GOLPE AO CORAÇÃO
CAPÍTULO 01
CENA 01.PRAIA ESPERANÇA. MANHÃ. EXT
O sol da manhã banha a areia. Gaivotas sobrevoam sobre o mar calmo, Mercedes descalça, deixa que a água molhe seus pés enquanto contempla o horizonte. De repente, mãos masculinas cobrem seus olhos.
HOMEM (sussurrando): Adivinha quem é?
MERCEDES (sem se virar) Suponho que seja o homem mais lindo da face da Terra.
Inácio a abraça por trás e a beija na nuca,se volta e eles se beijam.
MERCEDES: Achei que não viesse mais…
INÁCIO: Eu prometi. E quando prometo, cumpro nem que tivesse de nadar até aqui.
Mercedes sorri, emocionada.
MERCEDES: Senti tanto a tua falta…
INÁCIO: Eu também. Contei cada minuto esperando por este momento.
MERCEDES: Estou cansada de amar às escondidas. Quando vamos viver o nosso amor livremente? Construir uma casa,ouvir o riso dos nossos filhos…
Inácio segura as mãos dela com firmeza, respirando fundo.
INÁCIO: Por isso mesmo preparei… uma pequena surpresa. Fecha os olhos.
Mercedes obedece. Inácio se ajoelha na areia úmida, tira do bolso uma caixinha de veludo simples e a abre.
INÁCIO (voz embargada): Casa comigo?
Mercedes arregala os olhos, lágrimas caem.
MERCEDES:É sério?
INÁCIO: É simples mas comprei com cada centavo do meu trabalho,ele carrega todo o amor que existe em mim.
Mercedes toca no rosto dele, comovida.
MERCEDES: O que importa não é o brilho da joia, e sim o valor sentimental . Ele é lindo…
INÁCIO: Então… aceita?
ALMA: É claro que sim!
Inácio desliza o anel no dedo dela e levanta-se, girando-a num abraço. Eles se beijam apaixonadamente.
INÁCIO: Hoje à noite baterei à porta da sua casa. Quero pedir tua mão a sua mãe.
MERCEDES: Promete que jamais vai desistir de nós?
INÁCIO: Nada nem ninguém vai me afastar de ti.
MERCEDES: Então este é o dia mais feliz da minha vida. Eu amo você.
INÁCIO: Eu amo você… mais do que tudo.
Eles se beijam novamente. A câmera se afasta lentamente, mostrando o casal abraçado
CENA 02. CASA DE MERCEDES.SALA. DIA. INT
Amparo, sentada numa poltrona antiga, costura com delicadeza. A porta se abre. Mercedes entra com um brilho nos olhos.
AMPARO (sem tirar os olhos da costura): Mercedes, minha filha... onde você se meteu?
MERCEDES: Fui dar uma volta na praia... com Inácio.
Amparo levanta os olhos, curiosa.
AMPARO: Com Inácio? E então?
Mercedes se aproxima devagar, senta-se ao lado da mãe e segura suas mãos.
MERCEDES (sorrindo, emocionada): Mãe... ele me pediu em casamento.
Amparo arregala os olhos.
AMPARO (em um sussurro): É sério?
Mercedes apenas assente, com os olhos marejados. O rosto de Amparo se ilumina num sorriso terno.
AMPARO (com ternura): Ai, minha filha... parabéns! Que notícia mais linda!
Ela larga a costura e a abraça apertado.
MERCEDES (com um riso leve, emocionada): Parece um sonho, mãe. Juro, nunca me senti tão feliz...
AMPARO (afagando o rosto dela): E eu nunca te vi tão radiante. Quando o amor é de verdade… a gente sente.
As duas se abraçam em silêncio.
CENA 03. CASA DE RODRIGO. CAPITAL. SALA DE JANTAR. DIA. INT.
A mesa está posta com elegância. Rodrigo, Celine e Olga almoçam.
RODRIGO: Sábado viajo para Vila Esperança. Estou planejando abrir uma filial da empresa por lá.
CELINE (animada, lançando um olhar à mãe): Que ótima ideia! Se quiser, eu e a mamãe podemos te acompanhar.
OLGA (surpresa, erguendo as sobrancelhas): Eu?
