A INTRUSA - CAPÍTULO 08 - 02/09/2925

      

A INTRUSA

CAPÍTULO 08

UMA NOVELA DE TAÍS GRIMALDI



CENA 1. MANSÃO DOS GODOY BUENO. SALA. INT. DIA

 

A sala está mergulhada num silêncio tenso. Valquíria, impecável e venenosa, gira o cálice de vinho com um olhar de desprezo fixo em Vivi (ainda disfarçada de Carolina), que responde apenas com um leve sorriso enigmático.

VALQUÍRIA - Você pode tentar bancar a mãe agora, Carolina mas todos aqui sabem que Aurora cresceu com Ana Maria. Com sorte, vai lembrar do seu perfume. Porque do seu afeto, minha querida, nem vestígio.

ANA MARIA - (preocupada, com leve sotaque espanhol) Vamos, mi niña, ya basta por hoy.

Ana Maria pega Aurora com delicadeza e se retira, lançando um último olhar apreensivo para Vivi.

VALQUÍRIA -Eu nunca achei que você fosse boa o suficiente pro meu filho. Mas agora, nem pra sua filha você serve.

Vivi inspira fundo, tenta manter a compostura. Sorri de canto, mas o olhar é afiado como navalha.

VALQUÍRIA - Uma mulher que abandona a filha por qualquer crise de ego, só pode estar ensaiando pra uma peça de quinta.

Vivi dá um passo à frente. O tapa vem seco, certeiro. Valquíria cambaleia, mais de choque do que dor.

Marco Aurélio entra apressado, alarmado.

MARCO AURÉLIO - Mas o que está acontecendo aqui?!

Ele segura Vivi pelos ombros. Ela ajeita os cabelos curtos com calma, respira fundo e responde com ironia gelada.

VIVI - (voz firme, com pajubá, debochada) Relaxa, mô. Só dei um fecha a cara na megera que esqueceu que nem toda boneca é de porcelana. (olha pra Valquíria) Da próxima vez, cê não leva só um tapa, bicha véia.
Cê despenca da escada... a la Nazaré Tedesco. (sorri)

Marco Aurélio encara Vivi, confuso. Valquíria segura o rosto, atônita, mas tenta manter a altivez.

CORTA PARA:

CENA 2. MANSÃO SANTA TERESA. PISCINA. EXT. NOITE


SONOPLASTIA – PHYSICAL – DUA LIPA

 

A piscina brilha sob as luzes douradas. A festa vibra com um toque de luxo e mistério. Lari Pacotão está perfeita, dominando o bar como uma verdadeira rainha da noite. Seu vestido dourado parece captar todos os flashes de luz.

Armand, charmoso e com aquele sotaque espanhol que faz qualquer coração bater mais rápido, se aproxima, claramente interessado.

ARMAND - (sorrindo, com aquele olhar cheio de intenções) ¿Bailas o solo hipnotizas, hermosa?

LARI PACOTÃO - (dando um gole no espumante e com um sorriso malicioso) Eu hipnotizo, bailo e ainda te cobro pelo show, papi. (dá uma olhada sedutora, exagerando o charme) Aqui, tudo é caro. Inclusive meu sorriso.

ARMAND - (bem-humorado, mas tentando manter o controle) ¿Te gustaría acompañarme al Copacabana Palace? Una noche... y sólo tú y yo. (tira a chave do hotel do bolso, como uma proposta irrecusável)

LARI PACOTÃO - (com aquela confiança de quem já sabe tudo sobre o jogo) Dois mil e eu passo a noite com você, (sussurra de maneira insinuante, quase no ouvido dele) Três mil se você me deixar fingir que tô apaixonada.

ARMAND - (sorrindo com entusiasmo, já se entregando ao charme dela)
¡Hecho! Vamos, preciosa.

Lari observa a transferência no celular com um sorriso satisfeito.

LARI PACOTÃO - (levanta o olhar para ele, ainda provocante)
Então vamos, gato(se aproxima ainda mais, em tom baixo e direto) Mas ó, não se apaixona não, viu? Porque eu sou mais perigosa que piscina sem borda.

Ela vira e começa a andar na direção da saída, o corpo movendo-se com confiança, cada passo uma promessa de mistério. Armand a segue, incapaz de resistir.

