O PREÇO DA VIDA - CAPÍTULO 03 (22/09/2025)

 

O PREÇO DA VIDA 


Criada e Escrita por: Luccas Sanza 


Capítulo 03


CENA 01. MANSÃO BLOND. SALÃO  INT. NOITE.


Plano fechado no salão. está imóvel na escada, o olhar pesado. De um lado, Eva, punhos cerrados, o corpo tremendo de raiva. Do outro, Odila, de braços cruzados, altiva, inabalável.


O silêncio corta a sala como uma lâmina.


ROG — Anda, gente… tô esperando alguma explicação. Falem.


EVA — (NERVOSA) A surtada da sua irmã começou, falando coisas horríveis sobre mim. Me tratando como se eu fosse uma desqualificada!


ODILA — (SARCÁSTICA) Desqualificada? Ah, minha querida, isso ninguém nunca duvidou. Eu só disse o que todo mundo já sabe: que você é uma vadiazinha carente, se jogando pro próprio enteado. Francamente… uma vergonha.


Eva avança furiosa contra Odila, mas Rog a segura antes do impacto. O olhar de Eva é puro ódio; o de Odila, puro desprezo.


ODILA — Solta ela, Rog. Deixa vir. Só vai provar que eu tô certa. Essa é a verdadeira Eva Blond — uma piranha parasita… que se deita com o próprio enteado.


EVA — Cala essa boca, sua desgraçada! Fica quieta! Fica quieta, que eu juro que te arrebento!


ROG — Eva… isso é verdade? É verdade?


EVA — Claro que não, meu amor! Essa velha senil só quer fazer inferno na nossa vida! Eu te amo, Rog! Eu te amo!


ODILA — (SARCÁSTICA, FRIA) Francamente… tem que ser muito ingênuo pra acreditar nessa pantomima ridícula. 


ROG — (GRITANDO) CALA A BOCA, ODILA! SAI DAQUI! SAI DAQUI!


ODILA — (DEBOCHANDO, FRIA) Mas é claro… com o maior prazer! Já estava de saída. Uma noite terrível pra vocês, meus queridos. Até…


EVA — Vai embora! Vai, diaba! Você é um inseto… DEMÔNIAAA!


Odila desaparece pela porta, deixando a sala mergulhada em um silêncio pesado, quase sufocante. Rog fica parado, o corpo tenso, os olhos fixos em Eva.


ROG — (VOZ BAIXA, CONTIDA, QUASE UM SUSSURRO) Eva… tudo aquilo que ela disse… é verdade?


Eva engole em seco, o olhar desviando, as mãos trêmulas.


EVA — (FORÇANDO UM SORRISO, RESPIRANDO RÁPIDO) Não… não é verdade, meu amor. Ela só quer nos separar… me… me provoca. Mas eu te amo, Rog… você sabe disso, não sabe?


Rog sente um nó no peito. Um silêncio denso se instala, como se o ar tivesse ficado mais pesado. Ele quer acreditar, mas algo na expressão dela desperta uma pontada de dúvida, lenta e insidiosa.


O olhar de Rog se perde na sala, procurando sinais, tentando decifrar onde termina a mentira e começa a verdade.


CENA 02. PLANOS GERAIS. RIO DE JANEIRO/PARIS. EXT. NOITE.

Instrumental: O Bombardeio - Victor Pozas.


A madrugada cai sobre o Rio. As luzes dos postes tremem no asfalto molhado. Um táxi cruza a avenida deserta, o som dos pneus corta o silêncio. Do morro, janelas acesas brilham como constelações. A chuva cai miúda, lavando os becos, enquanto o vapor sobe dos bueiros.


Corte para Paris. A chuva também cai — fina, elegante, refletindo os néons e o dourado dos cafés. Casais correm sob guarda-chuvas pretos, e uma mulher fuma na marquise, o batom borrado pelo vinho. A Torre Eiffel surge embaçada, respirando neblina.


A câmera avança pelas ruas molhadas até uma mansão antiga, cercada por um vasto gramado. As janelas iluminadas tremem sob o vento. Um portão de ferro se abre. Lá dentro, uma figura solitária observa a chuva cair.


O plano se afasta lentamente. A mansão se perde na escuridão, envolta pela chuva e pelo silêncio


Corte para: 


CENA 03. MANSÃO LEBLANC. INT. NOITE.


O instrumental da cena anterior continua.