CELINE (sorrindo): Claro, mamãe! Você vive dizendo que precisa respirar novos ares.
RODRIGO (gentil): Por mim, seria um prazer ter a companhia de vocês. Se não for um incômodo, é claro.
CELINE: De forma alguma. Eu e mamãe é que somos gratas por tudo. Estar com você será um privilégio.
Neste momento, Luiz entra na sala com uma pasta de documentos em mãos.
LUIZ: Boa tarde a todos.
RODRIGO: Boa tarde, Luiz. Chegou mais cedo hoje. Sente-se, almoce conosco.
LUIZ: Agradeço, mas não posso. Vim apenas trazer alguns documentos para o senhor assinar.
Rodrigo pousa o guardanapo sobre a mesa, limpando a boca. Levanta-se.
RODRIGO: Certo. Me acompanhe até o escritório.
Ele se afasta, e Luiz o segue. Mas antes de sair, lança um olhar discreto para Celine.
LUIZ (com leve ironia): Tenha um ótimo dia, Celine.
Celine revira os olhos com desdém assim que ele sai.
CELINE (impaciente): Que sujeito insuportável.
OLGA (cruzando os braços): E essa história de ir para Vila Esperança? Está mesmo disposta a isso?
CELINE (decidida): Preciso me aproximar de Rodrigo... E Vila Esperança pode ser o cenário ideal. Lá não deve ser tão ruim. Farei o que for preciso para conquistá-lo.
OLGA (arqueando uma sobrancelha): Espero que essa vila tenha ao menos um hotel decente. Não sou obrigada a respirar o mesmo ar desse povoado melquetrefe por muito tempo.
CELINE (debochada): Ah, mamãe, não seja tão dramática! Vila Esperança não é o fim do mundo. Talvez até tenha algum charme... Um lugar tranquilo, diferente daqui.
OLGA (faz uma careta): Se não houver restaurante decente, será o fim do mundo pra mim. Imagine só, sem nada além de... comida caseira.
CELINE (sorrindo com ironia): Quem sabe não te faz bem, mamãe? Pode até se surpreender.
OLGA (com ceticismo): Se vamos nos dar ao trabalho de acompanhar Rodrigo, espero que isso ao menos nos traga algum retorno. Agora me diga, Celine... qual é o seu verdadeiro plano?
CELINE (olhar firme): Simples. Estar perto dele. Fazer com que enxergue quem sou. Rodrigo precisa ver que, ao meu lado, pode ter muito mais do que imagina. E talvez... essa vila seja o empurrão que faltava.
OLGA (encostando-se na cadeira): Que isso funcione então.
CELINE (confiante): Vai dar certo, mamãe. E quem sabe... Vila Esperança surpreenda nós duas.
A câmera foca no rosto de Celine bela, um leve sorriso em seus lábios.
CENA 04. BAR DO GARCIA. TARDE. INT
O som de gargalhadas e copos se misturam ao barulho da cidadezinha. Dentro, o ambiente é abafado, com poucos frequentadores.
Inocêncio,está encostado no balcão, um copo pela metade em mãos. Seus olhos estão vermelhos, o rosto suado.
INOCÊNCIO: Mais uma, garçom! Capricha... hoje é dia de esquecer da vida.
Garcia surge atrás do balcão, sério, braços cruzados.
GARCIA:: Você não vai beber mais nada, Inocêncio.
Inocêncio sorri, tentando manter o equilíbrio.
INOCÊNCIO: Oh, Garcia, meu velho amigo! Hoje tô generoso... põe na conta!
GARCIA (seco): A conta já passou do limite. Onde está o dinheiro que me deve?
INOCÊNCIO (tentando manter a pose): Eu já disse... vou pagar. Só preciso de mais um tempinho.
Garcia assobia de forma firme. Dois homens encostados perto da porta se levantam.
GARCIA (com frieza): Você procurou por isso. Façam ele pagar... do jeito que for.
Os homens se aproximam. Inocêncio tenta reagir, mas leva o primeiro soco e cai entre as cadeiras. Os frequentadores se afastam, assustados. Mesas são derrubadas. A confusão se espalha.
POLICIAL (alto): Que confusão é essa?!
