🌊 GOLPE AO CORAÇÃO - CAPÍTULO 03

 



GOLPE AO CORAÇÃO 

CAPÍTULO 02

CENA 01. MANSÃO AVELAR. SALA. NOITE. INT

Paula estĂĄ sentada no sofĂĄ da mansĂŁo, aflita, olhando para o relĂłgio. A porta se abre,Carmen entra.

PAULA: Carmen, minha filha… finalmente vocĂȘ chegou!

CARMEN: Boa noite, titia. Eu sĂł saĂ­ um pouco.

PAULA: VocĂȘ e essas suas escapadas ainda vĂŁo me matar do coração. Onde vocĂȘ esteve?

CARMEN: Acho que isso agora nĂŁo importa...

O fato Ă© que… amanhĂŁ, eu vou me casar.

PAULA (assustada): Como assim? Com quem?

CARMEN (encarando-a): Com o InĂĄcio.

PAULA (atĂŽnita): Mas… como vocĂȘ…?

CARMEN: Quer saber como eu consegui? É uma longa história, tia. Mas agora eu vou dormir. Amanhã será um grande dia.

PAULA: Mas vocĂȘ ainda nĂŁo me deu nenhuma explicação!

CARMEN (jĂĄ subindo as escadas): Te explico amanhĂŁ, tia. Boa noite.

Carmen desaparece no corredor. Paula fica imĂłvel, perplexa.

PAULA (para si, desconfiada):O que essa menina estĂĄ aprontando…?

CENA 02. VILA ESPERANÇA. AMANHECER. EXT

O sol nasce sobre o mar, barcos de pesca voltam para a margem, crianças correm pela praia. Moradores abrem as janelas, varrem as calçadas, acenam uns para os outros,o sino da igreja toca ao fundo.

CENA 03. CASA DE MERCEDES. SALA. MANHÃ. INT

Amparo estå à mesa, tomando café com calma,Mercedes entra apressada.

AMPARO (sorrindo): Bom dia, minha filha.

MERCEDES: Bom dia, mamĂŁe.

AMPARO: Senta aqui, toma um café da manhã comigo.

MERCEDES: NĂŁo posso, estou com pressa. Quando eu voltar, eu como alguma coisa.

AMPARO: E aonde vocĂȘ vai com tanta pressa?

MERCEDES: Vou à casa do Inåcio. Ele me prometeu vir ontem... E até agora, nada. Preciso entender o que estå acontecendo.

Mercedes se aproxima, beija a mãe na bochecha e jå vai em direção à porta.

MERCEDES: Eu volto jĂĄ, mamĂŁe.

AMPARO (com o semblante preocupado):

Vai com Deus, minha filha...

Mercedes sai. Amparo fica sozinha, imóvel, com a xícara de café na mão.

CENA 04. MANSÃO DE RODRIGO. QUARTO. MANHÃ. INT

GlĂłria estĂĄ organizando o quarto, sacode almofadas, ajeita cortinas. Soledad, sua filha, deita-se na cama, exausta.

GLÓRIA (impaciente): Levanta daĂ­, menina! Isso aqui nĂŁo Ă© lugar de descanso, nĂŁo!

SOLEDAD (resmungando): Ai, mãe... só um minutinho. TÎ morta! Jå lavei dois banheiros, varri o påtio, fiz café...

GLÓRIA (determinada): E ainda falta terminar esse quarto. O patrão novo chega hoje, lembra? A casa tem que estar brilhando!

SOLEDAD (curiosa): Quem serĂĄ esse tal patrĂŁo, hein? Deve viver de terno e gravata, cheirando a perfume caro. Aposto que a esposa dele Ă© uma daquelas patricinhas mimadas...

GLÓRIA (cortando): Que eu saiba, ele Ă© viĂșvo. Mas chega de fofoca, menina. Levanta e vai no mercado buscar o que falta pro jantar. E vĂȘ se nĂŁo se distrai no caminho!

SOLEDAD (jå de pé, rindo): Tå bom, tå bom... Jå vou. Não pode mais descansar nessa casa.

GLÓRIA: Vai logo menina!

CENA 05. CASA DE ALFREDO. SALA. MANHÃ. INT

InocĂȘncio estĂĄ sentado no sofĂĄ, lendo o jornal. AlguĂ©m bate firme Ă  porta. Ele bufa, irritado, e vai abrir.

INOCÊNCIO (resmungando):Será que eu não tenho um minuto de paz?

Ao ver quem Ă©, muda o tom para seco.

INOCÊNCIO: Mercedes...

MERCEDES (nervosa): Bom dia, senhor InocĂȘncio. Eu... eu vim falar com InĂĄcio.

INOCÊNCIO (frio): NĂŁo adianta, ele nĂŁo estĂĄ. E mesmo que estivesse, vocĂȘ nĂŁo Ă© bem vinda.

MERCEDES: Eu preciso vĂȘ-lo. Ele prometeu vir ontem… Eu estou muito preocupada.

INOCÊNCIO (encarando-a): Vou ser direto, Mercedes. Esqueça o meu filho.

