O PREÇO DA VIDA - CAPÍTULO 09 (12/11/2025)

 


O PREÇO DA VIDA 


criada e escrita por: Luccas Sanza


Capítulo 09


CENA 01. RIO DE JANEIRO. PLANOS GERAIS. EXT. DIA.


O Rio de Janeiro pulsa em vibração.


Carros e ônibus lotados cruzam a Presidente Vargas, enquanto o som das buzinas se mistura ao burburinho da manhã.


A Sapucaí, vazia e dourada pelo sol, anuncia apenas mais um dia caótico começando.


A praia de Copacabana desperta cheia de vida — crianças correm pela areia, vendedores gritam seus pregões, o mar reflete o brilho quente do verão.


Os Arcos da Lapa resplandecem imponentes sob a luz do sol, enquanto o bonde amarelo atravessa preguiçoso entre as sombras dos prédios antigos. Corte seco. Uma delegacia no centro da cidade.


Corte para: 


CENA 02. DELEGACIA. CELA. INT. DIA.


Sirenes ecoam ao fundo enquanto a câmera explora lentamente o corredor insalubre. Cortamos para uma cela iluminada pela brecha do sol.


Em um corte rápido, vemos Estevão sentado no canto da cela — triste, pensativo.


A câmera foca em seu rosto e se aproxima devagar.


FLASHBACK (Capítulo 02) 


O carro atinge o homem. O para-brisa estilhaça.


Sangue escorre. O carro derrapa, descontrolado.


Estevão para. Respiração ofegante, mãos trêmulas, o pulso pulsando.


ESTEVÃO — O que eu fiz? O que eu fiz?!


Corte rápido: Estevão sai do carro.


O homem está no chão, agonizando, sangue espalhado pelo asfalto.


HOMEM — (fraco, quase sussurrando) Socorro... alguém... ajuda...


Close nas mãos de Estevão sobre a cabeça, tremendo. Ele dá um passo atrás, paralisado.


A câmera o segue enquanto ele corre de volta para o carro, respiração pesada.


FIM DO FLASHBACK 


A câmera permanece no rosto dele, em planos fechados, enquanto um ruído distante — alguém chamando — começa a ecoar. O som aumenta, até revelar a voz de uma policial.


POLICIAL (OFF) — Estevão... seu pai tá aí querendo te ver!


ESTEVÃO — Meu pai...?


POLICIAL — É agora. Levanta!


A policial destranca a cela. Estevão se levanta. Ela o algema e o conduz. Cortamos para a sala de visitas.


CONTINUÓ. SALA DE VISITAS. INT. DIA.


Estevão entra na sala. Rog está de costas. A tensão é palpável no ar.


Lento, Rog se vira — o olhar cheio de fúria encontra o de Estevão, envergonhado, trêmulo.


ESTEVÃO — Pa... pai... o que o senhor está fazendo a-aqui?


Rog se aproxima devagar, imponente, até ficarem cara a cara. O silêncio pesa.


De repente, com um movimento rápido e violento, Rog desfere um soco no rosto de Estevão. O impacto ecoa pela sala.


Estevão cai no chão, o sangue escorre pelo canto da boca. O som das algemas batendo no piso metálico quebra o silêncio.


ROG — (FURIOSO) Como você pôde esconder de mim... que matou alguém, moleque?!


Close em Estevão. Ele chora, humilhado, o olhar perdido, sem força para responder.


A câmera permanece nele, plano fechado, o som ambiente abafado — apenas o eco da respiração e o sangue pingando no chão.


Corte para:


ESTAMOS APRESENTANDO 

VOLTAMOS A APRESENTAR 


O ar é denso. A luz entra pelas grades, recortando as sombras no chão.


Rog está de costas, rígido. Estevão entra, hesitante, as algemas tilintando. A policial fecha a porta atrás deles.


Um silêncio. A respiração dos dois é o único som.


ESTEVÃO — Pa... pai? O senhor aqui?


Rog se vira devagar. O olhar é puro desprezo. Estevão engole seco.


ROG — (FRIO) Então é isso que sobrou do meu filho. Um assassino.


ESTEVÃO — Não fala assim… eu não quis — foi um acidente!


ROG — (CORTA, GRITANDO) Acidente?! Você matou um homem, Estevão! E ainda tentou esconder isso de mim! Você não tem ideia da vergonha que eu passei quando soube pela imprensa!


Estevão se aproxima, emocionado.


ESTEVÃO — Vergonha?! O senhor se preocupa mais com o nome da família do que comigo! Eu sou seu filho!


ROG — (IRÔNICO) Meu filho? Você deixou de ser isso quando destruiu tudo o que restava da sua mãe!


O golpe emocional é certeiro. Estevão sente o chão sumir sob os pés.


ESTEVÃO — (VOZ EMBARGADA) O senhor ainda joga isso na minha cara... até hoje? Ela morreu, pai! A culpa não foi minha!


ROG — (GRITA) Foi, sim! Ela se acabou tentando te salvar desse caminho que você escolheu! E no fim, olha pra você! Preso! Um fracasso, igual ao que sempre temi que virasse!


ESTEVÃO — (SE DESCONTROLA) O senhor nunca tentou me entender! Desde moleque eu só ouvia grito, cobrança, humilhação! Eu errei, mas pelo menos eu sinto alguma coisa! O senhor não sente nada! Nem amor, nem culpa, nem perda!


Rog se aproxima devagar, o olhar gelado.


ROG — Sabe o que eu sinto, Estevão? Nojo. Nojo de ver o que você se tornou.


ESTEVÃO — (GRITA, LÁGRIMAS CAINDO)


E eu sinto raiva! Raiva de ter um pai que só aparece pra me pisar! O senhor é um merda, Rog! Um merda de pai!


O silêncio pesa. A tensão corta o ar.


A câmera fecha no rosto de Rog — o maxilar trincado, a respiração pesada.


Um passo.Dois. A distância entre eles some.


Plano detalhe. A mão de Rog se ergue. Corte rápido. um estalo seco preenche a sala.


O tapa é forte. A câmera mostra apenas o rosto de Estevão virando com o impacto.


O som ecoa. Ele cai de costas, algemado, o ar fugindo dos pulmões.


Plano fechado. Lágrimas misturadas ao sangue no canto da boca.


ROG — (FORA DE SI, GRITANDO) Você me destruiu! Me fez passar vergonha! Você é a vergonha da minha vida, moleque!


ESTEVÃO — (VOZ TRÊMULA, NO CHÃO) E o senhor… é um covarde…


Rog para. O ódio dá lugar ao vazio.