A mansão está mergulhada na escuridão — a luz foi embora, restando apenas o som distante da chuva e o estalar da madeira antiga.


Guzmán caminha lentamente pelos corredores, arma em punho, os passos ecoando pelo chão de mármore.


Seu olhar varre cada canto — procura Maggie, que se esconde em algum lugar daquela penumbra densa, onde o medo parece respirar junto com ela.


GUZMÁN — Magguí, mon amour… viens ici. Tua mamã Odila, ah… elle n’ira pas être contente, hein? Se ela souber que la petite fille dela não respeita les ordres do seu mari… mon Dieu… ça va être un vrai désastre.


A câmera corta para Maggie, encolhida dentro de um armário, os ombros tremendo.


Ela chora silenciosamente, segurando o ar em prantos contidos, enquanto a escuridão ao redor parece engolir cada suspiro seu.


GUZMÁN — (PSICÓTICO, ALTERNANDO RISO E SÚPLICA) Meu amorzinho… viens, viens aqui. Parle... je t’en supplie. Eu juro, juro que não vou bater — eu prometo — até você me ouvir direito.


MAGGIE — Mentiroso!


GUZMÁN — Je t’ai trouvé… Allez… não se mexe.


O sorriso frio de Guzmán aparece no rosto, os olhos fixos. Ele respira devagar, saboreando o momento.


Ele avança lentamente pelo corredor. O eco de cada passo no piso frio é alto. Maggie se esconde, respirando rápido, os olhos arregalados. A câmera alterna entre o medo dela e a arma firme na mão dele.


GUZMÁN — Maintenant… tu vas apprendre à obéir.


Ele ergue a arma e dispara contra a parede do corredor, bem próximo de Maggie.


O som estrondoso ecoa pelo corredor. Pedaços de tinta e estilhaços caem no chão. Maggie se encolhe, imóvel, o coração disparado. A luz tremeluz com o impacto.


Guzmán sorri, mantendo a arma firme, observando o efeito do disparo sobre ela.


GUZMÁN — Melhor você aparecer… ma patience est en train de finir, surtout com você 


Maggie, encolhida no armário, deixa algo cair. O barulho seco corta o silêncio.


Guzmán para, ouve e avança pelo corredor. Cada passo ecoa pesado; o sorriso frio dele surge no rosto enquanto se aproxima do armário.


GUZMÁN — Docinho, aparece aqui que eu posso ser bonzinho… je ne vais pas te tuer.


O tom é frio e direto; o sorriso não chega aos olhos.


Ele avança lentamente pelo corredor, cada passo ecoando no piso frio. O armário se abre com um rangido; a arma é erguida, apontando diretamente para a cabeça de Maggie.


De repente, antes que ele possa disparar, Maggie estica a perna e acerta um chute certeiro na virilha dele. O corpo dele tomba para trás, a arma balança nas mãos, e o corredor se enche do som do impacto e da respiração ofegante dos dois.


Maggie se joga para fora do armário, correndo pelo corredor. Seus passos ecoam, a respiração acelerada, o coração disparado.


Guzmán se inclina para frente, os olhos brilhando de raiva, e grita:


GUZMÁN — Vadia de merde!


O som corta o corredor vazio, enquanto Maggie desaparece na penumbra, tentando escapar.


A trilha instrumental chega ao auge. Guzmán corre atrás de Maggie pelos corredores escuros, respiração ofegante, arma em punho. Um disparo corta o ar — a bala passa raspando. Maggie continua correndo, movida pelo puro instinto.

Ele alcança o topo da escada e dispara novamente. A luz treme.


Plano subjetivo: o olhar de Maggie. Num impulso desesperado, ela o empurra. Guzmán despenca, o grito se perde no ar. A mesa de vidro se estilhaça sob seu corpo. O som do impacto ecoa. Sangue, cacos e poeira se misturam no chão.


Maggie observa, paralisada. As lágrimas caem, o choque a domina. Lentamente, desce os degraus, ajoelha-se. O silêncio pesa.


FADE OUT.


Ela se levanta trêmula, pega a mochila e retira um galão de gasolina. O fogo começa a nascer entre os estilhaços e o sangue. Maggie acende um fósforo — e o inferno se acende junto.


As chamas crescem, refletindo no vidro e nas lágrimas. Ela corre, o fogo atrás dela consumindo tudo.


A respiração de Maggie se mistura ao crepitar das chamas. A mansão queima. E a noite engole o resto.


Corte para:


ABERTURA 


CENA 04. COPACABANA PALACE. INT. SUÍTE. DIA.

