AMOR INVENTADO - CAPÍTULO 05
ARGUMENTO DE TAÍS GRIMALDI
ESCRITA POR COLBY
CENA 1: APARTAMENTO DE REBECA/ SALA DE ESTAR/ INT/ NOITE
Rebeca - (impaciente) Será que vocês podem ir pro apartamento da Isabella?
André, molhando, patético, com o buquê na mão, entrega nas mãos de Isabella, que olha para ele com um misto de pena e constrangimento. Os dois ignoram Rebeca.
André - Me perdoa! Eu fiz tudo errado de novo. Volta pra casa, pra minha vida.
Algo mudou em Isabella, ela viu André pequeno.
Isabella - Eu tô confusa. (devolve as flores) Eu não sei se eu devo aceitar isso. Aliás, eu não sei se eu devo aceitar o seu pedido de desculpas.
André fica estarrecido. Rebeca demonstra satisfação.
André - (surpreso) Como?
Isabella - Eu não sei André (se afastando em fuga)
André - (indignado) Por quê?
Isabella - Não dá! Eu não quero conversar sobre isso, eu não quero te magoar… (firme, mas trêmula)
André - (confuso) Mas eu não entendo… Você que veio atrás de mim… Parecia até um capricho seu me querer por perto.
Isabella - É, mas agora eu mudei de ideia.
André - (desespero) Isabella… Por quê?
Silêncio. Rebeca com sorrisinho de canto.
Rebeca - (intervindo com certo sadismo) Cara, vai embora. Aceita. É melhor pra vocês dois.
André - Foi você, né? Ficou enchendo a cabeça dela contra mim com essa conversinha de psicóloga que não vale o preço que você cobra… Algum paciente seu já teve alta?
Rebeca - (risadinha nervosa) Filho da puta, ainda fala isso na minha casa! Eu não queria te humilhar não, até porque você já fez isso sozinho e com plateia. Se fosse por mim, a Isabella não olhava nem na sua cara, quanto mais te dado bola um dia… Porque insegurança e um homem medíocre a gente enxerga de longe… Agora sim, ela percebeu a pouca coisa que você é. Antes tarde que morta! Agora cai fora, porque ninguém quer ficar perto de um perdedor!
André - Isabella, cê vai deixar ela falar assim comigo??
Isabella não faz nada. André se decepciona, está quebrado, constrangido.
Rebeca - Ela concorda comigo… Mas não tem coragem de falar, porque dar um fora num panaca dá pena.
Entra a música The Winner Takes It All
O olhar de André cruza o de Isabella, que se omite. Quem cala consente. Ele abaixa a cabeça e vai embora. Rebeca fecha a porta e comemora.
Isabella - (aliviada) Ai, ainda bem que ele foi embora…
Rebeca - Como é que você pôde olhar pra esse cara e querer dar pra ele?
Isabella - Foto engana, né…
Rebeca - Agora que você já se libertou, Isa, eu preciso trabalhar, eu to atrasada, ainda preciso tomar banho, e ainda tem engarrafamento pra chegar no consultório… Vai pra sua casa, por favor! E dorme… Porque dormir se tornou um ato elitista!
CENA 2: ORLA/PRAIA/EXT/DIA
A música continua.
Sol a pino. André caminha cabisbaixo, com o buquê pendurado, sem entender a mudança repentina de Isabella.
Otto passa por ele correndo na orla, sem camisa, suado. André nem o percebe. Otto volta e toca no ombro dele, de surpresa.
Otto - (sorridente, vigoroso) André? Você aqui? Que milagre é esse?
André - (enigmático) Milagre não, maldição!
Otto - O médico que mandou? Eu te falei que o que te faltava era vitamina D e exercício físico, cara… (percebe o buquê na mão de André) Que isso?
André - (riso irônico e amargurado) Ram… Isso aqui é o meu coração, meus sentimentos… (joga na lata do lixo) É lá que eles foram parar.
Corte rápido para André e Otto num quiosque.
Otto - (pro atendente) Oh irmão… duas águas de coco.
André - Que água de coco o que, me traz uma cerveja!
Otto - Não escuta ele não, isso é dor de corno! Porra, André! 8 da manhã… Decadência tem limite.
André - Como que uma mulher muda assim? Em menos de 24 horas?
Otto - É meu amigo, ela cansou…
André - Mas como que ela pode ter se cansado de mim? Mesmo depois de separados, ela sempre teve ali, do meu lado, cuidando de mim.