A câmera gira em torno dele — o rosto tomado por culpa, silêncio e desespero.


Plano detalhe. a mão de Rog tremendo.


Ele encara a própria mão, como se só agora entendesse o que fez.


ROG — (SUSSURRANDO) ...meu Deus... o que eu fiz...


A policial observa da porta, imóvel.


Rog passa por ela, sem olhar, sai do ambiente.


Plano fechado. Estevão no chão, a luz das grades recortando seu rosto. A respiração trêmula, o olhar perdido. Silêncio absoluto.


Corte para:


CENA 03. PENSÃO DE CLARA. SALA. INT. DIA.



O sol entra pelo corredor iluminando o chão.


Júlio segura o celular com força, respirando devagar, tentando disfarçar a ansiedade.


ODILA (V.O.) — Não precisa, meu amor… eu já chamei um carro pra te buscar! Hoje eu quero você só pra mim. Gostoso!


JÚLIO — Tá… tá bom, eu espero o carro. Chega, tá linda! Beijo, tchau!


Ele guarda o celular.


Edna sai de trás do corredor, observando.


Ela dá um tapinha nas costas dele, firme.


EDNA — Tava falando com quem aí, meu filho?


JÚLIO — Tava arranjando um free-lance pra eu fazer.


EDNA — (TOSSE SECA) Onde é esse free-lance, Júlio?


JÚLIO — (MENTINDO) Ah… ah… mãe… ele fica… fica em Deodoro, perto da estação de Deodoro.


EDNA — Ata, tá bom saber.


O carro preto espera na rua. Júlio entra pelo banco de trás, ajustando a mochila, nervoso.


PLANO FECHADO — Edna observa o carro se afastar.


O sorriso desaparece, o olhar dela endurece. Atrás dela, o som de uma moto acelerando.


Ela sobe na garupa, determinada.



EDNA — Moço, segue aquele carro preto! Agora!


MOTOTAXISTA — Mas senhora…


EDNA — Não discute! Vai!


A moto dispara. O carro segue pela Rua Conde de Bonfim, atravessando a Tijuca, rumo à Lagoa Rodrigo de Freitas.


 o carro passa por ruas movimentadas, carros, pedestres e o sol refletindo nas fachadas, criando tensão visual.


ESTAMOS APRESENTANDO 

VOLTAMOS A APRESENTAR 


CENA 04. LAGOA RODRIGO DE FREITAS. EXT. DIA.


O carro preto contorna a Lagoa, o sol refletindo na água, iluminando os prédios e as árvores ao redor. Júlio no banco de trás, inquieto, mexe no celular e olha pela janela.


De repente, uma figura surge correndo na frente do carro. Plano detalhe. o motorista freia bruscamente. O carro derrapa levemente.


O impacto é mínimo, mas suficiente para Maggie tropeçar e bater levemente em um caminhão estacionado. Ela cai, respira fundo, confusa e brava. Júlio arregala os olhos, pálido.


JÚLIO — (GRITANDO, DESESPERADO) Ei! Você tá bem? Por favor, me diz que tá bem! Eu não tava olhando direito, eu juro, eu não podia prever que alguém ia aparecer na rua assim… Por favor, levanta, fala comigo, eu tô falando sério, você não se machucou, né?


Maggie se ergue rapidamente, respirando fundo, encarando Júlio com raiva e desconfiança.


MAGGIE — (GRITANDO, FURIOSA) Você tá falando sério? Você quase me matou! Você tinha ideia do que podia acontecer? Do perigo que você me colocou? Você entra nesse carro como se estivesse andando no quintal de casa e não olha pra frente, não presta atenção em nada, e ainda tem a coragem de me falar agora que “não podia prever”? Sério, você acha que isso é brincadeira?


JÚLIO — (TENTANDO SE CONTROLAR, GESTICULANDO) Olha, eu entendo que você tá brava, e com razão! Eu sei que errei, sei que poderia ter acontecido algo sério… Mas eu juro que não tinha como ver você! Eu tava distraído, eu tava pensando em outra coisa, eu tava mexendo no celular, e eu só queria chegar aqui sem problemas… e agora você tá aí, no chão, me olhando com raiva… E eu não quero que você pense que eu fiz isso de propósito!


MAGGIE — (AINDA DESCONFIADA, CRUZANDO OS BRAÇOS) Desculpas… Desculpas não resolvem nada. Você não me conhece, e mesmo assim quase me atropelou! E se eu não tivesse conseguido sair do caminho a tempo? Você nem pensou nisso! Nem um segundo!


JÚLIO — (MAIS CALMO, OLHANDO DIRETO PARA ELA) Eu sei, eu sei… e é por isso que eu tô aqui tentando me explicar! Eu não quero que você me odeie antes mesmo de me conhecer! Eu não quero começar com o pé errado! Eu só… eu só quero que você entenda que não foi intenção, que eu não vim aqui pra machucar ninguém… muito menos você!


Plano fechado. os olhos de Maggie, ainda desconfiados, começam a revelar um pouco de interesse, curiosidade e confusão.


MAGGIE — (MAIS BAIXA, QUASE SUSSURRANDO) Você é… completamente louco. Sério. Mas eu ainda tô viva, então… acho que você pode ter alguma chance de se explicar melhor. Mas se fizer besteira de novo, não vai ter desculpa que salve.



JÚLIO — (ALIVIADO, SUSPIRA) Obrigado… obrigado por me ouvir. Eu prometo que não vai acontecer de novo. 


Plano Geral. Edna e o mototaxista chegam à altura do carro. Ela observa tudo à distância, olhos fixos em Júlio no banco de trás.


O vento bagunça o cabelo dela, o olhar fixo e calculista.


EDNA — (TENSA) Eu tô de olho em você, Júlio. Cada passo, cada movimento… hoje eu vou saber exatamente o que você tá aprontando.


O carro começa a se mover novamente. Júlio olha para Maggie, tentando se aproximar e explicar.



JÚLIO — (FALANDO COM FIRMEZA, GESTICULANDO) Olha, eu sei que você não me conhece, mas eu não vim aqui pra causar problemas… Eu só precisava de alguém que entendesse a situação e pudesse me ajudar. Eu sei que você pode estar pensando que eu sou irresponsável, que eu não devia me meter nesse tipo de confusão, mas eu não tive escolha! Eu não podia ficar parado e ver tudo desmoronar sem tentar fazer alguma coisa!