Todos congelam. Um policial fardado surge à porta com a mão no coldre. Os agressores recuam. Inocêncio está no chão, sangrando pelo canto da boca.
Garcia limpa as mãos com um pano, tentando disfarçar.
GARCIA: Só… um mal-entendido, seu guarda.
POLICIAL (olhando ao redor): Parece mais uma emboscada. Vocês vao ter que me acompanhar até a delegacia.
A câmera foca no rosto de Inocêncio, ferido.
CENA 05. MANSÃO AVELAR. EXT. FIM DE TARDE.
Um carro preto elegante atravessa os portões de ferro forjado e estaciona na entrada principal da mansão. O jardim é impecavelmente podado.
Inácio, vestido com discrição e elegância, desce do carro e abre a porta para Carmem, que sai com delicadeza, apoiando-se levemente no braço dele.
CARMEN (com um sorriso suave): Obrigada pela companhia, Inácio.
INACIO: Não tem de quê. Só estou fazendo o meu trabalho. Precisa de mais alguma coisa?
CARMEN (balançando a cabeça): Por enquanto, não.
Inácio faz um leve aceno com a cabeça e se afasta em direção à garagem. Carmen caminha pelos degraus de mármore até a porta principal. Ao entrar, Paula, sua tia, desce as escadas com passo firme.
PAULA: Onde você estava, mocinha?
CARMEN (assustada): Ai, tia! Que susto… Fui só dar uma volta.
PAULA (cruzando os braços): Você não pode sair assim, sem avisar. Você...
CARMEN (interrompendo, irônica): Sou feia. Já sei, tia. Não precisa repetir.
PAULA (surpresa, magoada): Não era isso que eu queria dizer...
CARMEN (baixando o olhar): É que... a senhora não faz ideia de como é difícil viver assim. Às vezes... eu só queria sumir.
Paula se aproxima, abraça a sobrinha com firmeza.
PAULA (com ternura): Não fale assim, minha filha. Você é especial. Ainda vai descobrir isso… no tempo certo.
CARMEN (emocionada): Será que um dia eu vou ser feliz de verdade? Me casar, ter uma vida diferente?
PAULA: Claro que vai. O homem certo aparece quando a gente menos espera.
CARMEN (pensativa): E o que acha do Inácio? Ele é gentil… bonito... e tem me tratado tão bem.
Paula recua ligeiramente, surpresa.
PAULA: O Inácio? O motorista? Olha… ele pode ser um bom rapaz, mas também pode estar de olho em algo mais. É melhor ter cautela.
CARMEN (com dúvida nos olhos): Acha mesmo?
PAULA (faz que sim, preocupada): Só estou dizendo pra você proteger seu coração. Nem todos são o que parecem.
CARMEN:E o Carlos? Deu alguma notícia?
Paula revira os olhos, suspira fundo.
PAULA (cética): Carlos é sempre o mesmo… deve estar por aí, esbanjando dinheiro como se o mundo fosse um cassino particular.
Carmen sorri.
CENA 06. DELEGACIA. FIM DA TARDE. INT
Inocêncio está sentado no chão frio, encostado na parede, com as mãos sobre a cabeça. Seu rosto está machucado e abatido.
Ele se levanta lentamente, mancando, e vai até as grades de ferro, segurando-se nelas com força.
Do outro lado da sala, o delegado está sentado à sua mesa, preenchendo papéis.
INOCÊNCIO (desesperado): Delegado! Por favor... permita-me fazer uma ligação. Só uma. Eu imploro!
O delegado nem ergue os olhos.
DELEGADO (frio): Devia ter pensado nisso antes de causar confusão no bar, Inocêncio.
INOCÊNCIO (se aproximando mais das grades): É caso de vida ou morte! Pelo que vivemos no passado... pelo respeito que um dia existiu entre nós. Eu só preciso de um minuto. Uma única ligação.
O delegado para de escrever. Fica em silêncio por alguns instantes,levanta-se, pega um telefone fixo e caminha até as grades. Entrega-o a Inocêncio, com olhar duro.
DELEGADO: Um minuto. E se tentar alguma gracinha… vai se arrepender de ter nascido.
INOCÊNCIO: Obrigado. De verdade.
Ele digita rapidamente um número. O telefone toca do outro lado. Inocêncio respira fundo, enquanto o som da linha ecoa.