Otto - É aí que tá o problema, ela virou a sua cuidadora, e só se cuida de velho e de criança, ela parou de te ver como homem pra te ver como fraco. Mas uma criança, não abandonada, um homem fraco sim.
André - Mas ela sempre gostou de mim do jeito que eu sou… Isso não é justo.
Otto - A vida é injusta, não adianta chorar… Que papelão que você passou, por que não me ligou antes? Eu teria poupado o mínimo de dignidade que te restava.
André - Eu gastei meu último centavo naquela porcaria, não tenho mais nada…
Otto - Você precisa de um trabalho, cara. Você não é o futuro cultural da nação. Tá na hora de baixar essa bola.
André - Me paga um cachorro quente?
Otto - Pago. Eu vou te dar o pão e você vai colocar a salsicha.
André fica confuso.
Otto - Você vai chegar em casa e pedir emprego pra todo mundo. É assim que você começa a recuperar a sua dignidade. Depois você vai pra uma academia e a gente vai correr no calçadão de manhã todos os dias. A Isabella com certeza encontrou conheceu algum galã de novela, e pra competir com o Rodrigo Santoro você precisa… Estar competitivo!
André - Você acha mesmo que ela tá interessada em alguém?
Otto - Se tá difícil pra você é porque tá fácil pra outro…
CENA 3: APARTAMENTO DE PAOLA/SALA/INT/DIA
O apartamento é amplo, sofisticado, com uma foto enorme da Paola emoldurada na parede principal. César está deitado no sofá, com as mãos sobre a barriga, olhando para o teto. Paola está ao lado dele, com a cabeça repousada sobre o punho fechado. Murmúrios.
César - Por que você parou de me amar?
Silêncio.
César - Por que você parou de me amar?
Paola - É sério isso, César?
César - Foi você que me deixou entrar. Você não suporta a própria solidão.
Paola - Talvez você tenha razão. Você só está aqui pra preencher um espaço vazio, embora eu não te suporte.
César - Em que momento você parou de me amar?
Paola - Você já me perguntou isso tantas vezes…
César - É que eu preciso saber!
Paola - Isso importa?
César - Claro que importa!
Paola - Agora não mais importa! Que diferença isso faz agora?
César - Eu preciso entender!
Paola - Você precisa aceitar… e superar!
César - (cínico) Como você superou o Marcelo?
Paola - Eu já falei que não quero falar sobre isso!
César - É a indisponibilidade que te agarra até hoje?
Paola - Eu nunca gostei de você como eu gostei do Marcelo.
César - Eu tinha amor pra nós dois… Eu sonhei. Eu imaginei. Eu fui feliz.
Paola - Não. Você foi inseguro. Você foi sufocante. Você foi desesperado. E eu só queria um ser humano normal do meu lado. Eu queria você e tive a farsa. Eu queria o mistério e te vi ansioso. Eu queria a leveza e você trouxe o peso. Você fez questão de parecer pequeno…
César - (levanta) Tá vendo! Eu sei que você sempre achou pequeno…
Paola - Você ainda não superou essa neurose com o tamanho?
César - Eu sempre tive medo que você pudesse encontrar maiores e melhores…
Paola - Quem não tem segurança no próprio taco, vai querer que eu te dê? Foi você mesmo que me fez te essa imagem de você!
César - Eu nunca te dei prazer, foi isso?
Paola - Ai, vai começar…
César - Me desculpa se eu tô te aborrecendo com isso, eu já perguntei tantas vezes, mas eu preciso saber. Eu me esforcei, eu era esforçado não era? … Fala! Não era?
Paola - É validação que você quer? Mas do que eu te dei quando éramos casados?
César - Me desculpa!
Paola - Para de pedir desculpas! Você é muito tenso! Duro! Acha que tá devendo, se concentra em todos os detalhes, menos em mim! Você não se entrega de verdade e vive de pedir desculpas, porque acha que tá fazendo errado o tempo inteiro. E sobre sexo, esse é o menor dos problemas… É só você relaxar, se preocupa mais com você do que com os outros, ou o que os outros vão achar, as vezes só dar prazer é uma forma de prazer. Você pergunta tudo, quer racionalizar tudo, se preocupa com tudo. PARA DE SER CHATO!
Silêncio constrangedor.
Paola - Eu já vi isso em algum filme… Desistiu do uber?
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