MAGGIE — (OLHAR SÉRIO, CRUZANDO OS BRAÇOS) Você fala como se eu fosse sua amiga de infância, mas eu nem sei seu nome direito… E ainda assim você acha que eu vou confiar em você assim, do nada?


JÚLIO — Eu sei… parece loucura, e eu provavelmente tô pedindo demais… Mas se você me ouvir, se você me der só alguns minutos, eu posso explicar tudo. Pode ser que você não goste, pode ser que você não acredite… mas pelo menos você vai saber a verdade, tudo que eu tô tentando resolver.


 A moto de Edna acompanha o carro, ficando mais próxima, o som do vento e do trânsito domina a cena.


MAGGIE — (SUSPIROS, OLHANDO PARA JÚLIO) Tá… tudo bem, mas eu vou ouvir cada palavra sua, e se eu perceber que você tá escondendo alguma coisa, se tá mentindo, você vai se arrepender.


JÚLIO — (ALIVIADO) Eu prometo… nada de mentiras. Eu só quero que você me entenda.


Plano Detalhe. Os reflexos do sol na água da Lagoa iluminam os rostos de Júlio e Maggie.


O clima é tenso, mas uma ponte de entendimento começa a surgir.


 o carro segue contornando a Lagoa, a moto de Edna ainda próxima, como uma sombra vigilante, enquanto o trânsito, o sol e a água formam um quadro cinematográfico perfeito.


Corte para:


CENA 05. PENSÃO DE CLARA. CORREDOR/ESCADA. INT. DIA.


Plano geral. a sala iluminada pelo sol da manhã.


Camilla está sozinho, apoiado na parede, respirando com dificuldade, a mão na barriga, visivelmente tonto.


CAMILLA — (VOZ TRÊMULA) M-mãe… ajuda… Ele respira fundo e dá o primeiro passo em direção à escada, cambaleando. Tenta segurar o corrimão, mas as mãos tremem e escorregam.


CAMILLA — (GRITANDO) Mãe! Socorro! O corpo de Camilla balança para frente. Ele pisa no segundo degrau e tropeça, a cabeça se inclina levemente para trás, os braços se estendem tentando se equilibrar.


A ponta do joelho bate no degrau, fazendo um som seco, e ele solta um gemido baixo. O corpo rola levemente para o lado, os braços ainda buscando algo para se apoiar.


Suas costas batem contra o degrau seguinte, ecoando pela escada. O corrimão passa raspando pelos dedos, mas ele não consegue segurar. Ele desliza rapidamente, os pés tocando cada degrau com um som abafado.


No último movimento, Camilla atinge o chão. O impacto faz o corpo tremer levemente e ele fica imóvel por alguns segundos, respirando com dificuldade.


Plano detalhe. Close nas mãos ainda tocando o chão, dedos levemente contraídos, tremendo. O suor escorre pelo rosto, e o cabelo bagunçado mostra o esforço e dor da queda.


Plano Geral. Camilla está deitada ao pé da escada, a luz do sol entrando pela janela iluminando parcialmente o rosto pálido. O silêncio absoluto domina o ambiente, apenas a respiração fraca de Camilla ecoando.


CORTE RÁPIDO — FIM DO CAPÍTULO 

A novela encerra seu nono capítulo ao som da sonoplastia: Delícia/Luxúria - Sophia Chablau (Tema original de abertura)



EM DEZEMBRO, UM DOS MAIORES SUCESSOS DA LACRETV CONTINUA

criada e escrita por: Sinceridade

"GATO E SAPATO"


QUATRO POR UM | CAP. 32 (11/11/2025)

Quatro por Um - Capítulo 32



uma novela de: 

Jacques LeClair


escrito por:

Jacques LeClair


Direção:

Allan Fiterman

Leonardo Nogueira


Elenco:

Letícia Colin como Anabel Royal

Marcello Melo Jr. como Rafael Royal

Renato Góes como Miguel Royal

Sheron Menezzes como Isabel Royal 


Elenco em ordem alfabética 

Ângela Vieira como Eleonora Bonfim Alcântara 

Christiane Torloni como Selma Royal

Dan Stulbach como Celso Alcântara 

Emílio Dantas como Jorge Passos 

Felipe Bragança como Marcos Muniz de Albuquerque 

Giovanna Cordeiro como Solange Alcântara 

Herson Capri como César Barbosa

Lilia Cabral como Suely Muniz de Alcântara 

Lucinha Lins como Eliete Royal

Marcos Palmeira como Higor Calmon

Maria Eduarda de Carvalho como Maria Carolina “ Carol " Muniz de Albuquerque 

Mariana Sena como Luisa Silva

Mel Maia como Bianca Pinheiro Royal

Paulo Betti como Antônio Marcos Albuquerque 

Paulo Lessa como Joel Bastos

Rayssa Bratilieri como Suelen Paz

Renan Monteiro como Rui Dantas

Ricardo Pereira como Dr. Bernardo França 

Selton Mello como Sérgio Santos

Sophie Charlotte como Josie Pinheiro 

Stella de Freitas como Norma Junqueira 

Suely Franco como Vilma Celestino

Valentina Herszage como Helena Royal 


Participações especiais

Cosme dos Santos como Amadeu Neves

Cristiane Pereira como Rita Anjos

Irene Ravache como Noelita Palmeira

Kadu Moliterno como Cassiano Dias

Renata Sorrah como Eunice

Othon Bastos como Paulo


Continuação do Capítulo anterior


Cena 01: Apartamento de Cezar - Noite - Interna. 


Cezar está arrumando as malas, organizando tudo. Ele vai até a porta e abre, para colocar as malas lá fora. Ele lembra de pegar algo e entra. Helena entra.


HELENA: Para onde você está indo?


CEZAR: Para algum lugar. E o que você está fazendo aqui? Resolveu voltar, foi?


HELENA: Até parece que eu voltaria pra você. Só vim buscar o que restava das minhas coisas.


CEZAR: pegue logo, e adiante, porque já estou indo embora. (Helena sai)


um revólver dispara do lado de fora, e pega em Cezar, que cai morto no chão. 


Trilha: Na Trilha do Suspense - Sacha Amback 


HELENA: Cezar, não estou achando a minha bolsa… (ela vê o corpo morto) Meu Deus (grito) Cezar? Cezar, o que houve? Meu Deus, é sangue! (Grito)


Helena sai correndo do local, totalmente assustada com o que viu. Corte de imagem mostra a ambulância indo buscar o corpo.


Cena 02: Restaurante - Noite - Interna 


Trilha: Witchout You - Harry Nilsson (baixo)


MIGUEL: Que bom que você veio.


