GATO & SAPATO - CAPÍTULO 16
no capítulo anterior…
JANETE (se aproximando, estendendo o envelope): Alyra, achei isso na frente da porta quando cheguei. Está com o seu nome.
ALYRA (com estranheza): Meu nome?
A mocinha pega o envelope das mãos da tia e, com expressão curiosa, começa a abri-lo. Dentro, encontra uma folha em branco, sobre a qual está colada uma frase formada por recortes de revista.
ALYRA (lendo, assustada): “Eu sei quem matou seu pai. E a próxima pode ser você. Cuidado princesinha”
Janete e Amélia se assustam junto com a mocinha, que treme, e ainda assustada com a folha em mãos, começa a lacrimejar.
fique agora com o capítulo de hoje:
CENA 01: CASA DE JANETE/INT./MADRUGADA
INSTRUMENTAL: SHE NOT IS HERE - IURI CUNHA
Sem conseguir dormir, pensando ainda no bilhete, Alyra se revira pela cama várias e várias vezes, até se levantar. No próximo take, vemos ela na cozinha, assaltando a geladeira. Ela se senta à mesa e começa a comer uvas.
FLASHBACK - INÍCIO
ALYRA (lendo, assustada): “Eu sei quem matou seu pai. E a próxima pode ser você. Cuidado princesinha”
FLASHBACK - FIM
Alyra segue pensativa, quando de repente, Janete surge na porta, de camisola e expressão sonolenta.
JANETE: Não conseguiu dormir também é?
Alyra se assusta levemente.
ALYRA: Meu Deus, tia, que susto! Tá fazendo o quê acordada essa hora?
JANETE (enquanto se senta): Dor de barriga, me deu um piriri. Mas já passou. (pausa) Ainda tá pensando naquele bilhete, né?
ALYRA: É… eu tô aqui quebrando a cabeça pra tentar pelo menos levantar uma suspeita, alguma pessoa que possa ter me mandado isso… será que foi a Violeta?
JANETE: Tá muito estranho isso aí, viu. E eu não acho que foi a Violeta.
ALYRA: E quem mais poderia ser?
JANETE: Cê acha mesmo que a Violeta teria coragem de escrever esse bilhete aí depois do vexame que passou na lanchonete?
ALYRA: Não sei… a Violeta não é de desistir tão fácil. Enquanto ela não acabar comigo, ela não vai sossegar. Nem que seja pra me enlouquecer. (pausa) Ai, tia… sinto tanta falta do meu pai, sabe? Se ele estivesse vivo, acredito que nada disso estaria acontecendo.
JANETE (segura na mão de Alyra): Seu pai era um homem bom, Alyra.
ALYRA: E a minha mãe, hein? Eu tentei várias vezes tentar saber um pouco mais sobre ela, mas meu pai sempre desconversava… como ela era, tia? Me fala, eu preciso saber pelo menos um pouquinho sobre minha mãe.
JANETE (suspira fundo): Sua mãe era uma mulher linda. Cheia de atitude, tinha opinião própria… eu ficava encantada com tamanha elegância.
ALYRA: E meu pai, ele amava ela de verdade como sempre disse?
JANETE: Bom, no começo sim, os dois se amavam muito. Mas depois…
ALYRA: Depois o quê?
JANETE: Adelaide sempre se queixava da ausência do Olavo em casa, principalmente depois que você nasceu.
ALYRA: Provavelmente a cobra da Violeta já tava agindo pelas beiradas…
JANETE: É, e o Olavo seguiu com essa ausência até o dia da morte de sua mãe. Um dia depois ele já tava trancado no quarto, não falava com ninguém… creio eu que foi a cobra quem ajudou ele a se recuperar.
ALYRA: E eu? Quem cuidava de mim?
JANETE: Você tinha uma babá, a Alzira. Mas assim que a Adelaide faleceu, ela pediu demissão e sumiu pra sempre. Depois dela vieram várias e várias babás… Nenhuma ficava muito tempo.
ALYRA (franze a testa): Alzira… não me lembro dela.
JANETE: Você só tinha três anos, minha filha. Mas a Alzira era praticamente da família, trabalhava na mansão há anos. Adelaide confiava nela de olhos fechados.
ALYRA (curiosa): E ninguém nunca mais ouviu falar dela?
