua boca não tem som. A presença dela — sombria, glamourosa, perigosa — emudece.
Um táxi preto e reluzente encosta. Ela entra sem dizer nada. A porta se fecha como um segredo.
A cidade corre pelas janelas. Luzes tremeluzem. A câmera foca seu colo — uma luva preta cobre metade da mão, o esmalte vinho completa o resto. Ela segura um isqueiro dourado com as iniciais de alguém que já morreu.
A fachada do
 Hospital Santa Beatriz surge diante do táxi. Fria. Iluminada. Impiedosa. A sirene de uma ambulância risca o ar. Portas giratórias. Uniformes brancos. Vidas à beira do fim.

CORTA PARA:

CENA 3. HOSPITAL SANTA BEATRIZ. SALA DE ESPERA. INT. NOITE

O ambiente é asséptico, branco demais, silencioso demais. As cadeiras desconfortáveis contrastam com os trajes de grife dos presentes. As luzes fluorescentes iluminam rostos tensos, olhares cruzados cheios de julgamento e desconfiança. O ar tem cheiro de desinfetante e tragédia suspensa.

Marco Aurélio caminha de um lado a outro, as mãos trêmulas tentando esconder a inquietação.
Valquíria, impecável, observa o marido com um misto de desprezo e cinismo. Os olhos frios, os lábios cerrados. Ela já sabe. Sempre soube.
Daniel, num canto, tenta não explodir. O ciúme é o seu perfume.
Cecília está sentada, quase desfeita. Os olhos vermelhos, os cabelos desalinhados. Ao lado, Carlos segura sua mão, aflito, calado, impotente.
Lívia rola os olhos com indiferença ensaiada — como quem julga até a dor alheia.
Lari Pacotão murmura algo em pajubá para Lucinha, que aperta sua mão com força, tentando conter as lágrimas.

A porta se abre. O médico entra. De jaleco, rosto cansado, mas profissional. Vai diretamente até Marco Aurélio. Todos se levantam num movimento sincronizado, como se estivessem numa peça de teatro.

MÉDICO
(sério, mas calmo)
Ela está fora de perigo. Foi só o susto da queda. Ingestão de água, um leve choque térmico. Está acordada. Consciente.

Um suspiro coletivo invade a sala. Um silêncio de alívio, mas não de paz. Há muito mais do que saúde em jogo ali.

MARCO AURÉLIO - (urgente) Posso vê-la?

O médico assente com um gesto sutil. Marco Aurélio sai apressado, sem olhar para ninguém.

DANIEL - (para si, mas alto o bastante) Ele corre como se fosse o marido.

VALQUÍRIA - (fria, seca) Mas é. E você devia parar de se comportar como um adolescente rejeitado.

CECÍLIA - (erguendo o rosto, quebrada, mas firme) Pelo menos agora sabemos que minha filha está viva.

LÍVIA - (venenosa, debochada) A dúvida é por quanto tempo.

Cecília vira-se, indignada. Levanta-se com a dignidade das grandes damas.

CECÍLIA - (olhando firme para a filha) Você não tem coração, Lívia. E se não aprendeu a ter modos em casa, vai aprender na dor.

Ela levanta a mão e dá um tapa seco no rosto de Lívia. Um silêncio ensurdecedor invade o hospital. Lívia leva a mão ao rosto, incrédula, os olhos brilhando de fúria.

CECÍLIA - (respirando fundo) Respeite sua irmã. Respeite essa família. Ou pelo menos tente se parecer com um ser humano.

Cecília se recompõe, elegante, mesmo despedaçada. Volta a se sentar. Carlos a acolhe com um olhar apaixonado, que ela quase não vê.

CORTA PARA.

CENA 4. HOSPITAL SANTA BEATRIZ. QUARTO DE VIVI. INT. NOITE

A iluminação é suave, levemente azulada. A luz da rua invade pelas persianas meio cerradas. O quarto tem o silêncio espesso das madrugadas em que tudo parece frágil demais.

Vivi está deitada, pálida, mas com os olhos acesos — olhos de quem sobreviveu a algo maior que o próprio corpo. A respiração ainda curta, mas firme. O soro pinga ritmado ao lado.

A porta se abre devagar. Marco Aurélio entra. Ele carrega no rosto o cansaço dos últimos dias, mas também algo mais profundo: medo. Medo de perder, de não entender, de já ter perdido.

Ele vai até ela, sem dizer nada no início. Apenas se aproxima, pega sua mão, e se deita sobre ela num gesto que mistura desespero e alívio. Um silêncio íntimo, cheio de não-ditos.

MARCO AURÉLIO - (alto o bastante, terno) Alguém tentou te matar, Vivi. Isso não foi acidente. Esse final de semana foi um erro. Um erro do qual eu nunca devia ter participado.

VIVI - (olhos fixos nele, voz baixa mas firme) Ou foi a única coisa certa. Se isso tudo aconteceu, é porque estamos perto da verdade. Talvez seja esse o preço.

Ele a olha. É um olhar de quem a conhece e, mesmo assim, não consegue decifrá-la por completo. Há algo nela que escapa.