LUISA: O que você quer? Eu vim rápido, mas já sabendo que tenho pouco tempo.


MIGUEL: Tentarei ser breve. Eu já sei de tudo o que aconteceu, e desde já te peço desculpas pela forma como te tratei … chegou uma carta em minhas mãos, logo depois que você viajou, dizendo que deveríamos terminar tudo. Eu até trouxe a carta para você ler. Porém a Carol …


LUISA: Que Deus a tenha 


MIGUEL: Que Deus a tenha… enfim, a Carol confessou tudo, dizendo que foi ela e minha mãe que escreveu essa carta.


LUISA: E o que eu tenho a ver com isso?


MIGUEL: Eu vim te pedir desculpas…


LUISA: Está desculpado. Agora preciso ir.


MIGUEL: Espera, mas já?


LUISA: Eu te falei que estava com pressa.


MIGUEL: Mas ainda assim, tudo acabará desse jeito? Um tchau e acabou?


LUISA: Olha, Miguel, eu de fato senti algo por você, mas desde aquele dia que você me tratou mal, acabou. Eu não sinto mais nada, e nem pretendo sentir. Você acreditar em qualquer coisa que te disserem é de uma ingenuidade…


MIGUEL: Espera lá, mas foi você que sumiu sem falar nada. Se ao menos você tivesse me avisado, nada disso teria acontecido.


LUISA: Mas isso foi parte de um acordo entre eu e a Suely. O acordo para que eu trabalhasse com ela era justamente esse, de não contar nada. Meu Deus, como eu não notei isso antes.


MIGUEL: Agora está explicado… isso era tudo parte de um plano. Como eu pude ser ingênuo.


LUISA: Como eu pude ser ingênua? Eu não notei isso.


MIGUEL: Pois é… nós dois fomos enganados. O que eu não gostaria, Luisa, era de perder a sua amizade. Eu sei que te decepcionei, mas eu te peço que me perdoe.


LUISA: Mas eu já te perdoei.


MIGUEL: Mas eu não quero que apenas me perdoe. Eu peço que me aceite de volta…


LUISA: Como amigo?


MIGUEL: Não, dessa vez não mais como amigo. Mas como mulher! (Os olhos dela brilham. Ele se ajoelha com uma aliança) Luisa, você aceita ser a minha mulher?


Luisa fica parada, sem reação. Todos ao redor a observam.


LUISA: Eu… eu…


TODOS AO REDOR: Aceita! Aceita! Aceita!


MIGUEL: Você tem todo o tempo para pensar.


LUISA: Miguel, olha… (Miguel muda a feição) eu… aceito!


Todos comemoram, e os dois se beijam, a música toca no máximo.


MIGUEL: Pois agora, uma rodada de bebida pra todo mundo, por minha conta! (os dois se beijam)





Cena 03: Casarão Albuquerque - Noite - Interna.


Antônio entra pela porta da frente, triste. Suely percebe.


SUELY: O Que foi, meu amor? Não teve uma boa caminhada?


ANTÔNIO: Sabe, Suely, quando essas coisas nos acontece, fazemos todos os tipos de besteiras … e comigo não foi diferente.


SUELY: Mas o que você fez?


ANTÔNIO: Nada… deixa pra lá. Deve ser coisa da minha cabeça… tem café pronto?


SUELY: Tem. Só que está sem açúcar, porque a Carol não toma com açúcar, você sabe… digo, o café está sem açúcar.


ANTÔNIO: Sem problemas. Hoje eu prefiro um café amargo mesmo. Bem amargo.


SUELY: Sabe, Antônio. Tem horas que meu desejo é vender esta casa


ANTÔNIO: Porque?


SUELY: Porque este lugar me traz muitas lembranças. Boas, mas principalmente lembranças da Carol. Desde a porta de entrada até a saída, eu enxergo a minha filha em cada detalhe. Não sei se conseguirei ficar aqui por tanto tempo.


ANTÔNIO: Eu não te julgo, penso da mesma forma. Mas sabe o que me assusta?


SUELY: O que?


ANTÔNIO: O Marcos está quieto, calado, desde o dia da morte da irmã. 


SUELY: Ora, Antônio, mas era irmã dele. É o mais comum a acontecer.


ANTÔNIO: Eu sei. Mas os dois nunca foram próximos. 


SUELY: Eu acho melhor era você ir lá e tomar o seu café.


Cena 04: Apartamento de Celso - Noite - Interna. Helena entra em casa apressada e Eleonora percebe.


ELEONORA: Mas o que foi, Helena? Outra vez entrando apressada assim?


HELENA: Não é nada, Vó!


ELEONORA: Não me chama de Vó! Que coisa. (O celular de Celso toca) Celso! Seu celular está tocando. E está dando como número desconhecido.


CELSO: Espera que eu já atendo. Quem será que está me ligando a uma hora dessas? Alô?


Trilha: Tenso Drama Moo - Mu Carvalho 


JOEL: Celso? É o Joel.


CELSO: Mãe, consegue me deixar só?


ELEONORA: Era só o que me faltava. (Se levanta e sai)


CELSO: Joel? Mas onde é que você está? Já tem dias que você não aparece na empresa.


JOEL: Não é hora de falarmos sobre isso. Escuta, preciso da sua ajuda.


CELSO: Mas pra fazer o que? 


JOEL: Eu estou foragido, a polícia está atrás de mim.


CELSO: A polícia? Mas o que foi que você fez?


JOEL: Não é hora de falar sobre isso. Eu preciso de uma ajuda sua. Preciso que você traga comida aqui para o lugar onde eu estou.


CELSO: Mas eu nem sei onde você está.


JOEL: Eu te dou as coordenadas. O que eu preciso é que você venha para cá. 


CELSO: Você quer que eu me envolva nas suas loucuras? E se a polícia me pega?


JOEL: Se você não trouxer a comida, eu mando te matarem, se não eu mesmo vou atrás de você.


CELSO: Você não seria capaz…


JOEL: Não seria? Você não sabe do que eu sou capaz. Anda, traga logo, eu te mando as coordenadas.


CELSO: Eu peço pra alguém levar.


JOEL: Eu não quero que alguém leve. Eu quero que você venha trazer. 


CELSO: Eu posso ver… depois eu converso com você.


Cena 05: KitNet - Noite - Interna. Carmen está assistindo Tv.


CARMEN: Vilma, venha ver essa novela, está uma maravilha. Essa já é a última semana dela.