JANETE: Nunca. Sumiu do mapa. Nem carta, nem telefone, nada. (pausa) Alguns dizem que ela voltou pra terra dela, pro interior da Bahia… outros acham que ela foi embora pra fora do país. Já outros dizem que ela bateu as botas.
ALYRA: E a causa da morte da minha mãe? Por favor, tia, eu preciso saber. Meu pai nunca quis me contar pra não me deixar triste. Mas eu tenho essa curiosidade.
JANETE: Acidente. Sua mãe sofreu um gravíssimo acidente de carro e não resistiu. Mas é só isso que eu posso te contar.
ALYRA (surpresa): Acidente? Engraçado, eu sempre imaginei algo assim… uma tragédia. É estranho, sabe? Passar a vida toda sem se lembrar direito do rosto da própria mãe.
JANETE (emocionada): Você é muito parecida com ela, Alyra. (pausa) Bom, vamo parar com esse assunto baixo astral e ir caçar o caminho da cama? Jajá amanhece e eu não quero ver você madrugando com essa carinha aí. Amanhã é um novo dia!
ALYRA: Pode ir, tia. Eu vou acabar de comer essas uvas e ir ao banheiro antes.
Janete se levanta e dá um abraço em ALYRA.
JANETE: Se cuida. Eu não gosto de te ver assim.
Janete se retira, enquanto Alyra ainda fica na mesa pensativa e cai no choro ao se lembrar do falecido pai.
CENA 02: MANSÃO TRAJANO/INT./MADRUGADA
A mansão está em total silêncio e apenas algumas luzes acesas. No quartinho de Noêmia, que fica no fim do corredor do segundo andar, ela dorme profundamente, roncando baixinho. De repente, ela se remexe, geme e desperta, com expressão de incômodo.
NOÊMIA: Droga. Não devia ter tomado aquele chá antes de dormir. Minha Nossa Senhora não deixe a minha bexiga abrir a boca antes de eu chegar no toalete. Toalete, Toalechy, que chique esse nome. Por Deus!
Ela se levanta, calça a pantufa de oncinha e sai pelo corredor. Quando já está voltando para o quarto, ela ouve um pequeno barulho de ruído vindo do primeiro andar.
INSTRUMENTAL: O FUROR DE LUCRÉCIA - ALEXANDRE DE FARIA
NOÊMIA (resmungando, enquanto desce a escada): Ave Maria, será que a crocodilinha deixou a TV ligada de novo? A conta de luz vindo nas alturas, senhor. Ainda bem que não sou eu quem pago.
Ela continua a descer a escada e vê alguém sentado no sofá, que está de costas para ela.
NOÊMIA: Dona Rúbia, dá pra abaixar o volume dessa televisão aí? pelo amor né,eu trabalho o dia todo e não tenho direito de dormir a noite? Vocês como só ficam coçando o rabo o dia todo…
Noêmia não tem resposta e decide chegar mais perto.
NOÊMIA: Dona Rúbia, eu já disse…
Ela encosta no ombro da pessoa e quando a figura se vira, revela ser Violinda.
VIOLINDA (com voz robótica): Ah, oi, tudo ótimo? Liguei para assistir o último capítulo da novela À Flor da Pele da LacreTV, mas me arrependi. Desligando em 3, 2, 1.
Noêmia se assusta e dá um passo para trás e quase cai, aterrorizada.
NOÊMIA (fazendo sinal da cruz, com os olhos fechados): Meu paizinho amado, retire todo o mal que estiver nesse ambiente e me diga que é só uma alucinação minha. Me diga, pai! NÃO TEMAS NOÊMIA, NÃO TEMAS!
Noêmia abre os olhos lentamente, ainda tomada pelo medo de Violinda e rezando baixinho. Ao abrir os olhos por completo, percebe que a sala está vazia, o clone desapareceu sem que ela percebesse. Noêmia se levanta com cuidado, olhando ao redor, sem ver nada. A televisão também já está desligada. Assustada, ela corre de volta para o andar de cima e se enrola completamente na coberta, tremendo.
SONOPLASTIA: TALK TO ME - DAMIANO DAVID, TYLA, NILE RODGERS
Ao som da música citada, várias imagens de São Paulo amanhecendo são exibidas.
CENA 03: MANSÃO TRAJANO/INT./MANHÃ
Violeta e Rúbia estão sentadas à mesa enquanto Noêmia serve o café da manhã.
RÚBIA: Que cara é essa aí, empregadinha? Parece que viu uma assombração.
NOÊMIA: E eu vi mesmo.