MERCEDES (confusa): O que estĂĄ dizendo?

INOCÊNCIO: InĂĄcio nĂŁo Ă© para vocĂȘ. Ele fez uma escolha melhor. EstĂĄ se casando hoje.

MERCEDES (atĂŽnita): O quĂȘ?

INOCÊNCIO: É isso mesmo que ouviu. Ele vai se casar com Carmen Avelar. Uma mulher à altura dele. Com nome, com dinheiro, com futuro.

MERCEDES (incrĂ©dula): NĂŁo… isso nĂŁo pode ser verdade. Ele me prometeu… ele disse que me amava!

INOCÊNCIO (cortante): Promessas de pobre nĂŁo valem nada, menina. Agora, vĂĄ embora. NĂŁo insista. NĂŁo hĂĄ mais lugar pra vocĂȘ na vida dele.

Mercedes, em choque, dĂĄ um passo para trĂĄs. Ela tenta conter as lĂĄgrimas, mas os olhos jĂĄ brilham.

MERCEDES (voz embargada): Isso nĂŁo pode estar acontecendo...

Ela vira as costas lentamente e sai. Do lado de fora, quando fecha a porta, deixa que as lĂĄgrimas caiam.

CENA 06. MANSÃO DE RODRIGO. DIA. INT

O carro para em frente à mansão. O motorista começa a retirar as malas do porta-malas.

Rodrigo, Celine, LuĂ­z e Olga descem e observam a grande mansĂŁo.

CELINE (suspirando): Finalmente chegamos. Achei que essa viagem nĂŁo ia ter fim.

OLGA (olhando ao redor com surpresa): AtĂ© que… nĂŁo Ă© tĂŁo horrĂ­vel como eu imaginava. Com uma vista dessas, talvez eu me acostume.

RODRIGO (virando-se para Luiz): Luiz,quero que vocĂȘ se instale aqui na mansĂŁo. Preciso de vocĂȘ por perto, coordenando tudo. A filial vai exigir agilidade.

LUIZ: Como preferir, Rodrigo. Estou à disposição.

RODRIGO: Ótimo. Vamos atĂ© o escritĂłrio. Quero revisar os relatĂłrios e discutir os prĂłximos passos.

Rodrigo e Luiz entram na mansĂŁo.

Celine e Ofélia ficam do lado de fora, observando a fachada.

CELINE (quase sussurrando): MamĂŁe... Eu sinto que essa viagem vai mudar tudo.

OFÉLIA (sem sarcasmo, pela primeira vez): Eu espero que sim, Celine. Para o seu prĂłprio bem… eu realmente espero.

As duas trocam um olhar,ao fundo, o motorista fecha o porta-malas com um baque suave.

CENA 07. MANSÃO AVELAR. QUARTO DE CARMEN. MANHÃ. INT

Carmen, vestida de noiva, estĂĄ diante do espelho. Seu vestido Ă© bonito, mas simples. Ela se observa com um sorriso contido. Paula, sentada na beirada da cama, observa em silĂȘncio.

CARMEN (Sorrindo, ajeitando o véu) : E então, tia? O que achou? Fiquei bonita?

PAULA: VocĂȘ estĂĄ linda, minha filha… Mas isso nĂŁo Ă© o que me preocupa.

CARMEN (Sem encarĂĄ-la): EstĂĄ tudo certo, tia Paula. Hoje Ă© o meu dia. Eu vou me casar com o InĂĄcio.

PAULA: Carmen… vocĂȘ sabe que ele estĂĄ fazendo isso por dinheiro. NĂŁo Ă© amor. Isso… isso pode te machucar mais do que imagina.

CARMEN: Eu sei. Mas também sei o que é viver sendo rejeitada a vida inteira por manca. Se não posso ter amor, pelo menos posso ter companhia. Uma chance de não envelhecer sozinha.

PAULA (Voz embargada): VocĂȘ merece mais do que isso, minha filha. VocĂȘ merece alguĂ©m que te olhe com carinho verdadeiro, nĂŁo com dĂ­vida.

CARMEN: E se esse alguĂ©m nunca aparecer? Eu estou cansada de esperar, tia. Talvez o amor venha com o tempo… ou talvez nĂŁo. Mas ao menos, pela primeira vez, tentarei ser feliz.

Carmen se aproxima e segura a mão da tia, com doçura.

CARMEN (CONT'D): Confie em mim. Eu preciso fazer isso. Mesmo que doa.

Paula a encara com os olhos marejados, acaricia sua mĂŁo em silĂȘncio.

PAULA: Que Deus te proteja, minha filha.

CARMEN: Amém.

Carmen dĂĄ o Ășltimo retoque no vĂ©u, resepira fundo diante do espelho.

CENA 08.MANSÃO DE RODRIGO. ESCRITÓRIO. TARDE. INT

Rodrigo estĂĄ sentado Ă  mesa, concentrado. Ele assina o Ășltimo documento que Luiz lhe entrega.

LUÍZ: Esse Ă© o Ășltimo.