Sonoplastia: At last - Etta James


A luz suave da manhã atravessa as cortinas, iluminando a nudez de Odila e Júlio. Ele está deitado, corpo firme, respirando pesado. Odila se senta sobre ele, encaixando-se perfeitamente, corpos colados. Ela arqueia o corpo, mãos apoiadas nos ombros dele, enquanto ele a segura pela cintura, guiando cada movimento, cada balanço. Gemidos baixos escapam dela, misturados à respiração ofegante de ambos.


Júlio segura os seios dela com firmeza e sensualidade, acompanhando cada impulso, cada arqueada de costas. A câmera alterna entre closes nos rostos, mãos entrelaçadas e a dança de luz e sombra sobre a nudez exposta, captando cada toque, cada reação, cada suspiro.


O ritmo aumenta. Odila, tomada pelo desejo, se inclina para frente e se posiciona de quatro sobre os lençóis. Júlio a envolve com o corpo, guiando-a contra ele, encaixando-se perfeitamente. Ela geme novamente, sons de prazer que ecoam pelo quarto silencioso. Cada movimento, cada toque, cada respiração aproxima-os do ápice do prazer, criando uma coreografia silenciosa de entrega intensa e visceral.


Gemidos se intensificam, respirações se misturam. Cada toque e cada impulso é amplificado pelo calor e pela nudez exposta. Quando ambos atingem o clímax, corpos suados e gemidos misturados dominam o espaço. Odila, ainda apoiada sobre Júlio, se deita de bruços sobre ele por alguns instantes, cabeça repousando em seu peito, absorvendo o calor, a presença e o silêncio confortável que se instala no quarto.


A câmera se afasta lentamente, captando os corpos entrelaçados, lençóis amassados e a pele brilhando de suor.


Corte súbito. Odila está sentada na cama, vestindo um robe preto. Ao lado, uma taça de champanhe repousa na mesa de cabeceira. Júlio, sentado aos pés da cama, conta o dinheiro — quatro mil reais.


Ela o observa com um olhar de domínio, silenciosa, como quem tem o controle de tudo.


ODILA — (SEDUTORA) Que foi, amor? Essa cara é de quem acabou de ver o paraíso.


JÚLIO — (RINDO, ENCANTADO) E não é? Nunca vi tanto dinheiro assim… chega dá até calor.


ODILA — Só por causa dessa merreca dinheiro…


JÚLIO — Isso pra você é troco de bala… mas pra mim, é muita grana.


ODILA — (SORRI, ENCOSTANDO-SE NELE) Você fala como se tivesse ganho na loteria.


JÚLIO — (OLHANDO PRA ELA, SÉRIO) Pra mim, é quase isso. Nunca peguei tanto dinheiro de uma vez… e ainda por cima, vindo de uma mulher como você.


ODILA — (BRINCA COM A NOTA NAS MÃOS, PASSANDO-A NO PEITO DELE) Então aproveita, bonitão. Dinheiro fácil é o que mais some rápido.


JÚLIO — (PEGA A NOTA DE VOLTA, FIRME) Fácil pra quem paga. Pra quem recebe… custa caro.


ODILA — (RINDO BAIXO, PROVOCANTE) Ai, que drama…


JÚLIO — (APROXIMA-SE, VOZ ROUCA) Não é drama, Odila. É o preço. Tudo tem um preço. Até o prazer.


ODILA — (ENCARA ELE, CURIOSA) E quanto custa o seu, hein?


JÚLIO — (SORRINDO, ENCARANDO-A DE VOLTA) Depende. Quer comprar de novo?


Odila sobe sobre ele e o beija com força. O corpo dela domina o dele, o beijo é quente, urgente, cheio de poder e despedida.


ODILA — (SEDUTORA) Bem que eu queria passar o dia todo aqui com você, meu bem… mas tenho que ir pra clínica — aquilo lá deve estar um inferno.


Odila se levanta e Rob cai revelando a roupa Júlio a observa com um sorriso malicioso. Ele se levanta e a ainda nu e a envolve por trás. A abraçando pela cintura.


JÚLIO — (SEDUTOR) Quando a gente vai se ver de novo, gostosa? Já tô com saudade.


ODILA — (RINDO, APROXIMANDO-SE) Queria te encontrar mais vezes… mas não vai dar, tenho tanta coisa pra resolver. Mas quando der, eu apareço pra pagar seu troco de bala.