VILMA: Mas do que adianta eu ver uma novela que já está no fim?


CARMEN: Se você acompanhasse desde o início, não teria esse problema…


Entra um plantão jornalístico, e Carmen presta a atenção.


CARMEN: Um plantão jornalístico!


VILMA: Qual deve ser a desgraça da vez?


“O plantão jornalístico informa: acaba de falecer o empresário e um dos diretores do Grupo Royal. Cezar Barbosa, assassinado na noite deste dia." 


Trilha: Tenso Leve Aa - Mu Carvalho 


ISABEL: O Cezar?


RAFAEL: O Cezar?


ANABEL: O Cezar?


MIGUEL: O Cezar?


CARMEN: O Cezar?


VILMA: Quem é Cezar?





Trilha: Tenso Leve Aa - Mu Carvalho 


CARMEN: Como quem é Cezar, Vilma? Você não lembra dele. Meu Deus, como isso aconteceu?


VILMA: Como acontece com qualquer um. Atirou, morreu.


CARMEN: Incrédula estou. Gente, parece até que essas coisas acontecem só em filmes…


VILMA: Vai que estava envolvido em algo.


CARMEN: Você tem razão. Não é estranho que isso aconteça. Pois é. Pra morrer, basta estar vivo…


Trilha: Total Eclipse Of The Heart - Bonnie Tyler 


Imagens do Rio são mostradas, levando para o dia seguinte. 


Cena 06: Apartamento de Jorge - Manhã - Interno


Na cena, está Jorge, Anabel, Selma e Carmen


CARMEN: Jorge, cheguei o mais cedo que pude.


ANABEL: Pois se acha que com essa explicação, conseguirá me explicar alguma coisa, pode tirar seu cavalinho da chuva


SELMA: Vamos ouvir o que ele tem a dizer. Diga, filho.


JORGE: Pois bem. Eu sei que o que fiz foi tudo errado, principalmente em te esconder isso, Anabel. Mas eu tentei preservar a imagem dela.


ANABEL: Mas dela quem?


JORGE: Pode entrar, mãe.


Trilha:


Eunice entra, causando espanto para Carmen.


CARMEN: Eunice? Você é a mãe do Jorge?


JORGE: Pois agora, de uma vez por todas, vou explicar tudo o que aconteceu.


Encerramento no rosto de Jorge, ao som de Total Eclipse Of The Heart - Bonnie Tyler 










 

O PREÇO DA VIDA - CAPÍTULO 08 (10/10/2025)

 


O PREÇO DA VIDA 


criada e escrita por: Luccas Sanza 


Capítulo 08


CENA 01. PENSÃO DE CLARA. SALA. INT. NOITE.


Júlio fica estático. O sangue parece sumir do rosto. Na entrada, Edna — a mãe — surge com um sorriso cansado, mas cheio de ternura. Atrás dela, Fabinho equilibra duas malas e observa o amigo, meio sem jeito.


EDNA — Não vai me convidar pra entrar, filho? Hein?


JÚLIO — (ENGASGADO) Cla... claro, mãe. Que surpresa... ver a senhora aqui.


Edna entra devagar, observando cada canto da sala. A câmera acompanha o olhar dela: paredes simples, cheiro de comida, o rádio chiando um samba antigo.


Um ambiente modesto — mas acolhedor.


FABINHO — (TENTANDO ALIVIAR O CLIMA) Falei pra ela esperar, Júlio, mas cê conhece a dona Edna… Quando bota uma coisa na cabeça, não tem quem tire.


EDNA — (RINDO) Ah, Fabinho... eu só quis ver meu filho. Um mês longe e sem notícia!


Você me promete que vai trabalhar no Rio e depois some… Como é que uma mãe não se preocupa?


Júlio força um sorriso, evitando o olhar dela. O rosto dele está tenso, os olhos marejados.


JÚLIO — Eu... só tava resolvendo umas coisas, mãe.


EDNA — Resolvendo o quê, Júlio? Você disse que ia vir pro Rio pra conseguir o dinheiro da minha cirurgia. Que já tinha emprego certo, que tava tudo encaminhado.


Silêncio. O som da chaleira apitando na cozinha preenche o espaço.


EDNA — (MAIS SUAVE, COM TERNURA) Eu sei que não é fácil... mas não precisava se virar sozinho assim. Esses pólipos me atrapalham pra falar, pra cantar… Mas eu ainda sou tua mãe, meu filho. Não queria que você se matasse por minha causa.


A câmera se aproxima do rosto de Júlio.


Ele segura as lágrimas, tentando conter o nó na garganta.


JÚLIO — (BAIXO, QUASE SUSSURRANDO) Eu não tô me matando, mãe. Tô só... tentando fazer o que posso.


Edna o encara — há carinho, mas também uma pontada de desconfiança.


EDNA — (SÉRIA) E o que é, exatamente, que você anda fazendo?


Antes que ele responda, Clara aparece no vão da porta, enxugando as mãos no avental.


CLARA — Tá tudo bem, Júlio?


JÚLIO — (RÁPIDO) Tá sim, Clara. Essa é minha mãe, dona Edna. E o Fabinho, a senhora já conhece.


CLARA — (GENTIL) Prazer, dona Edna. Seja bem-vinda.


EDNA — (EDUCADA, DISFARÇANDO O DESCONFORTO) Prazer, minha filha.


CLARA — O jantar tá quase pronto. Se quiserem se acomodar, tem mesa posta lá dentro.


Clara volta pra cozinha. Edna acompanha o movimento com o olhar, desconfiada.


EDNA — Então é aqui que você tá morando? Uma pensão...



JÚLIO — É, mãe. A Clara é madrinha do Fabinho. Me ajudou quando eu cheguei.



EDNA — (ARQUEANDO A SOBRANCELHA) Ah... entendi.


Um silêncio espesso toma conta da sala.


Fabinho pega as malas e segue pro quarto, deixando mãe e filho a sós.


EDNA — (BAIXO, PORÉM FIRME) Júlio... você tá mesmo trabalhando, né? Nada errado... me promete.


Júlio segura o olhar dela por um instante.


O peso do que ele esconde é quase visível.


JÚLIO — (MENTINDO COM DOÇURA) Tô, mãe. Tá tudo certo. Eu prometo.


Edna o abraça, aliviada. Mas o rosto de Júlio, visto por trás do ombro dela, é um retrato de culpa.


A câmera fecha devagar no olhar dele — vazio, distante. O som do rádio aumenta, tocando um samba antigo de fundo.