MARCO AURÉLIO - Você precisa descansar. Não tem condições de pensar nisso agora.

VIVI - (serena, obstinada) Eu preciso falar com a Lívia.

MARCO AURÉLIO - (nervoso, controlado) Lívia não é confiável. Não agora.

VIVI - (olhos cravados nos dele) Exatamente por isso.

Um breve silêncio. Ele hesita. Ela segura sua mão, com doçura. Pela primeira vez, os dois se tocam sem mágoas, sem jogos. Há afeto real ali. Algo antigo, ainda vivo.

VIVI - (baixo) Você confia em mim?

MARCO AURÉLIO - (baixando a cabeça) Sempre confiei.

Ele se inclina, beija sua testa, com um carinho que não é só de irmão. É de algo mais íntimo, mais profundo, mais impronunciável.

Ele já vai saindo, quando ouve a voz dela, suave, mas cortante.

VIVI - (sem olhar) Lari Pacotão está aí?

Marco Aurélio para. Volta-se devagar.

MARCO AURÉLIO - Está. Esperando, aflita.

VIVI - (entra num tom quase sussurrado, enigmático) Então diz pra ela não esquecer do que prometeu. E que vá sozinha.

Ele a encara. Não pergunta. Apenas assente. Fecha a porta. A câmera se mantém em Vivi, deitada, olhando para o teto. Um leve sorriso surge em seus lábios.

Ela sabe o que está fazendo.

CORTA PARA:

CENA 5. HOSPITAL SANTA BEATRIZ. SALA DE ESPERA. INT. NOITE

A sala de espera está mergulhada numa penumbra acolhedora, mas o ar é tenso, quase elétrico. As luzes brancas refletem nos rostos ansiosos de Valquíria, Daniel, Cecília, Carlos, Lívia, Lari Pacotão, Lucinha e Armand, todos atentos à porta.

Marco Aurélio surge. O silêncio é imediato. Ele para, encara o grupo e anuncia, com a gravidade dos que carregam o peso do mundo:

MARCO AURÉLIO - (aliviado, mas tenso) Ela está bem. Foi só o susto. Está acordada.

Um suspiro coletivo. Um breve alívio. Mas não dura.

MARCO AURÉLIO -(olhando diretamente para a irmã) Lívia, ela quer falar com você.

LÍVIA - (sarcástica, com o veneno de quem não perdoa) Ah, que romântico. A irmã caída chama pela irmã vingadora.

Ela se levanta com elegância e sai, deixando um rastro de perfume e ironia.

Marco Aurélio caminha até Lari Pacotão, mais contido. As palavras são discretas, mas carregadas de sentido.

MARCO AURÉLIO - (baixo, firme) Ela disse pra você não esquecer do compromisso. E que vá sozinha.

LARI PACOTÃO - (olhar firme, quase comovida) Eu nunca esqueceria.

Ela vira-se para Armand, que a observa com intensidade. Ele tenta segurá-la, mas Lari pousa a mão sobre o peito dele, com delicadeza.

LARI PACOTÃO - (com ternura em pajubá) Mais tarde a gente se tromba, meu galego. Me espera na mansão.

ARMAND - (olhos fixos nela) Te esperaré. Siempre.

Ela sorri, quase trêmula, e sai com a postura de uma mulher que sabe o que está prestes a enfrentar. Silêncio.

VALQUÍRIA - (venenosa, com um sorriso cínico) Deve ser bom ter tanta certeza de si até quando se está do lado errado da história.

MARCO AURÉLIO - (olhar cortante, sem elevar a voz) Você devia se preocupar mais com os seus próprios erros, Valquíria. O passado já está cobrando — e com juros.

VALQUÍRIA - (encarando-o com ódio velado) Você não sabe com quem está falando.

MARCO AURÉLIO - (seco) Sei. E estou cansado do som da sua voz.

Silêncio pesado. A tensão é cortante, como uma navalha polida. A câmera fecha em Valquíria, que o encara com fúria contida. Depois, corta para o corredor, onde Lari Pacotão caminha sozinha, seus saltos ecoando pela frieza dos azulejos do hospital. Ela desaparece na penumbra.

CORTA PARA.

CENA 6. HOSPITAL SANTA BEATRIZ. QUARTO DE VIVI. INT. NOITE

O quarto é amplo, moderno, mas gélido. Cortinas translúcidas dançam suavemente com o vento noturno que entra pela janela entreaberta. A luz é difusa, levemente azulada, como em um aquário de silêncio e segredos. O som do monitor cardíaco marca o tempo como um metrônomo fúnebre.

Vivi está sentada na cama, vestindo um robe hospitalar claro, cabelos presos de forma sóbria, mas elegante. Seus olhos fixos na porta denunciam que ela está à espera de um confronto. O que há nela não é medo — é preparo. Ela se ajusta na cama com leveza, como quem se ajeita para um duelo verbal.

A maçaneta gira. A porta se abre lentamente.