Odila se encosta nele, arqueando a coluna, pressionando o quadril contra ele propositalmente.


ODILA — E olha só… ainda tá de pau duro, hein? Que delícia.


O quarto se enche de tensão silenciosa. Cada gesto, cada olhar, cada respiração deles é carregado de descoberta. Júlio nunca imaginou que a primeira vez pudesse ser tão intensa, tão memorável.


ODILA — (SEDUTORA) Tem um carro esperando você lá embaixo, bonitão.


Ela desaparece pelo corredor, deixando Júlio parado, respirando pesado, o quarto silencioso e carregado do perfume e da presença dela.


Júlio se veste rapidamente e desce pelo saguão iluminado pelo sol.


Na entrada, o carro o espera. Ele entra, fecha a porta e observa a fachada do hotel pelo vidro, ainda absorvendo o encontro com Odila.


Corte para: 


CENA 05. CARRO DE APLICATIVO. INT. DIA.

Sonoplastia: Delícia/Luxúria - Sophia Chablau 


O carro desliza pela orla. O sol reflete no capô, o mar brilha do outro lado da avenida. Dentro, Júlio está recostado no banco de trás, contando o dinheiro com calma, como quem saboreia o momento. As notas passam entre os dedos, a respiração dele é leve, quase em êxtase.


O motorista, com o braço apoiado na janela, lança um olhar pelo retrovisor.


MOTORISTA — E aí, chefe… pra onde a gente vai?


JÚLIO — Rua Ambrósio Paixão, na Tijuca.


O carro arranca, cruzando a Atlântica. A câmera acompanha de fora — reflexos do mar no vidro, o som distante das gaivotas misturado ao ronco do motor.


Plano fechado: Júlio observa o dinheiro, depois o guarda na mochila. Pega o celular, hesita um segundo e liga.


JÚLIO — Fabinho, cê não vai acreditar, mano… Me encontrei com a Odila hoje, tá ligado? Fiz um programa pra ela e… velho… ela me deu quatro mil reais! Quatro mil, mano!


FABINHO — (V.O.) Mano, pra coroa te dar quatro mil, só se for porque ela curtiu você mesmo. Mas se liga… Odila gosta de comandar tudo, mano. Ela é esperta e não perde o controle por nada.


JÚLIO — Calma, mano… calma… Ela já tá minha. Ela até falou que… sei lá… talvez a gente se encontrasse de novo. Mas eu… eu não sei, velho. É doido demais.


Júlio passa a mão pelo cabelo, olhos fixos na rua. O mar e o céu azul se misturam com os prédios e o caos da cidade. Ele respira fundo, tentando organizar os pensamentos.


JÚLIO — E… e a mãe, mano? Tô preocupado demais. Ela ainda tá fraca… E se eu demorar demais aqui no Rio? E se… e se acontecer alguma coisa?


FABINHO (V.O.) — Relaxa, Júlio… tia Edna é guerreira, mano. Ela aguenta. Mas você tem que resolver isso rápido. O tempo tá contra a gente. Cada segundo conta, sacou?


Júlio segura a foto amassada da mãe, encostando nos lábios. O suor escorre pela testa. Seus olhos brilham com culpa e ansiedade. Ele fecha o punho, como se tentar segurar a própria dor fosse impedir o mundo de desmoronar.


JÚLIO — Pela senhora… eu vou fazer o que for preciso, Fabinho. Não importa como. Só promete que ela vai ficar bem.


FABINHO (V.O.) — Fica tranquilo, mano… os médicos já tão levando a tia Edna pros exames. Depois a gente se fala, beleza?


O clique do desligar ainda ecoa dentro da cabine.


Júlio segura o celular, olhando para ele como se pudesse arrancar alguma resposta da tela.


O carro desliza pela Avenida Atlântica, iluminada pelo sol forte. O brilho do dia parece zombar dele, iluminando tudo e não revelando nada.


Em seu colo, o saco de papelão amarelo com as notas. Ele aperta o saco contra o peito, sentindo o peso físico e simbólico: cada nota, cada dobra, uma respiração da própria vida que tenta salvar.


O calor do sol entra pelo vidro, intenso e quase cruel. Júlio respira pesado, ofegante, como se o ar fosse cortante.


VOZ INTERNA — (SUSSURRO PESADO, QUASE INAUDÍVEL, FRAGMENTADA) …e se eu falhar… se eu deixar a mãe morrer… se tudo acabar… tudo… tudo vai ser culpa minha… não posso, não posso… ela não pode… não pode…


O saco de papelão range sob seus dedos, ecoando como marteladas dentro da cabeça dele. Cada nota amassada parece gritar sua impotência.