Corte para:


CENA 02. PENSÃO DE CLARA. QUARTO DE CAMILLA. INT. NOITE.


O quarto está silencioso, abafado.


O ventilador gira devagar no canto, rangendo a cada volta, como se o tempo passasse mais lento ali dentro. Camilla está sentada na beira da cama, inquieta, as mãos apertadas entre os joelhos. Mel está de pé, encostada na parede, tentando entender o que acabou de ouvir.


MEL — Camilla… você tá me deixando nervosa. Quem é o pai, afinal?


Camilla demora pra responder. O olhar perdido, a respiração presa no peito. Ela abre a boca, hesita — e finalmente deixa escapar:


CAMILLA — O pai… é o Júlio.


Silêncio. Um silêncio espesso, quase sufocante.


O ventilador range mais uma vez, e o som parece ecoar pelo quarto inteiro.


MEL — (SURPRESA, MAS CONTIDA) O Júlio? O Júlio da pensão? Cê tá dizendo que… é ele mesmo?


Camilla levanta o olhar, com os olhos marejados, a voz trêmula.


CAMILLA — É ele, Mel. Eu juro. Eu tentei não acreditar, tentei negar pra mim mesma… mas eu sei. Eu sinto. E agora eu tô com medo… um medo que eu não sei nem explicar direito.


Mel se aproxima devagar, sem tirar os olhos dela.


MEL — Medo de quê? De ele não querer saber?


CAMILLA — De ele me rejeitar.


De olhar pra mim e não ver um filho — ver um peso. Eu sei o que é crescer com o vazio de um pai que vira as costas, Mel.


Eu vivi isso. Minha mãe passou a vida esperando um homem que nunca voltou. E agora… eu tô apavorada com a ideia de reviver isso tudo.


Ela segura a própria barriga, como se tentasse se proteger.



CAMILLA — Eu olho pra esse bebê e só penso que eu não posso deixar ele sentir o que eu senti. Mas o Júlio… Ele é um mistério. Sempre parece que tá escondendo alguma coisa. Às vezes, quando ele sorri, parece que por trás tem um abismo. E se ele descobrir e sumir, Mel? E se ele disser que não quer?


Mel suspira fundo, tentando pensar.


A tensão é tanta que até o ar parece mais quente.


MEL — (FALA LONGA, TENTANDO ACALMÁ-LA) Camilla, o Júlio é cheio de coisa que a gente não entende, é verdade. Mas ele não é cruel.


Ele tem um jeito torto, mas tem coração.


E, olha… se você esconder isso dele, vai carregar esse medo pro resto da vida. Você precisa contar.


Mesmo que doa, mesmo que ele não saiba reagir.


Porque você não tá sozinha — nem agora, nem depois.



Camilla respira fundo, lutando contra as lágrimas. O som do ventilador continua girando, ritmado, como um relógio impaciente.



CAMILLA — (BAIXA, QUASE SEM VOZ) E se ele disser que não quer esse filho?



MEL — (FIRME, OLHANDO NOS OLHOS DELA) Então ele vai ter que aprender a querer.


Porque esse filho existe. E você não vai deixar ninguém fazer você se sentir errada por isso.



Camilla fecha os olhos por um instante.


Uma lágrima escapa. Ela sussurra, com a voz embargada:



CAMILLA — Eu só queria que ele me olhasse… e visse amor. Não arrependimento.



A câmera se aproxima devagar do rosto dela, captando o brilho das lágrimas sob a luz amarela do abajur. O som do ventilador domina a cena.



Corte para:



ABERTURA (sonoplastia: Caju - Liniker, tema de Julio e Camilla)



CENA 03. PENSÃO DE CLARA. QUARTO DE CAMILLA. INT. DIA.


A sonoplastia da abertura ainda ecoa ao fundo — um piano distante, quase sussurrado. A luz do abajur amarela o quarto, criando sombras suaves nas paredes. O ventilador gira lento, fazendo o tempo parecer arrastar. Camilla está sentada na beira da cama. O olhar fixo no chão. As mãos inquietas.



Som. Batidas leves na porta. Ela demora um segundo antes de responder.


CAMILLA — Pode entrar.


A porta se abre. Júlio entra devagar, o rosto cansado, hesitante. Ele fecha a porta com cuidado, como se tivesse medo de acordar o silêncio.


JÚLIO — Clara disse que cê queria falar comigo… (BAIXO) Tá tudo bem?


Camilla levanta o olhar. Os dois se encaram.


Há algo preso entre eles — um ar de coisa não dita.


CAMILLA — Depende do que você chama de “tudo bem”.


Júlio dá um passo pra frente, preocupado.


JÚLIO — Aconteceu alguma coisa?


Camilla respira fundo. A voz sai baixa, quase um sussurro.


CAMILLA — Você lembra daquela noite? Aquela noite… em que tudo aconteceu entre a gente.


Júlio engole seco, o olhar se perde por um instante.


JÚLIO — Lembro.Como eu esquecer?


Camilla tenta sorrir, mas o sorriso morre antes de nascer.


CAMILLA — Desde aquele dia, minha cabeça não parou um segundo. Eu tentei fingir que não significou nada, que foi um momento… que a gente se deixou levar. Mas não foi só isso. Não pra mim.


Silêncio. O ventilador range. O som parece mais alto.


CAMILLA — E agora… tem uma coisa que eu preciso te contar.


Ela hesita. O olhar se perde. A respiração treme.


CAMILLA — Eu tô grávida, Júlio.


Júlio congela. A respiração falha. O tempo parece parar.


JÚLIO — (GRAVE, BAIXO) O quê?


CAMILLA — Eu tô grávida. Fiz o teste, mais de um. Todos deram positivo. E eu… tô completamente perdida.


O olhar dele vacila. Ele dá um passo pra trás, depois outro pra frente — sem saber o que fazer com o corpo.


JÚLIO — Meu Deus… (UM SILÊNCIO) Cê tem certeza?


CAMILLA — Tenho. E… eu sei o que você pode estar pensando. Mas eu não tô te cobrando nada, Júlio. Eu não tô aqui pra te obrigar a nada. Eu só não aguentava mais carregar isso sozinha.


A voz dela embarga. Ela continua, firme, mas com o coração exposto.


CAMILLA — Eu tenho medo, sabe? Medo de você olhar pra mim e ver um problema. Medo de você me virar as costas. Porque eu sei como é crescer sem pai.


Eu vi o que isso fez com a minha mãe, e… eu nunca quis repetir essa história. Mas parece que o destino gosta de brincar com a gente. Ela faz uma pausa. O ar parece pesado.