CORTA PARA:

CENA 3. MANSÃO DOS GODOY BUENO. SUÍTE DE MARCO AURÉLIO E CAROLINA. INT. NOITE

 

O quarto luxuoso e elegante de Marco Aurélio. O clima é tenso, a câmera foca na expressão fechada de Marco Aurélio, que está de pé, com os braços cruzados. Vivi, ainda disfarçada de Carolina, está sentada na cama, tentando manter o semblante sereno, mas suas mãos trêmulas entregam o que ela sente.

MARCO AURÉLIO - (sério e exigente) Você está esquecendo quem você é. Ou, mais precisamente, quem deveria ser. (faz uma pausa, com um olhar penetrante) Não é só o tapa em Valquíria. Isso foi completamente inaceitável. Mas é mais do que isso, Carolina. É a sua postura. Aquela (gesticula com a mão, impaciente) aquela falta de classe em Campos do Jordão. (olha para ela, como se fosse uma desaprovação completa) E a sua linguagem (pausa) Esse seu jeito totalmente desencaixado, quase vulgar. Não é a Carolina que eu conheço. E nem essas roupas! O que aconteceu com você, Vivi? Você não pode me enganar. Está tão... fora de contexto. Não é você.

VIVI - (olhando para ele, tenta manter a calma, mas o sarcasmo transparece em seu tom de voz) Ô, Marco sempre com esses papos de 'classe'. Tá me deixando cansada, sabia? (faz uma pausa, se recostando um pouco na cama, mas mantém a postura ereta) Eu sou a mesma de sempre, não é nada de novo, não. Só porque não to com o vestidão de gala e o sorriso de 'boa esposa' não quer dizer que não sou a Carolina, ué...
(sorrindo ligeiramente, o tom de sua voz mantém um toque sutil de pajubá)
Aliás, se isso te incomoda tanto, fico até achando que você tá é carente de atenção...
(ela balança a cabeça, tentando esconder a irritação)
Talvez eu devesse dar mais uns flashes de charme só pra te agradar.

Marco Aurélio olha para ela, com uma expressão de confusão e frustração. Ele quer mais do que uma resposta desaforada; ele quer um recuo, uma submissão.

MARCO AURÉLIO - (pressionando) Eu só quero que você se lembre de quem você é! (pausa, com um olhar sério)
Não estou pedindo para você ser outra pessoa. Só para... se comportar como tal. (assentindo levemente com a cabeça, como se se convencesse de sua superioridade) Essa postura, esse... jeito de falar, essas roupas. Isso não é você. Está me perdendo, Carolina. Não sei como te alcançar mais.

VIVI - (sorrindo sem muito entusiasmo, mas com um toque de veneno disfarçado de gentileza) Olha, eu te entendo. Sei que você tem uma imagem bem formatada de mim, Marco. (pausa, ela se aproxima levemente, com um olhar mais sério, mas sempre mantendo a suavidade de sua voz) Mas, meu amor, a Carol tá aqui. A Carol que você tanto conhece, apenas com um jeitinho mais... solto, digamos assim. (olha para ele com um sorriso confiante, mas um pouco distante) Talvez eu esteja só, relaxando. Talvez esse 'jeito novo' seja o jeito mais real de ser. Mas, hey, se isso te incomoda, quem sabe você tenta o quê? Um curso intensivo de "recuperando a esposa ideal"?

Ela dá de ombros e se afasta um pouco para se deitar de novo na cama, como se fosse desistir da conversa, mas sem perder o controle. Marco Aurélio observa, tentando esconder sua frustração, enquanto uma leve desconfiança começa a surgir em sua mente.

CORTA PARA:

CENA 4. RESTAURANTE CAPIM. SÃO PAULO. INT. NOITE

O restaurante está iluminado suavemente, com um clima sofisticado e acolhedor. Madson e Rudolfe estão sentados à mesa, aparentemente desfrutando do jantar, mas a tensão entre eles é palpável. Os dois homens à mesa ao lado os observam com certa insistência.

MADSON - (um sorriso cauteloso, tentando manter a situação leve) É bom estar aqui, Rudolfe. A comida é excelente.

RUDOLFE - (sem desviar o olhar, com um sorriso que não alcança os olhos) Sempre a mesma coisa, Madson. Você, com sua... pose tranquila, mas eu percebo o que está acontecendo. (olha para os homens à mesa ao lado, ainda sem desviar os olhos de Madson) Você me entende, não é? (ele fala em francês) "Je vois tout, ma chérie. Je vois tout." (Eu vejo tudo, minha querida. Eu vejo tudo.)