CENA 08. MANSÃO AVELAR. JARDIM. FIM DE TARDE.
Inácio está encostado discretamente no carro da mansão, observando o jardim impecável, com mãos nos bolsos.
Seu celular vibra. Ele olha o visor: número desconhecido. Hesita por um segundo, depois atende.
INÁCIO (atendendo): Alô?
VOZ (enfraquecida, do outro lado da linha): Inácio… sou eu. Teu pai. Tô preso.
Inácio empalidece, se afastando do carro.
ALVARO: Pai? O que foi agora?
INOCÊNCIO (com voz rouca): Uma confusão no bar… nada grave. Mas preciso da tua ajuda, filho. Só você pode me tirar daqui.
Inácio respira fundo, os olhos mirando o chão.
INÁCIO (decidido): Tô indo. Aguente firme.
Ele encerra a ligação e caminha apressado em direção à casa.
CENA 09. MANSÃO AVELAR. SALA DE ESTAR. INT. CONTINUAÇÃO.
Carmen está sentada no sofá, com um livro aberto no colo.
A porta se abre. Inácio entra às pressas,tenso. Carmen fecha o livro imediatamente.
CARMEN (preocupada): Inácio? Aconteceu alguma coisa?
INÁCIO (sério, ainda ofegante): Meu pai… está preso. Se meteu em mais uma das dele. Preciso ir até a delegacia agora.
CARMEN (levantando-se): Quer que eu vá com você?
INÁCIO : A prisão não é lugar pra senhorita Carmen. Isso pode ser pesado.
CARMEN (firme, sem hesitar): Eu faço questão. Você está sempre ao meu lado. Não vou te deixar enfrentar isso sozinho.
Inácio a observa por um instante.
INÁCIO (com um leve aceno): Está bem. Mas se prepare... não é o tipo de cena que a madame está acostumada.
Carmen pega sua bolsa sobre a poltrona e caminha ao lado dele.
CORTA PARA:
Os dois saindo da mansão e caminhando em direção ao carro.
CENA 10. DELEGACIA. INT. NOITE.
Inácio e Carmen entram apressadamente. Carmen observa o lugar com certo incômodo.
INÁCIO: Aguarde aqui, senhorita Carmen. Vou falar com o delegado.
Ela assente. Inácio caminha até o balcão, onde o Delegado preenche relatórios, sério.
INÁCIO (ansioso): Delegado... o que aconteceu com meu pai?
DELEGADO (sem levantar os olhos): Arrumou uma briga no bar do Garcia. Quebrou mesas, se envolveu com cobradores. Foi um caos.
INÁCIO: E o que precisa pra ele sair daqui?
DELEGADO: Só com o pagamento da fiança
O delegado estende um papel com o valor anotado. Inácio pega, lê... e arregala os olhos, atônito.
INÁCIO (chocado): Isso é um absurdo! De onde vou tirar tanto dinheiro?
DELEGADO (sério): Ou paga... ou ele permanece aqui até o julgamento. Sem exceções.
Inácio se afasta, perturbado. Carmen, observando de longe, se aproxima.
CARMEN (preocupada): E então? O que disseram?
INÁCIO (abatido): Meu pai só sai daqui se pagarmos a fiança. Mas é muito alta. Eu... não tenho como levantar essa quantia.
CARMEN: Deixa eu ver.
Ele entrega o papel. Carmen lê. Seu olhar se estreita, surpresa.
CARMEN (espantada): Nossa... é realmente muito dinheiro.
INÁCIO (angustiado, quase sussurrando): Eu não sei o que fazer, Carmen. Ele depende de mim… e eu me sinto impotente.
Carmen pensa por alguns segundos. Seu olhar muda.
CARMEN: Eu tenho uma solução, Inácio.
INÁCIO (confuso): Que solução?
CARMEN (olhando nos olhos dele): Case-se comigo.
INÁCIO (boquiaberto): O quê?
CARMEN (sem hesitar): Se você se casar comigo, eu pago a fiança do seu pai. E não só isso… prometo que vocês terão uma vida melhor. Eu posso oferecer isso.
Inácio a encara, completamente pego de surpresa.
FIM DO CAPÍTULO
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