Noêmia joga a bomba e se retira.
RÚBIA: Mulherzinha esquisita. Agora colocou na cabeça que existe um clone seu dentro dessa casa, é mole? Que falta faz um hospício.
VIOLETA (rindo): Clone? Mas que ideia é essa?
RÚBIA: Não liga, mãe, a Noêmia está a beira de ser internada numa clínica. Acho que a convivência com a Alyra não fez muito bem pra ela.
VIOLETA: Já disse que não quero ouvir esse nome dentro dessa casa.
RÚBIA: Desculpa, eu só tava comentando…
Noêmia entra novamente onde elas estão.
NOÊMIA: Dona Violeta, tem uma pessoa aí querendo falar com a senhora. Pode mandar entrar?
VIOLETA: Uma hora dessas? Quem é, empregadinha?
NOÊMIA: Aquela ruiva desmaiada da Verinha.
CORTA PARA: MANSÃO TRAJANO/QUARTO/INT./MANHÃ
Violeta entra em seu quarto, seguida por Verinha. A vilã está visivelmente irritada com a presença da ex-cúmplice.
VIOLETA: Que cara de pau a sua. Tem vergonha, não? Depois de ter aprontado todas comigo ainda tem coragem de pisar aqui na minha casa?
Forçando um choro, Verinha se ajoelha diante de Violeta, agarrando em suas pernas.
VERINHA (“chorando”): Chefinha, por favor, por tudo que é mais sagrado, me perdoa. Me perdoa, meu Deus, me perdoa. Eu juro que eu não te deixei lá por mal… A senhora é a melhor patroa que eu já tive, dá de mil a zero na chata da Alyra. Por favor, por favorzinho. Me perdoa.
VIOLETA (incrédula com a atitude de Verinha): Levanta daí, sua anta! Que patetice é essa? Vai, levanta. Não tô com paciência pra gentinha puxa saco hoje.
Verinha se levanta, ainda fingindo estar super abalada.
VIOLETA: Você traiu a minha confiança, sua inútil. Agiu feito uma criancinha inconsequente.
VERINHA: Eu sei… eu sei, chefinha. E é por isso que eu tô aqui hoje, pra te pedir perdão pelo que fiz. Poxa, todo mundo erra, não erra?
VIOLETA: Tá… tá bom, eu te desculpo. Mas olha, é a primeira e a última vez.
A expressão de Verinha muda rapidamente e ela começa a comemorar, gritar e abraçar Violeta.
VERINHA: AI MEU DEUS! EU TE AMO, CHEFINHA! ADORO VOCÊ!
Com a expressão dura, Violeta a afasta de perto dela.
VIOLETA: Agora que conseguiu o que queria, pode ir embora.
VERINHA (feliz): Claro. Até amanhã na empresa, chefinhe.
VIOLETA (arqueando a sobrancelha): Pera aí, mas quem disse que eu te recontratei?
VERINHA: Ah, chefinha, acha mesmo que eu vim até aqui só pra puxar seu saco? Eu quero meu emprego de volta, amor. Não vai deixar essa pobre moça passando fome, vai?
VIOLETA (irritada): Tá… tá… tá… Recontratada. Agora vai embora, antes que eu mude de ideia.
VERINHA (entusiasmada): Eu prometo que não vou te decepcionar de novo, amoreca! Ai, que falta eu tava sentindo de você, chefinhe. Amooo!
Ela abraça Violeta com força, apertando-a com tanto entusiasmo que a vilã quase perde o fôlego.
VIOLETA (tentando se soltar): Verinha! Me solta, criatura! Eu não sou travesseiro!
VERINHA (sem largar): É que eu fiquei com tanta saudade, chefinha... (cheira o perfume de Violeta) ai, esse perfume continua o mesmo... chique, poderoso, comprou onde?
VIOLETA (empurra Verinha com força): Poderoso vai ser o tapa que eu te dou se você continuar me agarrando feito uma retardada.
VERINHA (ajeitando o cabelo, rindo sem graça): Ai, desculpa, é emoção demais... sabe como é, né? Ficar longe da senhora foi um sofrimento.
VIOLETA (revirando os olhos): Sofrimento é ter que aturar você de volta.
VERINHA (sincera): Mas a senhora não vive sem mim, fala a verdade.
VIOLETA (seca, caminhando até o espelho): Eu vivia muito bem, obrigada. Agora vai, antes que o arrependimento fale mais alto.