Madson, desconfortável, tenta se concentrar na comida, mas seu olhar começa a desviar para os dois homens à mesa. Eles continuam a observá-los com atenção, o que aumenta a tensão.

MADSON - (mais desconfortável, tentando disfarçar)
Rudolfe, não é necessário... vamos apenas aproveitar a noite, ok?

Rudolfe, aparentemente irritado com a resposta dela, aperta o braço de Madson com força. A pressão em seu braço é desconcertante, quase como uma ameaça disfarçada.

RUDOLFE - (sussurrando, quase como um rosnado)
Você acha que eu sou bobo, Madson? Eles estão te olhando, e você (faz uma pausa e sua voz fica mais ameaçadora) você está me dando motivo para ter dúvidas, entende? Eu não gosto disso.

Madson engole em seco, e sua expressão muda. O ambiente ao redor parece desaparecer enquanto a tensão entre eles cresce. O desconforto é visível. Ela tenta disfarçar sua reação, mas um tremor leve percorre seu corpo.

MADSON - (falando baixinho, com uma tentativa de suavizar a situação, mas claramente assustada) Rudolfe, por favor... eles estão só olhando... não tem motivo para isso.

RUDOLFE - (sem tirar os olhos dos homens à mesa) Você realmente acha que vai me enganar, Madson? Porque você não vai. Eu te conheço. (olha de relance para ela, com um sorriso cortante) Você vai me dar uma razão para confiar, ou vai ser tarde demais.

Madson, sentindo o peso da situação, olha para os homens novamente. Seus olhos estão fixos nela, e ela percebe a ameaça no ar. Sem mais palavras, ela se levanta da mesa.

MADSON - (voz baixa e quase quebrando)
Eu não quero mais ficar aqui. Vamos embora.

RUDOLFE - (somente acena com a cabeça, sem responder, ainda tenso)
Vamos. Não precisamos ficar aqui mais. Vamos resolver isso em casa.

Saem do restaurante. Madson caminha rapidamente, tentando manter a compostura, mas a pressão emocional e a tensão a dominam. Quando estão longe o suficiente, e a rua está mais vazia, as lágrimas começam a cair silenciosamente de seu rosto. Ela tenta se controlar, mas não consegue. A dor é evidente, e ela se sente perdida.

RUDOLFE - (susurra, agora com um tom mais suave, mas ainda ameaçador) Ne t'inquiète pas, mon amour. (Não se preocupe, meu amor.)

Madson desvia o olhar, não respondendo. O peso de suas emoções é claro, mas ela se mantém calada, tentando segurar o que parece ser uma tempestade prestes a transbordar.

A cena termina com Madson caminhando ao lado de Rudolfe, os olhos lacrimejando, mas sem fazer qualquer som. As luzes da rua iluminam o rosto dela, mas não há mais alegria ali. A atmosfera é densa, cheia de medo e incerteza.

CORTA PARA:

CENA 5 – HOTEL COPACABANA PALACE. SUÍTE DE ARMAND. INT. NOITE


SONOPLASTIA – PADAM PADAM - KYLIE MINOGUE

A cena começa com a câmera deslizando suavemente pelo luxuoso quarto de hotel. O ambiente é iluminado por uma luz suave e quente, refletindo o glamour e a sedução que se espalham pelo ar. O som de Padam Padam de Kylie Minogue ecoa suavemente, criando a atmosfera perfeita para o que está prestes a acontecer.

Armand e Lari estão no centro da cena. Ele, charmoso, de olhar ardente, com um sorriso confiante. Ela, com a postura de quem sabe o poder que exerce, em um vestido que exibe sua sensualidade sem esforço. As mãos de Armand acariciam sua nuca, com os dedos deslizando pelas mechas do cabelo dela, e ela sorri com desdém, como se estivesse jogando um jogo que já sabe o desfecho. O clima entre eles é de pura tensão sexual, mas ao mesmo tempo, carregado de um tipo de provocação irreversível.

LARI PACOTÃO - (sorrindo, com uma mistura de ironia e desejo) Eu sou como o vinho, amor. Quanto mais você me tenta, mais doce fico, sabe?


Ela levanta a taça de champanhe com uma graça impecável, os olhos fixos nos dele, desafiando-o silenciosamente. Ele a observa com um olhar de interesse, como se já soubesse que ela está no controle, mas gostasse da sensação de ser desafiado.

Armand pega a taça dela, entrelaçando seus dedos com os dela, e aproxima seus lábios dela, sussurrando em espanhol, com um toque de sensualidade e desafio:

ARMAND - (em espanhol, com um sorriso sedutor): Tú juegas muy bien, pero no sé si eres capaz de mantener el ritmo hasta el final, preciosa.