Lívia entra com a precisão de uma personagem que sabe a força da sua presença. Seu figurino é clássico, de cores neutras e linhas duras. O batom vermelho é o único elemento fora da paleta da culpa — e da morte. Seus olhos percorrem o quarto com um misto de superioridade e desprezo. Ela acredita estar diante de Carolina.

VIVI - (seca, sem hesitar) A gente precisa retomar a conversa de Campos do Jordão. Eu não esqueci.

LÍVIA - (um sorriso leve, de ácido puro) Uma pena não estar escolhendo o teu caixão (pausa sutil) em vez de ficar batendo papo.

VIVI - (cortante) Foi você?

Lívia caminha até a poltrona do quarto. Senta-se com a leveza das pessoas perigosas.
LÍVIA - Claro que fui eu. Você precisava sair do caminho. (um silêncio estratégico) Só assim eu ficava com o Daniel. Ele jamais me olharia se soubesse que estava grávida dele.

INSERT — FLASHBACK. MANSÃO DOS GODOY BUENO. SALA. CAMPOS DO JORDÃO. INT. NOITE

A luz é amarelada, a lareira crepita.
Carolina está em pé, em frente à irmã. Há uma taça de vinho em sua mão, que ela segura como quem segura o destino.

CAROLINA - Vou pedir o divórcio. Tô grávida do Daniel. (um sorriso sincero) A gente vai ficar junto.

Lívia ouve sem reagir. Seus olhos são uma lagoa turva. Nada revela, tudo afunda.

FIM DO INSERT.

De volta ao quarto. Vivi baixa os olhos por um segundo. Depois os ergue — agora mais escuros.

VIVI - Então você tentou me matar duas vezes. (um segundo de silêncio)
Mas olha só, estou viva. 

LÍVIA - (um microgesto de pânico que dura meio segundo)
Do que você tá falando? Eu só tentei acabar com sua existência deprimida esse final de semana (RI) Eu não seria incompetente ao ponte de tentar te matar duas vezes e ainda ter que olhar para tua cara. Mas acho que terei que fazer mais uma tentativa e evitar que você termine com minhas chances com Daniel....

VIVI - Fica tranquila. Eu não vou me separar do Marco Aurélio. (olhos marejados, mas a voz é firme) Mas quero te informar que o acidente me fez perder o bebê.

LÍVIA - (engole seco, sem conseguir disfarçar o alívio)
Você perdeu?

VIVI - (encarando-a com calma) Daniel ia adorar saber que foi você quem matou o filho dele.

Lívia levanta-se de supetão. Pela primeira vez, frágil. A maquiagem treme nos olhos.
LÍVIA – Não. Por favor. Não conta pra ele.
(implorando)Eu te suplico.

VIVI - (suave como veneno em perfume francês) Eu não conto. Mas você vai me deixar em paz. (acrescenta) Pra sempre.

Lívia hesita. Depois, assente. Há uma dignidade falsa nesse gesto — como quem assina um contrato com o próprio diabo.

As duas se encaram por um longo tempo. A tensão entre elas é uma corda esticada entre verdades e mentiras.

CORTE PARA:

 

CENA 7. GUARUJÁ. MAR ABERTO. EXT. NOITE

 

A 5ª Sinfonia de Beethoven invade a cena como um prenúncio fúnebre. O mar, em fúria, é um personagem. A noite é absoluta, sem lua, sem estrelas. Apenas o clarão ocasional de relâmpagos revela a brutalidade da tempestade.

Um veleiro luta contra as ondas. A chuva atinge o convés como agulhas lançadas por um deus cruel.

Felipe e Rufolfe, encharcados, aos gritos, tentam controlar o mastro que balança como um chicote. Ambos estão com coletes salva-vidas, os rostos marcados pelo desespero.

FELIPE - (gritando para o vento) Segura a vela! Vai virar!

RUDOLFE - (tentando firmar-se) A bomba d’água falhou! Tá entrando água pelo casco!

A câmera os segue com nervosismo — cortes rápidos, movimentos bruscos. Eles escorregam, se agarram às cordas, aos trilhos, ao pouco que resta da esperança de manter o barco em pé.

Madson aparece rapidamente em segundo plano, lutando contra algo fora da câmera. Depois, desaparece da composição. A câmera não o procura. O público nota antes dos personagens.

A trilha cresce, nervosa. Beethoven soa como se estivesse sendo tocado sob tortura.

O tempo avança — e a tempestade perde força. A água que invadia o barco começa a ceder. A respiração de Felipe e Rudolfe se estabiliza.

RUDOLFE - (olhando ao redor) Cadê a Madson?

FELIPE - (ele para, confuso) Ela tava aqui atrás de mim...

Ambos se olham. O vento parou, a música quase silencia. A câmera vai até o mar: boiando suavemente, entre destroços e espuma, o colete salva-vidas de Madson.

A 5ª Sinfonia retoma com força máxima.

RUDOLFE - (berrando com a alma rasgada) MADSOOOOON!!!

A câmera se afasta lentamente, em grua aérea. O veleiro frágil, perdido no mar escuro. Gritos, relâmpagos ao fundo, e o eco do nome de Madson diluído pela vastidão do oceano.

CORTE PARA:


FIM

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