Rodrigo assina e encosta-se na cadeira, exausto.

RODRIGO: Finalmente… Espero que tudo saia como o planejado. Essa filial Ă© um novo começo e nĂŁo posso me dar ao luxo de fracassar.

LUIZ: Confie em vocĂȘ, Rodrigo. Voce Ă© excelente no que faz. Mas por que nĂŁo aproveita e tira a noite pra si? Um barzinho, umas conversas… a vila parece atĂ© animada.

RODRIGO: Prefiro o silĂȘncio da casa. A viagem foi desgastante, e sinceramente, nĂŁo estou com Ăąnimo pra festa.

LUÍZ: E se eu chamar a Celine? Aposto que com ela vocĂȘ mudaria de ideia.

RODRIGO: Boa sorte com isso.

CENA 09. MANSÃO DE RODRIGO. SALA. TARDE. INT

Celine estå de pé organizando papéis em cima da mesa. Luíz entra com um leve sorriso e se aproxima.

LUIZ: Boa tarde… Pensei em convidĂĄ-la para jantar fora hoje. Eu, vocĂȘ… um pouco de ar fresco. Que me diz?

CELINE (Seca, sem tirar os olhos dos papéis) : Definitivamente, não.

LUÍZ: Nem pra relaxar um pouco?

CELINE (Empilha os papéis com firmeza): Eu não vim aqui pra passear, Thiago. E muito menos pra me misturar com o povoado. Além disso, Rodrigo precisa de mim. Ainda estå frågil.

LUÍZ (Observando): VocĂȘ se preocupa demais com ele.

CELINE(SĂ©ria): Claro que me preocupo. Rodrigo salvou a mim e Ă  minha mĂŁe da ruĂ­na. Ele foi o Ășnico que nos estendeu a mĂŁo quando todos viraram.

LUÍZ: Mas… vocĂȘ sabe que ele ainda vive em luto. Ele nĂŁo te vĂȘ como vocĂȘ gostaria.

CELINE (com firmeza): NĂŁo ainda. Eu vou conquistar Rodrigo. NĂŁo importa quanto tempo leve. Ele pode nĂŁo ver agora, mas um dia… vai entender que sou eu quem sempre esteve aqui. Ao lado dele. Que sou eu quem ele precisa.

A cĂąmera foca no sorriso sutil de Celine.

CENA 10. IGREJA. DIA. INT

InĂĄcio estĂĄ em frente ao padre, com poucos convidados assistindo. Ele parece distante, perdido em seus pensamentos.

FLASHBACK ON

INÁCIO se ajoelha em frente a Mercedes, com uma caixinha de anel nas mãos.

INÁCIO: Mercedes, aceita se casar comigo?

MERCEDES (Sorrindo, emocionada): Mas Ă© claro que sim!

InĂĄcio coloca o anel no dedo de Mercedes, e os dois se beijam apaixonadamente.

INÁCIO: Eu te amo profundamente.

MERCEDES: E eu te amo ainda mais, meu amor. Esperei tanto por esse momento.

Eles se beijam apaixonados.

FLASHBACK OFF

InĂĄcio retorna ao presente, com lĂĄgrimas nos olhos.

INÁCIO (Sussurrando): Me perdoe, Mercedes… me perdoe.

Nesse momento, Carmen entra na igreja, sorrindo, acompanhada de seu padrinho, MaurĂ­cio, enquanto Paula os segue de perto. Carmen se aproxima de InĂĄcio, e MaurĂ­cio a entrega a ele com um sorriso.

PADRE: Estamos reunidos aqui para celebrar o amor de Carmen e InĂĄcio e testemunhar a uniĂŁo de suas vidas em matrimĂŽnio. Hoje, eles escolhem dar esse importante passo, prometendo compartilhar alegrias, superar desafios e construir um futuro lado a lado.

CENA 11. IGREJA. EXT

Mercedes se aproxima da igreja, chorando e com o coração apertado. Ela entra na igreja e vĂȘ InĂĄcio e Carmen juntos, prestes a se casar.

PADRE: Se alguém tiver algo contra essa união, fale agora ou cale-se para sempre.

O ambiente se silencia, mas Mercedes, em um impulso, interrompe.

MERCEDES (Gritando, sem conseguir conter as lĂĄgrimas): Eu…

Todos na igreja se voltam para ela, surpresos e tensos.

MERCEDES (Olha fixamente para InĂĄcio): Como vocĂȘ pode fazer isso comigo, Alfredo? Depois de tudo… depois do que prometemos?

InĂĄcio a encara, hesitante e abalado.

INÁCIO: Mercedes, eu…

Carmen segura o braço de Alfredo, e uma expressão de medo e raiva começa a surgir em seu rosto.

CARMEM (Firme, mas com o tom inseguro): InĂĄcio, pense em tudo que eu fiz por vocĂȘ .

PADRE: Precisamos resolver isso antes de continuar.

O clima na igreja se torna pesado, com todos os olhares voltados para o trio em confronto.

FIM DO CAPÍTULO 

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