A câmera foca no olhar de Lari, que, apesar de estar imersa nesse jogo de sedução, não perde sua essência. Há algo em seus olhos que mostra que ela não está completamente entregue àquele momento. Ela sorri, mas é um sorriso de quem controla a situação com maestria, sem pressa.

LARI PACOTÃO - (com um sorriso enigmático, em tom de brincadeira, quase sussurrando) Ah, Armand… eu não jogo, meu amor. Eu sempre venço. Já te falei, né? Sou dessas.

Ela pega um morango da mesa próxima, passa-o pela boca com um gesto deliberado, como se fosse uma provocação pura, e o oferece para ele, que o aceita com um sorriso satisfeito. Os dois se aproximam, a tensão entre os corpos palpável, mas antes de qualquer movimento mais ousado, o olhar de Lari se mantém firme, como se ela quisesse mais.

A câmera se move lentamente para capturar cada gesto, cada expressão. Lari se aproxima de Armand com um toque suave nas costas dele, seus corpos agora mais próximos, mas ainda em um jogo de distâncias curtas.

Eles se deixam levar pela atração, mas, como sempre, Lari não deixa que o controle escape de suas mãos. O que começa como um flerte de sedução se transforma em uma dança intimista de poder e vulnerabilidade. Eles se entregam ao prazer, mas sem esquecer de suas estratégias e intenções.

CORTE PARA:

A câmera se afasta lentamente, observando-os pela janela do quarto, as luzes de Copacabana brilhando ao fundo, criando uma aura de glamour e mistério. O som de Padam Padam continua a tocar enquanto a cena se dissolve na noite.

A tensão sexual e a manipulação subjacente de Lari permanecem no ar, como um eco que não se apaga. Ela pode ter ganho esta partida, mas sabemos que o jogo ainda está longe de terminar.

CORTE PARA:

 

CENA 6 – RIO DE JANEIRO E SÃO PAULO. AMANHECER. EXT.


SONOPLASTIA – CIRCO — VENERA VAI VENUS

 

A câmera abre com uma suavidade poética, capturando a cidade do Rio de Janeiro. A névoa da manhã repousa sobre o mar, criando um efeito etéreo sobre as águas calmas, enquanto o céu começa a clarear, tingido de tons de rosa e laranja. A cidade, ainda silente, se prepara para um novo dia. As montanhas ao fundo emergem da bruma, e a vista do Pão de Açúcar ao longe parece suspensa no tempo. O som suave da música de Venera Vai Venus preenche o ar, criando uma sensação de nostalgia e leveza.

A câmera faz um movimento lento, passando pela orla da praia de Copacabana, onde as primeiras pessoas começam a aparecer, correndo ou caminhando pela areia. O contraste entre a tranquilidade da madrugada e a energia crescente do amanhecer é palpável. O mar reflete os primeiros raios de sol, enquanto as ondas se quebram suavemente, como um prelúdio de algo maior.

CORTE PARA SÃO PAULO:

A transição é abrupta, como se a cidade fosse uma entidade completamente diferente. O céu é cinza, quase opressor, como se a cidade estivesse se espreguiçando em seu próprio ritmo frenético. A câmera percorre a Avenida Paulista, onde as luzes dos carros ainda piscam na noite que se despede. O clima é denso, a névoa da manhã se mistura à poluição, criando uma aura de urbanidade cruel e realista. O contraste com o Rio é imenso, mas ao mesmo tempo, ambas as cidades compartilham o despertar, o início de mais um dia implacável.

A câmera passa por edifícios altos, corredores movimentados, e as primeiras movimentações da cidade começam a tomar forma. São Paulo acorda em seu próprio caos, uma cidade que nunca dorme, mas que ainda assim se deixa envolver pela delicadeza de um amanhecer, embora de uma maneira um pouco mais árida e concreta.

CORTE PARA A MANSÃO DOS GODOY BUENO:

A transição é suave, como um reflexo do que vem a seguir. O ritmo da música diminui, preparando o terreno para a tensão crescente que se aproxima. A mansão aparece imponente na tela, uma construção imensa e fria, contrastando com a leveza do amanhecer nas duas cidades. O som da música diminui lentamente, enquanto a imagem se foca na fachada da mansão, sugerindo que as tramas que se desenrolam ali terão um impacto profundo sobre o destino dos personagens.