O carro passa por quiosques, turistas e banhistas, todos banhados pelo sol. Tudo segue normal, mas Júlio sente um buraco dentro de si, uma fissura invisível que o separa do mundo.


VOZ INTERNA — (MAIS INTENSA, QUASE CRUEL) …o que você é, Júlio? Um filho? Um homem? Ou só um inútil que não consegue salvar quem ama?… inútil…


Close nos olhos dele: fundo, vazio, dilatado, tremendo por dentro. Não há lágrimas, apenas o silêncio ensurdecedor do próprio medo.


O carro some na avenida. O mar brilha sob o sol, indiferente à sua agonia. Silêncio absoluto.


Corte para:


CENA 06. AEROPORTO INTERNACIONAL DE GUARULHOS. TERMINAL 3. INT. DIA.


A chuva desaba sem trégua sobre São Paulo. O som das gotas martela o teto de vidro, refletindo luzes vermelhas e azuis do saguão lotado. Maggie caminha apressada, mala deslizando atrás dela, mochila nas costas, óculos escuros escondendo o rosto cansado e tenso.


Ela para diante de uma loja de conveniência, observa o interior por um instante — e entra.


Maggie se aproxima do balcão. O atendente, distraído, passa o tempo no celular.


MAGGIE — Moço, como faz pra ir daqui de Guarulhos pro Rio de Janeiro?


ATENDENTE — (OLHANDO PRA ELA) Pro Rio? Hoje tá complicado, viu? Essa chuva acabou com tudo. Tem voo atrasado desde cedo, gente dormindo no chão lá no portão C.


MAGGIE — (IMPACIENTE) E não tem nenhum saindo?


ATENDENTE — Só se der sorte… mas o painel tá vermelho de tanto “atrasado”. Se quiser garantir, pega o Airport Bus aqui fora, vai até o Tietê e de lá tem ônibus direto pro Rio. Quatro, cinco horas, se a estrada não virar rio também.


MAGGIE — (SUSPIRA) Quatro horas de estrada… parece pouco.


ATENDENTE — (MEIO RINDO) É, mas pelo menos chega. Aqui, hoje, ninguém vai a lugar nenhum.


Maggie o encara por um momento, sem responder. Pega a mala, ajeita os óculos e sai da loja.


Corte súbito. Maggie atravessa o saguão, o som da chuva abafando o burburinho das vozes e dos alto-falantes.


CONTINUÓ. FACHADA/ÔNIBUS. INT/EXT. DIA.


A chuva cai intensa sobre São Paulo, batendo forte nos vidros do terminal e espalhando poças pelas calçadas. Maggie para na saída, tira os óculos escuros e encara a rua, respirando fundo.


Com passos decididos, ela atravessa a rua, molhando cabelo, casaco e mala. Sobe no ônibus do Airport Bus; o letreiro frontal pisca em letras grandes: TERMINAL TIETÊ.


Ela se senta, segura firme a mala ao lado e observa a chuva escorrendo pela janela. O ônibus parte, avançando lentamente pela cidade molhada, enquanto o som da água e do motor se mistura, acompanhando o ritmo de sua fuga silenciosa.


O ônibus segue pelas ruas molhadas. A chuva bate forte nos vidros, borrando as luzes da cidade. Maggie está sentada sozinha, mochila ao lado, óculos escuros escondendo o olhar cansado.


Uma lágrima escorre lentamente pelo seu rosto enquanto ela encosta a testa no vidro. O reflexo dela se mistura com a chuva, como se passado e presente se encontrassem.


A câmera se afasta mostrando o ônibus em meio aos carros parados no trânsitos. 


Close extremo no ônibus entre os carros da rodovia. O veículo se destaca, imóvel, cada detalhe da lataria, luzes e chuva congelado no tempo. O trânsito ao redor parece desacelerar até desaparecer, deixando apenas o ônibus como ponto fixo na cena.


O ambiente some: não há som além do sussurro da chuva e da respiração contida de Maggie, quase imperceptível, como se o tempo tivesse parado.


CORTE RÁPIDO – FIM DO CAPÍTULO


A novela encerra seu terceiro capítulo ao som da sonoplastia: Fortnight - Taylor Swift feat Post Malone. (Tema de Maggie)



















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