VERINHA: Até amanhã na empresa. Bye.
Verinha se vira, mudando totalmente a expressão de falsidade e revirando os olhos. Violeta fica no mesmo lugar, pensando se fez a escolha certa em recontratar Verinha.
CENA 04: CASA DE JANETE/INT./NOITE
Alyra entra em seu quarto acompanhada de Amélia, após chamar a prima para uma conversa séria. Alyra parece inquieta.
AMÉLIA: Que cara é essa aí? Você não é de me chamar pra conversar assim… aconteceu alguma coisa?
ALYRA: Amélia, eu tive pensando numa coisa muito séria…
AMÉLIA (preocupada): Fala logo, mona. É algo grave?
ALYRA: Talvez seja. Aquele bilhete que eu recebi falando sobre a morte do meu paizinho não sai da minha cabeça. Eu fico pensando, pensando e não consigo sequer levantar uma suspeita. Mas tem uma coisa… eu sinto que o paizinho deve ter deixado alguma pista na Bella Glamour. Alguma coisa que revele quem foi o assassino.
AMÉLIA: Mas isso é old, né? As pistas devem estar todas lá. Mas fala logo… me chamou aqui pra quê?
ALYRA: Amélia, eu preciso muito da sua ajuda. Você é uma mulher pra cima, corajosa, que encara qualquer coisa, não é?
AMÉLIA: Claro, mô. Eu rio na cara do perigo.
ALYRA: Então… será que você abriria mão do seu trabalho pra conseguir outro?
AMÉLIA (surpresa): Oi? Tá louca? Logo agora que eu tô ganhando bem?
ALYRA (implorando): Amélia, por favor… eu preciso que você entre na Bella Glamour como funcionária. É a única forma de conseguir essas informações sobre a morte do meu pai. Só você pode me ajudar. Por favor, eu te imploro.
AMÉLIA: Peraí, peraí, peraí… você quer que eu me infiltre na Bella Glamour? Tipo uma espiã?
ALYRA: Isso!
AMÉLIA (receosa): Ah, não sei, não, hein? A cobra da Violeta já me viu uma vez e pode muito bem me pegar com a boca na botija.
ALYRA: Ela não vai te reconhecer. Milhares de pessoas entram e saem daquela empresa todos os dias e a Violeta
não tem acesso a todos os setores, sem falar que não é ela quem faz as contratações. Confia em mim, Amélia. Vai dar tudo certo.
AMÉLIA (rendida): Tá bom, vai… Eu topo. Amanhã mesmo eu vou pedir demissão do meu emprego. Mas ó, você me garante mesmo que eu vou ser contratada na Bella?
ALYRA: Claro que sim. A empresa faz contratações toda semana. Pode ficar tranquila. (pausa) Muito obrigada, Amélia. Eu sabia que podia contar com você.
Ainda preocupada, Amélia dá um sorriso fechado e as duas se abraçam. A câmera se afasta lentamente.
UM DIA DEPOIS…
NOVA YORK
Ao som de “Stormy Weather - Etta James” são exibidas imagens da cidade.
CENA 05: NOVA YORK/RUA/MANHÃ
Pessoas passeiam pelas ruas em meio ao frio do inverno. Todas usam casacos pesados e cachecóis, enquanto a neve fina cai suavemente sobre a cidade. No Central Park, pessoas passeiam tranquilamente enquanto conversam. A câmera se aproxima devagar de duas mulheres, que andam lado a lado. Ao chegar mais perto, revela ser Alzira (Bia Nunnes) e Adelaide (Patrícia Pillar).
ADELAIDE: Essa cidade me faz tão bem, sabia? Mas não é onde eu quero viver pro resto da minha vida.
ALZIRA: Adelaide, não me diga que voltou com aquela ideia de-
ADELAIDE (interrompe): Voltar para São Paulo. É isso mesmo que eu vou fazer, Alzira. Depois de anos fingindo estar morta, eu vou voltar. Eu vou voltar pra ter o amor da minha filha de volta. A Alyra é a pessoa que eu mais amo nesse mundo.
Emocionada e ao mesmo tempo decidida, Adelaide olha para Alzira. A câmera intercala entre elas.
CONGELAMENTO EM ADELAIDE.
Encerramos o capítulo 16 ao som de “Bixinho (Remix) - DUDA BEAT, Lux & Tróia”.
%20(1).jpg)
Nenhum comentário:
Postar um comentário