CORTE PARA:

CENA 7 – MANSÃO DOS GODOY BUENO. ESCRITÓRIO. INT. DIA

O escritório é imenso, com móveis antigos e uma grande janela que deixa a luz suave do dia entrar. Marco Aurélio está sentado à mesa, revendo documentos, sua expressão séria e focada. O som do papel sendo virado e a caneta riscando a folha são os únicos sons no ambiente silencioso.

Ana Maria entra discretamente, com um leve sorriso. Ela observa Marco por um momento antes de se aproximar. A tensão entre os dois parece palpável, como se ambos soubessem que algo está prestes a acontecer.

ANA MARIA - (aproximando-se, com sotaque carregado) Ela parece outra mulher (pausa) Melhor, talvez. Como se tivesse se encontrado (pausa) como se algo nela tivesse mudado.

MARCO AURÉLIO - (olha para ela, pensativo) Talvez seja a hora de tentar novamente...

Ele se levanta lentamente e se aproxima de Ana Maria. A tensão no ar cresce enquanto ele a encara nos olhos, quase como se estivesse pesando as palavras que irá dizer a seguir.

Ele a beija, suavemente, como se buscasse uma resposta, uma confirmação.

ANA MARIA - (susurrando, misturando português e espanhol com um sotaque carregado, sem muita fluência em nenhum dos dois idiomas) Marco você não sabe como (ela hesita, tentando achar as palavras) como me faz sentir (pausa, ela sorri de forma tímida) Eu nunca pensé que (ela balança a cabeça, frustrada com as palavras) Mas me siento bien, muito bem, com você.

Marco a olha por um momento, como se a estivesse avaliando. Ele não diz nada por um segundo, mas seus olhos mostram que ele entende a confusão dela – e talvez até a compartilhe.

Ele volta a beijá-la, mais intensamente agora, como se tudo ao redor desaparecesse.

ANA MARIA - (entre o beijo, em português e espanhol) Mais que você não sei o que (ela ri nervosamente)
Talvez depois possamos falar mais, sim?

A cena termina com eles ainda no beijo, a tensão sendo substituída por uma conexão silenciosa.

CORTA PARA:

CENA 8 – APARTAMENTO DE LUCINHA. SALA. INT. DIA

A cena abre com a luz suave da manhã entrando pelas janelas grandes e modernas do apartamento de Lucinha. O ambiente é elegante, com um toque de ostentação, mas há um ar de intimidade. O café está sendo servido, e Lucinha, com seu charme inconfundível, se acomoda à mesa, observando Rubinho com um sorriso enigmático.

Ela segura a xícara com uma graça única, e seu olhar revela uma mistura de ansiedade e expectativa.

LUCINHA - (sorrindo, com um tom de voz sensual e levemente irônico) Hoje à noite, a minha princesa chega da Europa. Finalmente (pausa, com um brilho nos olhos) Eu sei que você vai adorar conhecê-la. Ela é tudo o que eu sempre sonhei...

Rubinho, sentado à mesa, dá um sorriso contido. Seus olhos, no entanto, revelam um misto de apreensão e insegurança. Ele segura sua xícara de café, mas seu gesto é mais mecânico, sem a vivacidade usual.

RUBINHO - (sorrindo, tentando parecer tranquilo, mas claramente tenso) Eu tenho certeza, ela deve ser maravilhosa. (olha para ela, hesitante) Mas você está bem com isso? (som de dúvida na voz) Eu só não quero que você...

Lucinha interrompe, rindo suavemente, mas com um toque de acidez em sua voz.

LUCINHA - (corta com um sorriso afiado) Ah, Rubinho, não fique com esse medo bobo. Eu sei o que estou fazendo. Não estou brincando, nunca brinquei (seu sorriso se torna um pouco mais frio, calculista)
Agora, só me deixe esperar por ela, tá? Já estou cansada de tanta preocupação.

Ela toma um gole de café, mantendo os olhos fixos em Rubinho, enquanto ele tenta processar suas palavras. A tensão no ar é palpável, mas ela parece completamente à vontade, como se estivesse em controle da situação. Seu tom de voz é suave, mas suas palavras carregam um subtexto de desafio.

RUBINHO - (murmura, mais para si mesmo) Você está certa (PAUSA) claro, Lucinha.

A cena termina com Lucinha dando uma última olhada em Rubinho, seu sorriso ainda enigmático, como se soubesse exatamente o que está por vir, enquanto ele, agora mais desconfortável, desvia o olhar.