CAMILLA — Eu só queria que você soubesse. Que você ouvisse de mim. Porque, por mais confuso que tenha sido, aquela noite foi real. E eu senti algo de verdade.


Júlio abaixa a cabeça, respira fundo. Depois, lentamente, se aproxima.


JÚLIO — Camilla… (VOZ FIRME, MAS COM O PEITO APERTADO) Eu não sou o tipo de cara que foge. Eu posso tá cheio de erro, cheio de coisa mal resolvida… Mas eu não vou fingir que nada disso aconteceu. Eu não vou virar as costas pra você, nem pra esse filho.


Camilla o encara, emocionada.


CAMILLA — Cuidado com o que você promete, Júlio.


O mundo pesa diferente quando a gente tem alguém pra proteger.


JÚLIO — Eu sei. Mas eu quero tentar. Mesmo com medo. Mesmo sem saber como. Porque, desde aquela noite, eu não consegui parar de pensar em você.


Ela o encara, e os olhos dela marejam.


Por um instante, os dois se aproximam, quase se beijam. Mas Camilla vira o rosto, recuando.


CAMILLA — Não… não agora. Eu tô confusa. Preciso entender o que sinto, o que quero. E o que a gente vai fazer.


JÚLIO — Tá tudo bem. Eu espero.


Eles ficam em silêncio.


Um silêncio cheio de tudo que não conseguem dizer.


Júlio se levanta, encara ela uma última vez.


Som. A porta se fecha devagar.


Camilla permanece ali.


Olha pro vazio, depois apoia a mão sobre o ventre. O som do ventilador continua — constante, hipnótico. A câmera se aproxima, lenta, até o olhar dela.


Corte para:


CENA 04. COPACABANA PALACE. SUÍTE PRESIDENCIAL. INT. DIA.


Luz baixa, avermelhada. Um sax suave toca ao fundo. A câmera se aproxima de Odila, envolta em um robe preto de seda, deixando parte do ombro à mostra. Ela segura uma taça de vinho tinto — o reflexo do líquido desliza pelo vidro com a mesma lentidão do seu sorriso.


ODILA — Tô com saudade... não vai vir aqui, não? Hein, Júlio?


JÚLIO (voz no telefone) — Claro, meu amor... só vou avisar a minha mãe que preciso resolver um negócio... e já tô indo aí, minha princesa.


Odila encosta a taça nos lábios, olha para o espelho e sorri de canto — provocante. Um gole, um suspiro.


Corte para:


PENSÃO DE CLARA. CORREDOR


A câmera acompanha Júlio de costas, ele guarda o celular devagar no bolso, o rosto dividido entre o desejo e a culpa. Atrás da parede, meio oculta na penumbra, Edna observa — o olhar firme, traído, respirando fundo para não ser ouvida.


A tensão cresce. A trilha some. Só o som do coração de Edna — seco, acelerado.


CORTE RÁPIDO — FIM DO CAPÍTULO


A novela encerra seu oitavo capítulo ao som da sonoplastia: At lass - Etta James (Tema de Odila)





QUATRO POR UM - CAP. 31 (10/10/2025)

Quatro por Um - Capítulo 31



uma novela de: 

Jacques LeClair


escrito por:

Jacques LeClair


Direção:

Allan Fiterman

Leonardo Nogueira


Elenco:

Letícia Colin como Anabel Royal

Marcello Melo Jr. como Rafael Royal

Renato Góes como Miguel Royal

Sheron Menezzes como Isabel Royal 


Elenco em ordem alfabética 

Ângela Vieira como Eleonora Bonfim Alcântara 

Christiane Torloni como Selma Royal

Dan Stulbach como Celso Alcântara 

Emílio Dantas como Jorge Passos 

Felipe Bragança como Marcos Muniz de Albuquerque 

Giovanna Cordeiro como Solange Alcântara 

Herson Capri como César Barbosa

Lilia Cabral como Suely Muniz de Alcântara 

Lucinha Lins como Eliete Royal

Marcos Palmeira como Higor Calmon

Maria Eduarda de Carvalho como Maria Carolina “ Carol " Muniz de Albuquerque 

Mariana Sena como Luisa Silva

Mel Maia como Bianca Pinheiro Royal

Paulo Betti como Antônio Marcos Albuquerque 

Paulo Lessa como Joel Bastos

Rayssa Bratilieri como Suelen Paz

Renan Monteiro como Rui Dantas

Ricardo Pereira como Dr. Bernardo França 

Selton Mello como Sérgio Santos

Sophie Charlotte como Josie Pinheiro 

Stella de Freitas como Norma Junqueira 

Suely Franco como Vilma Celestino

Valentina Herszage como Helena Royal 


Participações especiais

Cosme dos Santos como Amadeu Neves

Cristiane Pereira como Rita Anjos

Irene Ravache como Noelita Palmeira

Kadu Moliterno como Cassiano Dias

Renata Sorrah como Eunice

Othon Bastos como Paulo


Continuação do Capítulo anterior


Cena 01: Velório de Carol - Manhã - Interna


Todos estão lá, chorando e em sentimento pela morte da jovem. Miguel entra, em silêncio. Ele caminha a passos curtos, para ver o que o corpo. Atrás dele, entra Luísa. Miguel olha pra traz, entendo um clima.


Trilha: Without You - Harry Nilsson (instrumental)


LUISA (fria): Bom dia, Miguel… 


MIGUEL (frio): Bom dia 


LUISA: Você viu a Suely? Gostaria de falar com ela.


MIGUEL: Ela estava aqui agora a pouco. Deve ter saído.


LUISA: Eu espero. (Os dois ficam em silêncio. Luisa retoma): Uma grande perda, não é?


MIGUEL: Uma grande perda … era muito jovem.


LUISA: Você ainda estava com ela?


MIGUEL: Não, não… ela havia terminado comigo na noite anterior. Parece que foi proposital.


LUISA: Basta acreditar que foi. Ela não está mais aqui pra contestar nada. 


MIGUEL: Ela também me contou uma coisa muito grave. Preciso falar com você acerca disso… 


LUISA: Depois. A Suely acabou de chegar.


Ela sai de perto de Miguel, indo em direção a Suely, que está inconsolável.


LUISA: Dona Suely, meus pêsames!


SUELY (chorosa): Oh, Luísa… (as duas se abraçam). Depois eu preciso falar com você.


LUISA: Fique em paz. Descanse, hoje não é um bom dia. (Ela se afasta, e Miguel segue olhando para a moça. Luisa vai pegar um copo de água, e Miguel se aproxima).