CORTA PARA:

CENA 9. HOTEL COPACABANA PALACE. SUÍTE DE ARMAND. INT. DIA

Lari está prestes a sair da suíte, com passos silenciosos e uma expressão de quem quer se esquivar sem levantar suspeitas. Ela está vestida, mas ainda com aquele glamour sedutor da noite passada. O ambiente é iluminado suavemente pela luz da manhã, e ela parece querer deixar tudo para trás.

De repente, Armand acorda, de olhos semicerrados, e a vê. Ele sorri, estendendo a mão para ela, tentando reter sua atenção.

ARMAND – (sorrindo preguiçosamente, com uma mistura de português e espanhol) Quer quedar mas seis dias comigo.

Lari para, vira-se lentamente e olha para ele, com uma expressão calculista, mas ao mesmo tempo descontraída, como se não estivesse levando nada a sério. Ela dá uma risada baixa, segura e cheia de atitude.

LARI PACOTÃO - (sorrindo com aquele tom de pajubá e ironia)
Seis dias? Amore, você não tá entendendo (PAUSA) São quinze mil, não tem desconto não, hein? (ela faz uma pausa, brincando com as palavras)
Esses seis dias custam mais que um jantar no Leblon, viu?

Armand, surpreso mas também divertidamente impressionado, pensa por um momento antes de aceitar a oferta, com uma expressão de quem está se entregando ao charme dela.

ARMAND -(sem perder o sorriso, agora em português com um toque de espanhol) Quinze mil (SORRI) perfecto. Não tem problema.

Ele tenta se aproximar para beijá-la, mas Lari recua rapidamente, colocando uma mão no peito dele, com aquele gesto de quem tem total controle da situação.

LARI PACOTÃO - (levemente séria, com aquele charme peculiar)
Tudo, menos beijo na boca. Regra de ouro, né?

Armand ri, ciente de que perdeu a batalha do beijo, mas aceitando o jogo dela. Ele dá um sorriso largo e se recosta no travesseiro, ainda a observando com interesse.

ARMAND - (sem perder o tom divertido, mas com uma pitada de cumplicidade)
Regra de ouro, como quiser, minha linda.

Lari, com um sorriso travesso, dá uma última olhada nele antes de se afastar, finalmente deixando a suíte. Ela sai com confiança, com aquele ar de quem tem o mundo sob controle, enquanto Armand fica na cama, sorrindo com a situação e ainda tentando entender como a jogadora mais esperta do jogo acaba de sair vitoriosa.

CORTA PARA:

CENA 10 – MANSÃO DOS GODOY BUENO. SALA DE JANTAR. INT. NOITE

A mesa posta com rigor: talheres de prata, taças de cristal, o silêncio pontuado apenas pelo tilintar da louça.
Valquíria serve o chá com seus gestos teatrais. Marco Aurélio bebe o café como se fosse veneno. Vivi, como Carolina, observa — discreta, mas com olhos que tudo registram.

A porta se abre.

Lívia entra com o andar de quem conhece seu impacto. Ao lado dela, Daniel, mais jovem que Marco, sorriso de quem sempre saiu ileso.

VALQUÍRIA - (feliz, se levantando) Daniel! Que bom que você veio. Eu estava contando os dias.

DANIEL – (beijando o rosto da mãe com charme) Finalizei as pendências no Nordeste. E pedi carona pra Lívia — ela adora me resgatar.

LÍVIA - (sorrindo para Valquíria) Não resisti. Um homem bonito na minha manhã? Melhor que café preto.

MARCO AURÉLIO - (seco, sem olhar) Curioso. Achei que estivesse muito ocupado pra lembrar da existência da família.

DANIEL - (sentando-se, ainda sorrindo) É sempre bom aparecer. Principalmente quando não se é esperado.

Um silêncio breve. Valquíria serve frutas, nervosa.
Vivi observa o jogo de forças entre os irmãos.

VIVI - (suave, irônica, quase inaudível) Que delícia ver irmãos tão afinados.

DANIEL - (olhando para ela, com um sorriso curioso) E você, cunhada, continua cada vez mais interessante.

VIVI - (sorrindo de canto, em pajubá sutil)
Eu só observo, mô. A treta eu deixo pros protagonistas.

Close em Vivi com olhos fixos em Daniel, depois em Marco.
O silêncio da mesa agora grita.
A tensão, sofisticada, se acomoda entre os talheres.

CORTA PARA:

FIM

 

 

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