MIGUEL: Luísa, eu preciso falar com você. É algo importante.


LUISA: Agora não, Miguel. Não sabe aguardar outra hora? Olha a situação totalmente desfavorável.


MIGUEL: Você pode sair hoje a noite? Às 8?


LUISA: Depois eu vejo isso, Miguel, depois eu vejo isso. Que coisa 


Luisa sai de cena. Miguel fica sem reação.


Trilha: Alone Again - Gilbert O'Sullivan 





Cena 02: Casa de Isabel - Manhã - Interno.


Isabel está regando as plantas, e recebe uma encomenda. Ela prontamente vai atender.


ISABEL: Bom dia!


ENTREGADOR: Isabel Royal? Aqui! (entrega um grande buquê de flores)


Trilha: All by Myself - Eric Carmen.



ISABEL: Obrigada! (Fecha a porta) meu Deus, mas de quem é essa encomenda?


Ela lê o cartão: “ Para a mulher mais corajosa, e linda do mundo…”


ISABEL: Mas quem deve ter mandado isso?


Cena 03: Casarão Royal - Manhã - Interna. Na sala do casarão, várias e várias caixas de mudança.


CARMEN: Meu Deus, pra onde vamos, Vilma? 


VILMA: Eu acho que já sei, Carmen.


CARMEN: Sabe? Onde?


VILMA: Uma vila bem conhecida, com o amor de sua vida.


CARMEN: O que? Para uma vila? Enlouqueceu, Vilma? Como vou levar isso tudo para aquele lugar longe, e pior, onde vamos guardar?


VILMA: Lá deve ter espaço… não acha bom?


CARMEN: Vou ver se tenho algum dinheiro guardado… nem que eu consiga alugar uma kitnet, mas em uma vila eu não moro. (Ela sobe as escadas)


VILMA: Você está se preocupando atoa. O Pedro poderia te ajudar nisso.


CARMEN: Não, Vilma, Obrigada!


VILMA (olha pra câmera): Que mulher implicante.


Cena 04: Apartamento de Cezar - Manhã - Interna 


Trilha: Sem escrúpulos - Eduardo Queiroz 


CEZAR (ao telefone): O que? Como assim escapou?


POLICIA: Ele não estava na casa dele. É certeza que está foragido.


CEZAR: Foragido? Mas como deixaram ele ficar foragido? E se ele quiser se vingar? Como que fica?


POLÍCIA: O senhor se acalme, pois iremos resolver isso. Uma equipe está responsabilizada por isso.


CEZAR: Eu gostaria muito. Enquanto ele não aparece, farei uma viagem. Me sentirei mais protegido.


POLÍCIA: Faça como preferir. Te deixaremos a par de tudo.


CEZAR: Está bem.. (desliga) o Joel solto… mas isso é um perigo…


Trilha: Sem escrúpulos - Eduarda Queiroz 


Corte | Externa. A câmera da um zoom na mata, e mostra Joel escondido.


Cena 05: Cemitério - Manhã - Interna. 


Trilha: Noite - Eduardo Queiroz 


A câmera mostra uma quantidade considerável de gente caminhando atrás do caixão, lamentando pela morte da jovem. Ocorre o enterro, e Suely chora copiosamente. A cena é de extrema tristeza. Transição para o Casarão Albuquerque.


ANTÔNIO: Que dia terrível. Minha cabeça está explodindo de dor. Você não gostaria de um calmante?


SUELY: Eu gostaria de ficar sozinha…


ANTÔNIO: Marcos, pega um calmante para sua mãe.


SUELY: Eu falei que gostaria de ficar sozinha! 


ANTÔNIO: E você ficará. Depois de tomar este calmante, toma. Você bebe, e descansa.


SUELY: Minha vontade era de ir junto com ela. Ela não poderia ir, quem deveria ir seria eu! Eu que não sirvo pra nada nesta vida.


MARCOS: Não diga isso, mãe.


ANTÔNIO: Suely, por favor, não é pra tanto.


SUELY: Saiam daqui, saiam! Eu não quero ficar na companhia de ninguém.


ANTÔNIO: Está bem. Vamos, Marcos. (Os dois se levantam, e sai)


Trilha: Noite - Eduardo Queiroz 


Suely segura o choro, resistindo. A câmera da zoom, e ela não aguenta, caindo em prantos.





Cena 06: Kitnet - Tarde - Externa/Interna.


Trilha: Don't Go Breaking My Heart - Elton John e Kiki Dee: A Câmera sobrevoa a região, mostrando o carro de mudanças levando as coisas de Carmen. Transição de cena para dentro da kitnet.


VILMA: Meu Deus, mas isso aqui é um cubículo.


CARMEN: Não murmure, Vilma, não murmure. Foi isso que deu até o momento. Só não sei até quando…


VILMA: O que a Helena fez não tem nome…


CARMEN: Tem, Vilma, tem nome sim. Vigarice!


Cena 07: Apartamento de Anabel - Tarde - Interna


JORGE: Selma, eu gostaria de falar com a Anabel.


SELMA: Jorge, Jorge, que papelão hein?


JORGE: Eu preciso conversar com a Anabel, Selma.


SELMA: Eu não sei se ela te receberá não, viu? Ela está inconsolável.


JORGE: Foi um equívoco, ela entendeu tudo errado. Eu vim aqui para tentar esclarecer as coisas 


SELMA: Olha, Jorge, eu gosto muito de você. Mas eu sinto muito, do jeito que a Anabel está ela não recebe nem o papa 


JORGE: Que situação… eu venho depois, está certo?


SELMA: Faça como preferir.


Cena 07: Apartamento de Cezar - Noite - Interna. 


Cezar está arrumando as malas, organizando tudo. Ele vai até a porta e abre, para colocar as malas lá fora. Ele lembra de pegar algo e entra. Helena entra.


HELENA: Para onde você está indo?


CEZAR: Para algum lugar. E o que você está fazendo aqui? Resolveu voltar, foi?


HELENA: Até parece que eu voltaria pra você. Só vim buscar o que restava das minhas coisas.


CEZAR: pegue logo, e adiante, porque já estou indo embora. (Helena sai)


um revólver dispara do lado de fora, e pega em Cezar, que cai morto no chão. 


Trilha: Na Trilha do Suspense - Sacha Amback 


HELENA: Cezar, não estou achando a minha bolsa… (ela vê o corpo morto) Meu Deus (grito)


Close em Helena, encerrando ao som de Your Song - Elton John.